sábado, 20 de outubro de 2012

7. Without You Here


  

O caminho até a torre da Grifinória foi excepcionalmente longo. Ou sera que era o fato de Rony estar insuportavelmente satisfeito consigo mesmo que estava tornando a caminhada maior que o normal? Harry olhava fixamente para o chão. Ouvir Rony já não tinha sido duro o suficiente? Ele ainda tinha que aturar o bom humor do outro. Não que ele achasse que Rony estivesse errado. E esse era todo o problema. Mas ele tinha que descontar sua frustração em alguma coisa ou alguém. Se visse Rony sorrir de novo, tinha certeza de que o soco que ele achava que iria acontecer entre os dois, ia mudar de direção.
Os dois cruzavam os corredores do castelo indo em direção à Sala Comunal, onde o resto do time e dos colegas da Grifinória deviam estar comemorando a vitória contra a Lufa-lufa. Um grupo de alunas da Corvinal que passava por eles, se desmanchou em sorrisos para felicita-los pelo jogo. Os meninos que estavam com elas não pareceram gostar muito do cumprimento e puxaram as garotas pelos braços, enquanto Rony agradecia todo prosa aos elogios. Harry, porém, não se deu nem ao trabalho de responder. Preferia estar invisível, ou sumir, ou… de repente, enfrentar Voldemort parecia quase uma boa ideia. Certo, estava fazendo drama. Não, não estava. Estava era apavorado. Gina o AMAVA. Ela era tudo o que alguém podia querer e AMAVA a ele. Era grande demais. Uma palavra grande demais. E ele… ele não tinha a menor ideia de como lidar com aquilo. Por que as coisas não podiam ser mais simples? Por que ele tinha se aproximado dela, para começar? Tinha certeza de que se nunca tivesse encostado um dedo em Gina, tudo seria bem mais fácil. Ela não estaria em perigo. Ele não saberia como ela o amava. E tudo poderia ser facilmente controlado. Não seja idiota!” A voz que o xingava em sua cabeça tinha quase sempre o timbre de Hermione e argumentava, como ela, sem que ele pudesse retrucar. Como se o ano passado, quando você não tinha a menor ideia se ela ainda gostava de você, tivesse sido fácil. 
– HARRY! – A voz de Rony praticamente berrou ao seu lado.
Harry ergueu a cabeça. Rony levantava a ponta da tapeçaria que escondia a passagem secreta que eles usavam como atalho para a Sala Comunal, esperando que ele entrasse. Já devia estar chamando a sua atenção há algum tempo, pois o encarava com uma expressão levemente interrogativa.
– Onde é que você esta, heim?
Novamente a vontade de socar Rony comichando os dedos.
– Graças a você… no inferno – respondeu mal humorado.
Rony deu um sorrisinho contido.
– Não faz drama, Harry – disse pegando-o novamente pelo braço e o empurrando para a passagem. – Você ainda vai me agradecer por ter aberto os seus olhos.
Harry teve certeza que rosnou, mas Rony não lhe deu importância. Os dois seguiram pelo corredor da passagem secreta que saía do quarto andar e desembocava no corredor do sétimo piso, próximo ao retrato da Mulher Gorda. Harry e Rony já estavam quase na saída quando Harry sentiu sua mão ser envolvida por outra. Menor. Quente. Invisível. Estacou imediatamente com um suspiro de lamento. Não precisou nem de um segundo para deduzir que era Gina que o segurava, escondida sob a capa de invisibilidade. Definitivamente alguém lá em cima tinha algo realmente sério contra ele. Rony percebeu que ele tinha parado.
– Que foi?
– Vai indo na frente, Rony.
– Por quê?
Harry ergueu a cabeça e encarou o amigo.
– Apenas… vai indo!
Rony estreitou os olhos, confuso. Depois, como se algo tivesse caído sobre a sua cabeça, ele fez um gesto indignado.
– Você não se contém, não é garota? Acho que vou ter mesmo é que contar para a mamãe, sabia?
Harry sentiu Gina apertar com mais força a sua mão, mas ela não deu um pio. Rony, por outro lado, olhava lívido para o espaço vazio ao lado de Harry, mas apenas podia tentar adivinhar onde a irmã estava.
– Será que você não pode se comportar como uma garota decen…
– Rony! – Harry cortou. Já chegava. Ele já tinha tido o suficiente de Rony por uma noite. Fosse do amigo na forma usual ou bancando o maduro. Encarou o com irritação, mas, misericordiosamente, Rony pareceu entender o quê de súplica que Harry tinha no olhar. Afinal, depois de tudo que eles tinham conversado seria ridículo se Rony não confiasse no amigo.
– Ok – Rony bufou resignado. – Mas ainda acho que a mamãe não ia gostar de saber que você…
– Rony, por favor.
– Certo. Certo. Espero vocês na Sala Comunal – disse dirigindo-se para a tapeçaria que escondia o fim da passagem e saindo por ela com cara de poucos amigos.
Harry sentiu Gina puxá-lo em direção ao desvio fora do corredor principal da passagem secreta. O coração do rapaz tinha definitivamente se deslocado e estava batendo em um lugar próximo à boca do estômago. Ele provavelmente preferia estar diante de seu pior inimigo do que de Gina, naquele momento. Pelo menos, com o inimigo, ele saberia como agir.
– Por que não respondeu para o Rony? – Perguntou tentado desviar-se do próprio nervosismo. – Ele sabia que era você.
– Eu teria aparecido, se ele não tivesse voltado a ser o idiota de sempre e me ameaçado – a voz dela soou bem humorada de algum lugar a frente dele. Ela continuava a puxá-lo. – Ele vai contar o quê para a mamãe, agora? – Gina riu enquanto tirava a capa de invisibilidade de sobre si. Ela, provavelmente, tinha dado um jeito de surrupiá-la do dormitório dele. – O Rony não viu nada e também não ouviu nada. Quero vê-lo provar que eu estava aqui.
Harry não pode deixar de sorrir. Só não soube dizer direito se foi pela lógica marota da namorada ou pelo fato de que, mesmo com o cabelo todo fora do lugar, ela parecia linda. “Concentre-se, Potter! Divagar sobre o quanto você quer agarrá-la não vai melhorar em nada a sua situação.” Mas a decisão de conter-se também não parecia estar nos planos de Gina. A garota largou a capa no chão e jogou os braços em torno do pescoço dele.
– Eu não podia deixar de comemorar a vitória com você – os olhos dela brilhavam – nem que fosse só por uns minutinhos.
Harry a viu fechar os olhos e, com crescente pânico, o rosto dela ficar cada vez mais próximo do seu. Não era o momento de ficar tão perto de Gina. Harry precisava de um tempo. Tinha consciência disso, mas é claro que ela não. E ele não tinha a menor idéia de como diria isso para ela. A cabeça de Harry funcionava tão violentamente que ele nem chegou a perceber que estava estático. Mas Gina percebeu e se afastou um pouco.
– O que houve?
– Na… ham… nada!
Gina arqueou a sobrancelha.
– Você não está com cara de “nada”, Harry. – Ela tirou os braços da volta do seu pescoço fazendo Harry agradecer e praguejar ao mesmo tempo. Ela ia acabar ficando maluco. Tinha certeza. – Por que você e o Rony demoraram tanto? Aconteceu alguma coisa?
Harry olhou para trás como quem busca uma saída. Não havia. Que diabos as garotas têm que pescam tudo no ar? Ou será que era algo da Gina com ele. Não. Era algo próprio das mulheres. Hermione sempre fazia isso e ele também já vira a Sra. Weasley fazer. Ele pigarreou de novo, o que apenas pareceu confirmar, para Gina, que ela estava indo na direção certa.
– Gina… não aconteceu nada – ele evitou olhar para ela.
– O Rony te disse alguma coisa?
Harry engoliu o ar enquanto pensava no que responder, mas sua hesitação pareceu ser resposta suficiente para a garota.
– Eu vou matar o Rony! Será que é tão difícil para ele me ver feliz? – Mesmo na pouca luz da passagem era possível ver o rosto dela ardendo de indignação. – Espero que a Mione não seja muito apegada ao tamanho dele, porque eu pretendo devolvê-lo numa caixa de sapatos!
Gina fez menção de passar por ele como um raio, mas Harry a segurou.
– Gina fica calma! O Rony não disse nada demais.
– Nada demais? – Gina saltava de fúria presa pelos braços dele. – E você está com essa cara? Nem consegue me tocar… Eu imagino o que ele falou. – A voz dela tinha um tom tão magoado que fez Harry se sentir ainda pior. – Eu… ahhh quando eu pegar aquele… aquele infeliz, ele vai ver…
– Gina, para! – Ele a segurou pelos ombros e a fez olhar para ele. – O Rony não falou nada… nada… – Como ele ia dizer aquilo? – Nada que não fosse para o seu bem.
– A idéia que eu e o Rony temos sobre o que é “meu bem” parece ser bem diferente!
Harry respirou fundo, mas continuou segurando-a.
– Ele não quer que você sofra, Gi.
– Que ótimo! – Gina retrucou sarcástica. – Se ele deixa você distante desse jeito quando não quer que eu sofra… Imagina quando ele quiser, não é? Com um irmão desses, quem precisa de inimigos?
– Eu estou falando sério, Gina. O Rony só… – ele realmente não tinha como dizer aquilo para ela – sério, não foi nada ruim. Eu é que preciso de um tempo para pensar… para não meter os pés pelas mãos, ok?
Gina parou definitivamente de tentar sair do lugar onde ele a tinha segurado.
– Quer dizer…
– Gina… eu não quero… não quero pisar na bola com você, ok? – Harry tirou as mãos dos ombros dela e deixou os braços caírem ao lado do corpo, derrotado. – Eu não me perdoaria se te magoasse.
Ela cruzou os braços sobre o peito e o encarou.
– Afinal, do que foi que vocês falaram?
– Não foi o que a gente falou… – parecia que quanto mais ele tentava sair daquele buraco, mais ele afundava. – Foi… o que eu comecei a pensar. Eu… Gina… Você merece mais do que eu posso te oferecer, muito mais.
– Do que você está falando?
– Disso – Harry fez um gesto irritado mostrando o lugar em que estavam escondidos. – Você precisa de alguém possa estar em público com você. Que não tenha que ficar se escondendo ou a pondo em perigo. Precisa de alguém que possa mostrá-la, que possa exibi-la para que todos morram de inveja por você estar com ele…
– Quem disse que eu quero isso? – Gina o olhava chocada.
Harry passou a mão pelos cabelos, num gesto nervoso e triste.
– Não disse que é o que você quer. Disse que é o que você merece.
– Eu mereço estar com quem eu gosto – a voz dela saiu firme e obstinada.
– Admita, Gina! Que futuro você pode ter comigo? – Ela fez um movimento, mas Harry não a deixou falar. – Sei que não estamos falando disso, mas… pombas, Gina, eu posso estar morto amanhã!
– Eu também!
– Não diz uma coisa dessas nem brincando!
– Se isso é verdade para você, é para mim também!
– Não se eu puder evitar!
Os dois estavam quase gritando quando pararam enfrentando um ao outro. Gina segurou o olhar por uns instantes antes de perguntar com a mesma voz firme e teimosa.
– Vai terminar comigo de novo?
– Não… – Perder Gina mais uma vez, não. Harry não queria magoar ela de novo e… para quem ele estava mentindo? Não agüentaria ficar sem ela novamente. Ele podia não ter certeza do tamanho do sentia por ela, mas a simples idéia não ter Gina por perto… Não. Definitivamente não. – Não quero terminar com você, Gi. Eu só quero… eu preciso pensar.
Gina parecia um pouco mais calma, mas continuou com os braços cruzados, como se o analisasse.
– Já disse que você pensa demais.
Harry sorriu sem graça e fugiu dos olhos dela outra vez.
– Nenhum de nós dois tem pensado muito nos últimos tempos.
Gina bufou impaciente.
– Eu tinha certeza que ia chegar nisso. Qual é o problema, afinal? O Rony?
– Gina… – Harry enfiou mãos nos bolsos. Preferia mentir para ela que o problema era só o Rony, mas não era. E ele também não achava que fosse conseguir mentir. Não com Gina o esquadrinhando daquele jeito, com os olhos atentos como faróis. – O problema é muito mais que o Rony, ou seus outros irmãos, ou a confiança que os seus pais têm em mim…
– Harry, eu não sou criança! Você é meu namorado, nós nos gostamos. Qual é o mal?
“Você me ama de verdade, eu não sei se te mereço e estou completamente apavorado com isso”. Certo, essa provavelmente não era a melhor resposta. O fato é que Gina não estava nos seus planos. Ela simplesmente tinha entrado na sua vida modificando tudo e ocupando muito mais espaço do que ele era capaz de lidar. E, mesmo sabendo de tudo o que estava arriscando, ele se desesperava com a possibilidade de ter de abrir mão dela novamente. Gina tinha se tornado seu consolo e sua força. Mas, ao mesmo tempo, ela parecia ser muito… muito para o cara complicado que ele tinha se tornado. Talvez, há alguns anos atrás fosse diferente. Ergueu os olhos para ela.
– Eu… quero fazer as coisas direito, Gina.
– Eu nunca achei que você fizesse algo errado – Gina lhe dirigiu um sorriso malicioso e Harry não pode evitar ficar vermelho.
– Você não vai facilitar para mim, não é?
– O que você chama de facilitar, Harry? Não quer que eu chegue perto de você e não quer terminar comigo. Convenhamos, você é que não está facilitando as coisas. – Ela não deixou que ele a interrompesse. – Você quer pensar na sua conversa com o Rony? Tudo bem. Eu deixo. Em troca… você vai ser um namorado bem compreensivo e vai me deixar afogar o Rony no lago. Que tal?
Harry não conseguiu conter uma gargalhada.
– Eu… – começou a falar quando conseguiu parar de rir – você merecia alguém melhor que eu, Gina. Sério. Seus irmãos têm razão quando marcam em cima. Você merecia ter… o melhor cara do mundo.
Gina ergueu as sobrancelhas e fez uma careta engraçada. Depois começou a andar em direção a ele de um jeito que o deixou absolutamente acuado. Ao mesmo tempo em que Harry mal conseguia puxar o ar para dentro dos pulmões enquanto ela se aproximava decidida, ele também não conseguia sair do lugar ou parar de olhar para ela. Gina chegou bem perto e foi encostando o corpo no dele bem devagar, sem pressa, sem tirar os olhos dos olhos dele. Foi passando as mãos em torno da sua cintura, por dentro da curva que os braços, cujas mãos ele mantinha cravadas nos bolsos, deixavam. Harry mal percebeu que, ao invés de impedir o que Gina pretendia, ele já estava baixando a cabeça ao encontro dela. Estava deixando que o cheiro de Gina o entorpecesse, ficando mais próximo de tudo o que o cérebro dele dizia ser correto ficar longe. O resto do mundo sumia quando Gina ficava tão próxima e, para o desespero e felicidade de Harry, ela sabia disso.
Gina continuou o movimento até que os corpos dos dois estivessem completamente colados e Harry praticamente sem respirar. Os olhos grudados nos lábios dela como se tivessem imãs.
– Gi… – foi tudo o que ele conseguiu dizer, embora não tenha sido mais que um sussurro ou talvez um gemido, antes que Gina começasse a roçar a boca na dele.
Ela continuava a parecer não ter nenhuma pressa. Estava disposta a ficar apenas provocando, até que Harry perdesse a cabeça e reagisse. Coisa que, de fato, não demorou muito. As mãos dele saltaram para fora dos bolsos e antes que ele pudesse sequer pensar em evitar, já tinha mandado ao diabo qualquer coisa coerente que pudesse impedi-lo de mergulhar nos lábios de Gina. Lugar de onde ele não queria nem faria qualquer esforço para voltar. Harry puxou os braços dela para a volta do seu pescoço e a apertou mais contra si. Nem deu atenção ao sorriso triunfante que sentiu se formar nos lábios de Gina. Já fazia um dia que ele não a beijava e estava morrendo de saudade.
Sem saber como, em segundos, Harry a tinha prensado contra uma parede. Uma das mãos imersa nos cabelos dela e a outra fazendo o caminho já conhecido sob a blusa, explorando a pele já arrepiada das costas. Foi a vez dele sorrir. Era bom saber que causava em Gina o mesmo efeito que ela tinha sobre ele. Mais uma vez, as coisas estavam muito próximas de saírem do controle, mas também a mente de Harry estava completamente vazia e não havia nada lá com a menor chance de barrá-lo. Talvez, tenha sido por isso que ele soltou um gemido de frustração quando sentiu Gina o empurrar suavemente para longe dela e sair do meio dos seus braços. Ela caminhou até a capa, caída no chão, ergueu-a e voltou-se para ele com uma expressão de criança travessa.
– Eu já tentei ficar com o melhor cara do mundo, sabe? – Harry arqueou a sobrancelha. – Mas ele não beija tão bem quanto você.
Gina fez um movimento rápido e jogou a capa sobre si, mas Harry deu um salto e a segurou antes que ela sumisse por completo, rindo da última frase.
– Hei! – Ela também ria. – Você não queria um tempo? Não queria pensar? Eu não faço o tipo grudenta, sabe?
Harry puxou a capa de cima dela. Será que Gina tinha idéia de quanto aquele jeito dela o fascinava.
– Pelo visto… eu faço. – Olhou-a com intensidade. – Se importa?
– Não mesmo.
Harry usou a capa para prendê-la junto a ele e voltou a beijá-la. Não podia nem lembrar do que o havia deixado com tanto medo. Gina estava certa. Eles mereciam ficar com quem gostavam. E beijando-a ele só sabia que isso era a coisa mais certa que ele podia fazer.
– Harry… estão nos esperando. – Ele a apertou mais. “E daí?”. – Devem estar perguntando pela gente. – Calou-a com outro beijo. “Que perguntem!” – Harry… vão desconfiar.
Palavra mágica. Desconfiar significava colocar Gina em perigo. Ele se afastou e se encostou na parede buscando um controle que estava longe de sentir.
– Certo… – respirou fundo. – Como voltamos?
– Você “ainda” não voltou, Harry? E eu “estou no meu dormitório”, “tomando banho”. Entro na Sala escondida, vou até a escada, tiro a capa e desço para o Salão.
– ‘Tá! – Ele concordou. – Preciso de uma desculpa.
– Se perguntarem, fale qualquer coisa sobre Madame Pomfrey… – Gina fez um gesto vago. – Ninguém vai contestar.
Harry assentiu e com um profundo suspiro ergueu as costas da parede, pronto para voltar para a Sala Comunal.
– E a sua conversa com o Rony? – A voz dela parecia um pouco insegura.
Harry esticou o braço e deslizou os dedos pelo rosto dela.
– Não se preocupe. Acho que o Rony… assim como eu, vai ter que se acostumar com algumas coisas.
Gina não pareceu entender, mas Harry sabia que não era o momento de explicar. Deu um sorriso e beijou-a novamente antes de jogar a capa por cima dela. Os dois saíram da passagem de mãos dadas e só se soltaram quando passaram pelo buraco do retrato. Harry foi imediatamente cercado pelos torcedores, todos queriam cumprimentá-lo e alguns saber o porquê dele ter demorado tanto para voltar para a torre. Ele se limitou a agradecer e repetir a desculpa que armara com Gina. Não sabia para onde a namorada tinha ido, mas desconfiou quando viu Romilda Vane, que corria em sua direção tropeçar no vazio e cair um tombo espetacular na sala. Segurou o riso e desviou dos cumprimentos o mais rápido que pode indo em direção à lareira, perto de onde Rony e Mione estavam sentados. Ele não tinha chegado até os amigos quando viu Gina descer as escadas com a cara mais inocente do mundo.
Harry pegou uma garrafa de cerveja amanteigada que estava sobre a mesa e se jogou sobre o sofá ao lado dos dois amigos. Hermione estava com um livro aberto sobre o colo e o lia muito concentrada, apesar da algazarra a sua volta. Rony olhava fixamente para as chamas da lareira, uma garrafa pendendo das mãos e o maxilar duríssimo. Harry passou os olhos de um para o outro, sentindo o clima pesado.
– Tudo bem?
– Perfeito! – Respondeu Hermione sem levantar os olhos do livro.
Harry sondou Rony, mas ele não se manifestou.
– Vocês brigaram?
Hermione folheou o livro com fúria e soltou um bufo. Rony lançou um olhar magoado para ela e tomou um gole da bebida.
– É… brigaram – concluiu Harry desanimado. – Vocês não cansam, não?
– Pergunta para a “sua” amiga? – Rosnou Rony. – Parece que ela é que não cansa de ficar me dizendo o quanto eu sou errado. Não sei por que ela insiste em namorar comigo.
– O que foi que você fez? – Perguntou Harry, meio sem saber o que dizer.
Rony não gostou da pergunta e o olhou como se estivesse prestes a pular no seu pescoço.
– Mione? –Tentou Harry.
A garota fechou o livro com violência.
– Eu pensei… – disse ela, a voz cuidadosamente contida – que tínhamos combinado que o Rony não ia ficar enchendo a sua cabeça… mas não… O irmão ciumento tinha que colocar as manguinhas de fora, não é? Tinha que se meter. Onde já se viu perguntar se… se você gostava da irmã dele ou se só queria…?
– Já disse que não foi isso! Eu tentei falar do seu jeito, tá? – Rony ergueu a voz e Hermione olhou para o outro lado cruzando os braços, não parecendo convencida.
Harry olhou para Rony, tentando entender a raiva da amiga.
– Você contou para ela o que a gente conversou?
– O pedaço que ela deixou… – ele se virou para a namorada, magoado – antes de começar a sibilar como um caldeirão furado!
Hermione lhe lançou um olhar frio e virou-se para Harry, baixando a voz o mais que podia.
– Como foi a conversa com a Gina, Harry?
Harry ergueu os ombros e respondeu com sinceridade.
– Ótima!
Rony e Hermione, mesmo brigados, trocaram um olhar incrédulo.
– Depois do que a gente conversou?
– É – repetiu Hermione – depois do que vocês conversaram?
– Umhum – Harry confirmou e não pode deixar de rir das caras surpresas dos amigos. – Mione, o Rony falou coisas duras, mas nada que eu não precisasse ouvir, ok? Se você ouvir tudo o que ele me disse, vai ficar orgulhosa dele. Tenho certeza! – A garota pareceu ficar meio constrangida.
– Bem… Rony me disse que ia colocar você contra a parede e… Eu disse que ele tinha que ter mais tato, porque afinal vocês são amigos e ele não podia chegar… sabe? Interferindo.
– O Rony não fez isso.
– É… eu não fiz. – Repetiu o ruivo, magoado.
Hermione começou a torcer as mãos sobre o colo.
– Ele disse que você tinha ficado péssimo.
Harry sorriu.
– Fiquei.
– E agora está felizinho demais! – Comentou Rony, olhando-o desconfiado. – O que houve?
Harry olhou para trás e viu Gina rindo num grupo grande de amigos e colegas. Pelo menos dois outros caras a olhavam cheios de esperança. Harry identificava facilmente as atenções de Dino Thomas e Juca Slooper para com Gina, e também a classe com que ela os dispensava. Quase sentia pena dos colegas. Era dele que Gina gostava. Sorriu. Não. Ela o amava. E provavelmente os dois colegas ainda estavam longe de entender o que era isso. Ele também não entendia… até a alguns minutos atrás. Voltou a virar-se para Rony e Hermione, que esperavam uma resposta.
– Eu conto, se você, Mione, prometer que vai ouvir o Rony.
Hermione abriu a boca, mas não falou. Os olhos cruzaram com os do namorado e ela percebeu que tinha sido precipitada. Confirmou com a cabeça e colocou o livro que estava sobre o colo cuidadosamente na mesinha ao lado do sofá. Meio sem graça, ela ficou um pouco mais perto de Rony, mas este continuou olhando para Harry. Talvez, se ela tivesse visto a expressão presunçosa do namorado tivesse se mostrado menos arrependida. Mas somente Harry viu e ele sabia que o amigo ia achar um jeito de descontar a briga a seu favor. Engoliu o riso e negou brevemente com a cabeça.
– E aí? – Inquiriu Rony.
– Nada demais – respondeu Harry com calma. – Nós conversamos, só!
– ‘Tá! E eu sou o próximo Ministro da Magia – falou Rony com sarcasmo.
– Deixemos assim “cunhado” – Harry frizou a palavra propositalmente – acho que você vai ter de se acostumar com algumas coisas.
Rony abriu a boca e virou-se rápido para Hermione, como quem pede interferência, ajuda ou explicação, mas a menina apenas sorria exultante.
– O que quer dizer?
– O que eu disse – Harry aproximou a cabeça dos dois. – A Gina, para mim, Rony, não é mais a sua irmã. – Ele sentiu a voz vibrar. – Ela é a minha garota. A minha mulher… – Harry colocou a mão sobre o ombro do amigo. – Acho melhor você se acostumar com isso.
O Rony levou uns minutos para reagir. Mas, num gesto bem seu, ele acabou puxando Harry para um abraço bruto e lhe dando uns cascudos. Hermione saltava no sofá e ria.
– Não bate nele, Rony.
Rony o largou, rindo.
– Certo – falou satisfeito, enquanto passava o braço em torno dos ombros de Hermione, já completamente esquecido da briga dos dois – mas eu prefiro ser poupado de cenas como a de ontem, tá?
– Tudo bem – respondeu Harry, dando de ombros – aprenda a bater nas portas antes de entrar.
Rony tentou uma nova saraivada de cascudos, mas Harry desviou rindo tanto quanto Hermione, que tentava segurar a falsa fúria do namorado. Quando o amigo finalmente desistiu, Harry se jogou na sua poltrona favorita, ao lado da lareira, deixando que Rony e Mione se esparramassem no sofá enquanto faziam as pazes. Não demorou muito para que seus olhos encontrassem os de Gina. E, mesmo que os dois tentassem evitar, isso acabou se repetindo muitas vezes naquela noite. E, em todas elas, os dois não puderam impedir a si mesmos de sorrir. Harry não conseguia abandonar o pensamento que lhe ocorrera na passagem secreta quando Gina estava em seus braços. Se Dumbledore estava certo. Se, era a sua capacidade de sentir amor o que podia derrotar finalmente Voldemort. Harry não tinha a menor idéia de como, mas… (à sua frente, Gina mexeu no cabelo e sorriu novamente para ele, Harry respirou fundo, sentindo o coração tomar todo o espaço no seu peito.) Ele tinha a impressão que o cara-de-cobra não ia ter a menor chance.
Fim

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