quinta-feira, 25 de outubro de 2012

26. Dia das Bruxas


Naquela noite Harry não dormiu em sua cama no dormitório masculino do 7° Ano, mas para deleite de Rony e infelicidade do moreno, por ter passado a noite em claro no salão comunal tentando entender o que dera errado no “plano perfeito” que seu padrinho traçara. Já havia visto e revisto tudo umas mil vezes e a conclusão que chegara era a de que o plano não era tão perfeito assim.
Mas ele não ia desistir. Sabia que aquela ruiva era mais teimosa que uma mula quando queria, então ele não ia se dar por vencido. Provavelmente assim que ela acordasse, a raiva já teria dado lugar à saudade e ela viria correndo para os seus braços. Tá talvez ela não corresse, nem ao menos saltitasse. Ele ficaria satisfeito se ela o perdoasse logo. Já estava com saudades de Gina, de seu cheiro, de seus beijos, do calor de sue corpo… Ouviu os passos na escada e rezou para que dessa vez fosse ela. Armou seu sorriso mais charmoso e esperou. Suas esperanças se esvaíram pelo ralo e seu sorriso foi morrendo à medida que ele tomava consciência da expressão dura no rosto de Gina.
- Gi, a gente pode conversar?
- Agora não dá, Potter. Eu vou gastar meu “precioso tempo” terminando meu trabalho de aritmância que eu não consegui terminar ontem.
- Gina, me desculpa. РEla lan̤ou um olhar ṭo frio que Harry tremeu.
- Talvez depois, Harry. Agora eu ainda estou muito magoada pra isso.
Gina saiu rumo á biblioteca deixando para trás um Harry bastante desconsolado. Rony e Hermione apareceram logo em seguida e tentaram a todo custo animar um pouco o moreno. Rony chegou a dar algumas sugestões de como o amigo deveria agir para se reconciliar com sua irmã, mas parou assim que Hermione interviu dizendo que se alguma vez eles brigassem e ele fizesse alguma daquelas coisas o mais provável era que ele não a visse mais pelo resto da vida. Harry decidiu que ia agir a seu modo, o que significava esperar e ficar quieto até algum milagre acontecer ou sua paciência acabar e ele ficar esbravejando aos quatro ventos até que Gina resolvesse o perdoar.
Tendo vista que milagres geralmente não ocorrem quando esperamos, a paciência de Harry terminou antes. Na verdade nem demorou tanto, naquela noite ele já estava soltando fogo pelas ventas. Ainda mais quando, ao chegar da aula de herbologia todo sujo e molhado devido ao temporal que resolvera cair assim que eles saíram das estufas, ele viu Gina rindo à valer de alguma coisa que Dino Thomas estava falando. Hermione ficou aliviada quando o amigo, após guardar seu material e se trocar, saiu rapidamente para seu treino com Lupin e Gui que agora ficara ainda mais freqüente, ainda mais quando a ruiva resolveu descer junto com o ex-namorado para o jantar.
Apesar de até Rony perceber que Gina estava apenas aturando a conversa de Dino para fazer ciúmes para Harry, este ficou a ponto de explodir quando a viu sentada ao lado dele. Enfiou alguns pedaços de carne que engoliu de teimoso para não dar a ruiva o prazer de vê-lo sem comer por causa dela e subiu bufando para a torre da grifinória onde ficou andando de um lado pro outro até que viu-os entrar e então sentou-se na sua poltrona habitual e fingiu fazer os deveres.
Rony e Hermione se entreolharam e sorriram cúmplices. Aqueles dois eram pior que eles mesmos quando teimavam com alguma coisa. Hermione revirou os olhos, enquanto fazia sua redação pra DCAT, ao ouvir Harry resmungar em sussurros audíveis, imprecações contra o colega de dormitório que ele agora chamava de “aproveitador”. Rony sentiu que o tempo ia esquentar quando viu Gina se aproximando sorridente da mesa onde estavam e se dirigir à Hermione.
- Mione, me empresta aquele livro de Runas? РA ruiva fez quesṭo de ignorar o moreno, apesar de sentir o olhar dele queimando sua pele.
- Voc̻ vai passar a noite inteira ao lado do Thomas? РHarry perguntou entredentes. Os olhos verdes faiscando.
- Empresto sim. Voc̻ vai querer ele agora? РHermione tentou, mas sabia que a discusṣo ia come̤ar assim que os olhos castanhos de Gina semi-cerraram e ela encarou Harry.
- Eu só estou fazendo o que você mandou, Potter. – Os lábios dela se curvaram num sorriso sarcástico enquanto ele a olhava aturdido.
- Como assim? РRony abaixou a cabe̤a imaginando como de repente Harry ficara ṭo lerdo.
- Foi você que disse pra eu não perder meu tempo precioso com você, então…
A ruiva se virou para voltar para perto da lareira, o livro de Runas esquecido em meio à discussão, mas Harry foi mais rápido e levantou-se segurando o braço de Gina.
- Vai marcar esse tamb̩m? РEla mostrou o outro bra̤o que ele agarrara na noite anterior e que ainda mostrava uma leve marca vermelha.
- Gina, me desculpe tá legal! Eu fui um trasgo arrogante, um jumento sem cérebro. – Hermione prendeu o riso ao ouvir o amigo se humilhar, pois o assunto era importante demais pra ele. – Mas eu te amo e eu só queria ficar com você enquanto eu posso. Por favor, me perdoa.
Gina sentiu seu coração falhar uma batida ao ver a dor perpassar os olhos verdes que tanto amava. Sua vontade era de se jogar nos braços dele e não largá-lo tão cedo. Tinha saudades de senti-lo junto a si, do calor de seu corpo de seu cheiro… Piscou várias vezes até sentir que seu coração não comandaria seus atos e sim seu cérebro. Puxou o braço com força e respondeu simplesmente.
- Eu ainda estou magoada. РVirou-se pra Hermione e completou. РVoc̻ poderia me emprestar o livro agora?
Hermione seguiu a amiga até o dormitório, tratando antes de murmurar para Harry que ia conversar com Gina. O amigo parecia que tinha sido atropelado por uma manada de hipogrifos e Rony tinha a aparência de estar muito orgulhoso da atitude da irmã. Garotos!
—–
No dia seguinte Harry parecia menos desanimado do que no final da noite anterior e mais determinado. Tinha colocado na cabeça que se fosse persistente ia conseguir o perdão de Gina e por conta disso esperou-a descer para o café e tentou acompanhá-la, o que conseguiu somente quando Rony, Hermione e Neville também desceram.
Durante a aula de feitiços, Hermione precisou repetir mais vezes do que gostaria, toda e detalhadamente a conversa que tivera com a ruiva sobre a briga entre ela e Harry, seus motivos para não perdoá-lo – ele ainda não entendia como o fato de agarrá-la cada vez que ela tentava conversar podia ser importante – e o que ela andara conversando com Dino Thomas na noite anterior, principalmente a parte em que Gina denominava a conversa do ex de entediante.
Depois da última aula do dia, Harry achou que teria oportunidade de tentar novamente se entender com Gina após o último treino de quadribol que teriam antes do jogo no dia seguinte contra a Lufa-lufa. Mas a ruiva voltou para o castelo tão logo descera da vassoura e apesar de Rony afirmar que para eles se acertarem era só uma questão de tempo e talvez dele deixar que ela o azarasse umas duas vezes, o moreno começou a ficar desesperado. Talvez porque seu monstro particular ameaçasse revirar suas entranhas cada vez mais forte à medida que continuasse sem por as mãos em Gina.
O sábado, véspera do dia das bruxas, chegou e com ele o primeiro jogo do campeonato intercasas de quadribol. Normalmente Harry ficava eufórico com a iminência da partida. Mas para ele, assim como fora o embate final no ano anterior, do qual não pudera participar, o sucesso na partida representava grande parte de suas chances de reconquistar Gina. Imagens dela extasiada com a grande partida da Grifinória e o perdoando com um grande beijo enquanto iam para a sala precisa, ou repetindo o gesto do primeiro beijo deles durante a comemoração no salão comunal antes de saírem para a sala precisa. Ou ainda, Rony eufórico com o fato de ter defendido todos os cinqüenta ataques da Lufa-lufa, forçando-os a ficar na sala precisa até que se entendessem. Harry não pôde deixar de sorrir ao perceber que qualquer que fosse seu “sonho”, este sempre terminava na sala precisa.
Quando Harry entrou no vestiário antes da partida, percebeu que o maior adversário era o vento. Pior que o vento só o fato de Gina ter desejado bom jogo a Dino Thomas com um beijo no rosto enquanto pra ele só restou um “boa sorte, capitão”. Provavelmente o fato de querer ganhar a partida tenha motivado Harry a desempenhar uma de suas melhores partidas, ou talvez tenha sido só o fato de querer ser o melhor e desbancar o Thomas perante os olhos de Gina.
No final a Grifinória ganhou a partida contra a Lufa-lufa com perfeitos 200 a 0 e Harry desejava a todo custo que Gina estivesse feliz o suficiente para perdoá-lo e assim o dia ficar maravilhoso. Assim que desceu da vassoura foi logo rodeado por seus companheiros de casa, mas sua atenção era somente para a ruiva que voltava para o chão com graciosidade a alguns metros. Seu monstro urrou de antecipação quando a viu se virar com um enorme sorriso no rosto e andar alguns passos em sua direção, os olhos castanhos e os verdes num contato constante. Harry imediatamente se desvencilhou das pessoas que estavam à sua volta e foi ao encontro dela, porém se sentiu murchar quando percebeu que num conflito interno (ela sempre mordia os lábios quando tinha que decidir algo importante) o sorriso se desfez e ela fez menção de voltar para o castelo. Com o alvoroço ao seu redor, ele não teve outra opção a não ser gritar fazendo-a parar assim que o ouviu.
- EU SEI QUE EU SOU UM IDIOTA INSENSÍVEL, UM TRASGO DESMIOLADO, MAS EU TE AMO! O QUE EU PRECISO FAZER PRA VOCÊ ME PERDOAR?
Gina olhou em volta e percebeu que todas as pessoas tinham parado e agora observavam atentos. Mesmo sentindo suas faces arderem, lançou um sorriso maroto em direção a Harry que a olhava ansioso.
- Nada.
- Nada? – Ele perguntou enquanto ela se aproximava.
- É, nada. Porque você já fez. – Harry sentiu novamente o ar entrar em seus pulmões e falou baixo para que agora somente ela escutasse.
- Isso quer dizer o que eu penso que quer dizer?
- Harry, eu já falei que você pensa demais.
- Droga! – Exclamou indignado enquanto olhava para a boca rosada dela.
- O que foi?
- Eu estou louco pra te agarrar, mas não vou dar o prazer do Rony e principalmente do Gui terem um motivo real para me azararem. – eles agora estavam tão próximos que seus corpos estavam praticamente colados.
- Então porque você não me mostra de novo a sala precisa do mesmo jeito daquele dia?
- Excelente idéia.
- O que ̩ uma excelente id̩ia? РGui perguntou impedindo o casal de sair do lugar.
Harry olhou de Gina para o cunhado sem saber ao certo o que dizer. Certamente se falasse a verdade, ou mesmo parte dela, ele não teria que se preocupar em enfrentar Voldemort, Gui cuidaria dele ali mesmo. Foi com alívio que ouviu a namorada responder de um jeito calmo e direto que ninguém seria capaz de afirmar que estava mentindo.
- Comemorar a vitória com uma festança no salão comunal.
- Ótima idéia, Gininha. Vamos. – A ruiva franziu o cenho ao ouvir o detestável apelido, mas nem conseguiu retrucar ao ouvir Harry perguntar entre incrédulo e desesperado.
- Você vai?
- Claro. É a minha primeira vitória como diretor da Grifinória. Não posso perder essa festa por nada!
Harry sentiu que seu sorriso amarelo o denunciava, mas foi o melhor que conseguiu fazer ao perceber seu monstro voltar a berrar e espernear dentro de si. Mas seria somente por mais algum tempo, então depois…
- Sabe, existem muitas vantagens em ser o diretor da casa. – Gui continuou falando de um jeito despreocupado enquanto caminhava ao lado de Harry e Gina. – Posso participar das festas, torcer descaradamente nos jogos de quadribol, entrar a qualquer hora no salão comunal e inclusive verificar os dormitórios no meio da noite.
O casal se entreolhou discretamente. Rony e Hermione que vinham logo atrás também trocaram um olhar cheio de significados. Essa ameaça velada do cunhado podia atrapalhar os planos de muita gente. Mas Harry não ia se preocupar com isso naquela hora. Só de pensar que poderia novamente desfrutar do calor do corpo de Gina, se sentia ainda mais audacioso.
——
A festa na torre da Grifinória foi animada como sempre. Os elfos domésticos de Hogwarts – para o grande desgosto de Hermione – providenciaram bastante cerveja amanteigada e guloseimas que eram constantemente renovados. Harry e Gina que passaram o tempo todo somente de mãos dadas (ele tinha medo de não conseguir se controlar se fizesse algo mais) já estavam a ponto de se agarrarem ali mesmo em frente à lareira quando Gui resolveu ir para seus aposentos, dando sua vigília por encerrada. Gina simulou um bocejo e alegando um cansaço que estava longe de sentir se despediu de todos e subiu. Passado alguns instantes Harry disse que ainda estava muito agitado e ia dar uma volta. Rony, apesar do olhar duro e das orelhas vermelhas, não disse nenhuma palavra o que deixou Hermione intrigada.
- O que houve?
- Ele deu a capa de invisibilidade pra ela. – Murmurou irritado.
- Como assim, Rony?
- Eu vi. – o ruivo se levantou e se encaminhou para a janela ficando a observar os jardins, sendo seguido por Hermione que o abraçou por trás. – Naquela hora que ele foi guardar a Firebolt ele trouxe e entregou à Gina.
- Isso explica. РFalou aspirando o perfume natural de Rony enquanto apoiava os bra̤os nos dela que o rodeava.
- Explica o quê, Hermione?
- O fato dela ter ficado com sono tão cedo.
- O sono dela ̩ o que menos me preocupa. РEle a trouxe para a sua frente, abra̤ando-a e fazendo com que ela o encarasse.
- Voc̻ ṇo vai come̤ar de novo, vai? РPassou a ṃo macia pelo rosto do namorado que automaticamente fechou os olhos.
- Eu fiquei quieto, não fiquei? – Beijou a palma da mão de Hermione que sorriu. – Eu poderia dizer que tinha sacado os planos deles e não falei nada. Mas isso não impede que eu não me sinta confortável com essa situação.
- É compreensível. – Hermione o enlaçou pelo pescoço e com um sorriso discreto nos lábios, que Rony classificava como sedutor, perguntou. – E o que te deixaria confortável, hein Ron?
- Não sei… – Sussurrou em seu ouvido a deixando em brasas. – Tinha pensado em irmos para a sala precisa, mas ela já deve estar ocupada nesse momento.
Hermione sentiu suas pernas bambearem na medida que Rony passava as mãos por suas costas, numa carícia discreta e sensual. Também não a ajudava a raciocinar, o fato dele estar mordiscando sua orelha, porém ela juntou as últimas forças antes de cometer uma séria indiscrição na frente dos vários alunos que ainda comemoravam o resultado da partida, e disse num fio de voz.
- Acho que deixei um livro importante na sala da monitoria. – Os olhos azuis brilharam.
- Uhm. Eu acho aquele sofá que tem lá muito confortável.
- Eu também. O livro deve estar sobre ele.
- Hermione, Hermione cadê aquela garota certinha que eu conheci? – Ela riu enquanto ele a puxava discretamente para fora do salão comunal e iam em passos rápidos “buscar o livro”.
——
Harry saiu pelo retrato da mulher gorda ignorando os comentários que ela fazia sobre não se poder mais conversar em paz com o quadro ao lado. Controlou os passos para não andar rápido demais até que sentiu o perfume floral de Gina, que o deixava nas nuvens. Chegou em frente à tapeçaria de Barnabás e percorreu o trajeto necessário para que a porta aparecesse. Abriu a porta e esperou até que sentiu que Gina tinha entrado para fazê-lo.
A sala estava quase igual a que ele tinha desejado para pedir desculpas para a garota. O chão coberto de flores e o céu estrelado. A única diferença era uma banheira antiga no meio do jardim com água tépida e uma boa quantidade de espuma.
- Naquele dia não tinha isso. – Gina falou após tirar a capa, se aproximando.
Harry ficou um pouco corado antes de olhá-la e dizer:
- Naquele dia a gente não tinha saído direto de um jogo de quadribol para uma festa sem direito a parar no vestiário… Pensei que você pudesse gostar.
- E acertou. Um banho de banheira ̩ tudo que a gente precisa. РOlhou-o diretamente.
- Tudo? РEle a abra̤ou.
- Certo, nem tudo. Mas podemos começar por aí.
Gina se separou dele e chegou perto da banheira que exalava um delicioso perfume. Virou-se e bem devagar começou a se despir fazendo com que Harry que não perdia nenhum movimento da namorada, esquecesse de respirar. Quando a última peça de roupa foi parar junto às outras no chão, Gina perguntou :
- Vai ficar aí, Potter?
Como se houvessem lhe despertado abruptamente, Harry balançou a cabeça como se estivesse observando uma miragem. Mas era real. Gina entrou na banheira ainda capturando com os olhos castanhos os esmeralda. Rapidamente tirou suas roupas indo se juntar a ela. Aquele seria um banho inesquecível.
——
O Dia das Bruxas nunca foi um dia muito feliz para Harry, mas daquele ele não tinha do que reclamar. Após o delicioso banho de banheira – ele nunca ousara imaginar a gama de sensações que ensaboar alguém com uma esponja podia proporcionar – passaram a noite se amando à luz das estrelas, e acordaram com um nascer do sol deslumbrante. Antes que o vai e vem no castelo começasse e dando graças por ser domingo, o casal voltou correndo para a torre da grifinória.
Quando entraram no salão comunal deram de cara com outro casal que acabara de entrar. Rony e Hermione se despediam em frente à escada dos dormitórios. Gina não se conteve quando viu que eles ainda não tinham reparado em sua chegada.
- Hem-hem
O pigarro de Gina teve o efeito que ela pretendia. Rony e Hermione se desgrudaram tão rápido que a garota chegou a cambalear para trás. Harry se limitou a abraçar a namorada e apoiar a cabeça em seu ombro. Esperava que o amigo tivesse tido uma noite tão proveitosa quanto a dele ao ponto de deixá-lo vivo.
Provavelmente Merlin tinha ouvido os pedidos de Harry naquele dia, pois Rony apenas olhou-o de alto a baixo (ele e Gina ainda estavam com o uniforme de quadribol) e preferiu não falar nada. O moreno ficou tremendamente agradecido aos céus e não querendo abusar da sorte, subiu o mais rápido possível para se trocar antes que alguém chegasse e fizesse perguntas ou insinuações demais.
O dia transcorreu na maior normalidade possível para alguém que estava em ano de NIEM’s, após o café da manhã o trio se pôs a fazer os deveres que tinham se acumulado de uma maneira espantosa. Gina terminou rapidamente a redação que precisava entregar para Slughorn e depois ficou brincando com Arnold no sofá.
À tarde ficaram descansando antes do banquete de Dia das Bruxas e uma sensação de antecipação tomou conta de Harry. Apesar de Rony perguntar a todo instante se por acaso não era nenhuma dor ou ardência na cicatriz, chegando ao cúmulo do moreno ameaçar azará-lo se não parasse, Harry sabia que era algo bom que estava para acontecer, pois era uma sensação diferente da habitual.
———-
- Me explica de novo por que afinal eu tinha que vir at̩ esse bendito Baile de Dia das Bruxas com voc̻? РCarlos Weasley perguntou novamente enquanto caminhava pelas ruas movimentadas.
- Porque eu recebi dois convites e ṇo tinha mais ningu̩m pra convidar. РSirius Black explicou do mesmo modo que vinha fazendo desde que sairam da casa da praia.
- Contanto que você não espere que eu fique ao seu lado como um acompanhante…
- Eu posso ter passado doze anos em Azkaban, mas nem isso iria me fazer chegar a esse ponto, Weasley! Só achei que você não merecia o fardo de ficar naquela casa sozinho. – Respondeu exasperado.
- Eu não ia ficar sozinho.
- Oh, claro. Como eu poderia esquecer, voc̻ ia fazer par com a sra. Longbotton que era a ̼nica que sobrou! РSirius riu ir̫nico com a expresṣo envergonhada do rapaz.
- Seu cachorro pulguento. – Praguejou baixo.
- Meu caro Carlinhos, preste bem atenção. Se esse baile continuar tão bom como era há alguns anos, pode acreditar que você vai adorar ter vindo. Além do que, se eu beber demais, é sempre bom ter alguém capaz de me levar pra casa.
-Vai sonhando.
Sirius e Carlinhos entraram no salão após terem entregado os convites a um elfo doméstico na porta principal. Os dois homens caminharam por algum tempo se servindo de whisky de fogo que eram servidos numa mesa lateral. No meio do salão várias pessoas dançavam alegremente ao som de uma banda bruxa que começava a alcançar o sucesso.
- Bom eu vou dar uma circulada por aí. E você… – Sirius sorriu e chamou a atenção do ruivo que pegava um canapé que estava sendo servido. -… acho que tem uma morena ali perto da lareira que adoraria saber como se faz para tratar de dragões.
- Onde? – O olhar de Carlos passou rapidamente de contemplativo para interessado.
- Ali perto da lareira com as vestes azuis, olhando pra você.
- Bem, enṭo a gente se v̻. РO jovem se aproximou da garota distribuindo todo charme Weasley que podia.
Sirius bebeu mais um gole da forte bebida. Lembrava muito as que haviam no Largo Grimmauld na época de seus pais. Whisky de Fogo da melhor qualidade, caríssimo. Nas tradicionais festas do mundo bruxo era sempre assim: todos tentando mostrar o que tinham ou o que queriam ter. Deu uma risada irônica e resolveu circular pela mansão. Já estivera ali numa outra festa de Dia das Bruxas
assim que saíra de Hogwarts e talvez numas duas ou três festas de Natal e aniversários se bem recordava. Os Holand eram uma linhagem de bruxos muito influentes e respeitados que vieram do continente europeu e se estabeleceram no Reino Unido e sua mansão não negava os fatos.
Estava entregue ás lembranças do passado enquanto andava a esmo pelos cômodos, todos invariavelmente repletos de gente. Foi parado algumas vezes por pessoas que diziam que sempre souberam e acreditaram na sua inocência, ou bruxas – algumas até bastante “simpáticas” – que tentavam mostrar seus atrativos, todos atrás do ainda valoroso sobrenome Black. Já estava a ponto e concordar com seu amigo Remus que lhe perguntara se não ficara velho demais para essas coisas. Pelo menos Carlinhos tinha tudo para aproveitar bem a festa, pois ele estava achando tudo muito enfadonho, Prova disso é que ainda estava no segundo copo de whisky, não encontrara ninguém interessante nem que fosse para conversar, e isso incluía as bruxas que praticamente se atiraram pra cima dele, e agora estava admirando interessado as diversas peças que compunham a vasta coleção dos Holand. No exato momento continha o riso diante de um espelho que mostrava o lado de trás da cabeça ao invés da frente.
- Pertenceu à Morgana. – uma voz suave adentrou os ouvidos de Sirius fazendo os pelos de sua nuca arrepiarem.
- Ahm? РA viṣo da mulher ao seu lado embotou momentaneamente seus pensamentos.
- O espelho. Minha avó dizia que pertencera à Morgana. – ele levantou a sobrancelha incrédulo.
- Será? Não me parece velho o bastante.
- Não posso dizer que minha avó estava errada, afinal eu descobri que o espelho pertenceu realmente à Morgana Ulbric uma bruxa importante na Escandinávia.
Sirius não conteve o riso, fazendo sua gargalhada parecida com latidos ecoar pela sala. Pelo visto a noite não estava perdida. Encontrara alguém bastante interessante para conversar, bem humorada, isso sem contar os lindos cabelos loiros e os olhos verdes que o encantavam. Sem demora pegou na mão da mulher a sua frente e depositou um suave beijo em forma de cumprimento.
- Muito prazer, Sirius Black. – Os olhos se encontraram e ele se sentiu vibrar.
- Eu sei quem você é, mas pelo visto você não se lembra de mim.
- Eu estive afastado de Londres por muitos anos… – Falou um pouco constrangido, o que no mínimo era inusitado.
- Eu sei… Azkaban.
- É. – Pronto, todas as chances que pudesse ter com aquela deusa loira tinham ido por terra.
- Mérlin, me perdoe. Você não deve gostar de falar sobre isso.
- Tudo bem.
- Eu realmente sinto muito.
- Eu te desculpo com uma condi̤̣o. РEle conseguiu perceber a sinceridade na voz dela. Mais um pouco ele ia ter certeza de que era perfeita.
- Que seria?
- Você me dizer quem é, porque eu não consigo me lembrar de onde nos conhecemos. – Um sorriso maroto surgiu nos lábios de Sirius.
- Nossa! Assim voc̻ me magoa. РDisse numa cara de ofensa fingida. РAfinal dizia que seria incapaz de esquecer de mim e do meu pufoso Godofredo.
- Trícia? – Ela assentiu. – Mas você era uma pirralha da última vez que eu te vi.
- Acho que não posso mais ser chamada de pirralha.
- Claro que não. Você está… linda! – Ele ainda não conseguia acreditar que aquela deusa era a mesma menina que antigamente vivia atirando seu bichinho em todos e infernizando Sirius durante as festas.
- Obrigada.
- Ainda tem o Godofredo? – Qualquer assunto era bom, contanto que continuassem a conversar, pelo menos no início.
- Não, eu prefiro outro tipo de animal agora.
- Qual?
- Cachorro, de preferência dos grandes. – Ele olhou-a intensamente antes de mudar de assunto. Definitivamente devia estar ficando velho, pois estava se sentindo um pouco… intimidado.
- Eu ṇo lembrava dessa cole̤̣o de voc̻s. РSe aproximou deixando os corpos quase colados.
- Era da minha avó, aí quando ela morreu minha mãe se encarregou de continuar.
- Ah bom, achei que estava ficando velho e esquecido.
- Esquecido eu ṇo sei, mas velho definitivamente ṇo. РIntimidado ou ṇo, Sirius ṇo ia deixar aquela oportunidade de ouro passar. Mas antes que ele a tocasse como pretendia, ela continuou. РVenha ver as ̼ltimas aquisi̵̤es da maṃe, tem uma em particular que eu acho que voc̻ vai gostar.
Tricia Holand pegou em sua mão e Sirius se deixou levar para o outro lado da sala, onde ela o fez parar em frente a uma estante de vidro onde estavam expostas mais algumas peças.
- Olha esta aqui. Mamãe disse que comprou de um homem lá no Beco Diagonal. – A garota apontava para um cálice de prata onde o brasão da família Black estava incrustrado.
- Deve ser uma das coisas que Mundungo Fletcher roubou da minha casa ano passado. Podem ficar com… – A atenção de Sirius foi totalmente afastada dos furtos de Mundungo em sua propriedade no passado para se concentrar na peça à sua frente e na etiqueta de identificação abaixo desta.
- Mamãe vai adorar a notícia.
- Onde conseguiram isto? РEle perguntou aflito enquanto apontava para a ta̤a que contemplava.
- Bonita não é? Acho que essa foi a última peça que minha avó comprou antes de morrer, ela dizia que era um HuflePuff legítimo, mas provavelmente deve ser igual ao “espelho da Morgana”.
- A taça de Huflepuff!
- Eu não apostaria meus galeões nisso…
- Me dê licença um minuto.
Sirius atravessou as salas à procura de Carlinhos. Queria que o outro visse com os próprios olhos o que encontrara. Nunca imaginara que pudesse dar de cara com o objeto que a Ordem da Fênix estava procurando logo naquela noite e daquela forma. Encontrou o ruivo no jardim de inverno, junto da morena da lareira, no meio do caminho para um beijo, mas não se importou em atrapalhar. A taça era mais importante.
- Vem comigo. РSirius puxou Carlinhos pelo bra̤o, fazendo a morena pular com o susto.
- O que houve? Aconteceu alguma coisa? РMesmo frustrado, o ruivo percebeu a urg̻ncia na voz do homem.
- Eu preciso que você veja uma coisa.
- Desculpe, eu já volto. – Carlos deu um beijo suave no rosto da morena antes de se afastar indo ao encontro de Sirius que o aguardava já na porta. – Afinal o que é tão importante para você me interromper logo agora?
- A taça de Huflepuff.
- Encontraram? – O sorriso e o suave perfume da garota sumiram da mente do jovem Weasley no mesmo instante que Sirius pronunciou aquelas palavras.
- Na verdade encontrei, venha.
Num instante os dois homens olhavam admirados o objeto tão cobiçado. Aparentemente era realmente a taça que queriam, mas tinham que ter certeza de que se tratava realmente do mesmo objeto que fora transformado em horcrux por Voldemort.
- Trícia. – Sirius voltou sua atenção para a mulher que o aguardava. – Você se importaria se eu trouxesse uma pessoa aqui para ver essa taça?
- Não, claro. Pode vir quando quiser.
- Voc̻ vai trazer Harry aqui? РCarlinhos perguntou num sussurro onde somente Sirius pudesse escutar.
- Não sei, talvez seja necessário marcar uma reunião da Ordem para decidirmos, mas o mais urgente é avisarmos Moody e Lupin.
- Vocês vão embora agora? – Trícia Holand olhava ansiosa para Sirius.
- É… – Sirius e Carlinhos se entreolharam, numa consulta muda sobre que atitude tomar, pois era evidente que nenhum dos dois queria realmente sair naquele momento. – O que você acha?
- Não sei… Está tarde, Lupin já deve estar dormindo e até Moody aparecer… – Carlinhos falava pensativo.
- E tamb̩m tem o fato de somente Harry poder reconhecer. РCompletou Sirius.
- Isso, e não podemos aparecer em Hogwarts agora e tirá-lo de lá, temos que falar com McGonagall antes. – O sorriso de Carlos chegou até os olhos. – Bom, eu vou… voltar pra lá… e qualquer coisa… me chame.
Sirius quase riu da atitude de Carlinhos. O rapaz parecia ter virado adolescente outra vez e só faltou correr de encontro a garota com a qual estava conversando. Aproximou-se de Trícia dizendo:
- Desculpe o Carlos, acho que o convívio com os dragões o está afetando.
- Tudo bem. – Ela olhou para a taça intrigada. – O que está acontecendo, afinal?
- Eu… não posso dizer no momento, mas prometo que assim que puder eu conto. – Sirius sentia que podia confiar inteiramente nela, mas não iria arriscar a integridade da Ordem falando de algo tão importante no meio de uma festa. – Combinado?
- Eu confio em voc̻, Black. РOs olhos verdes o encararam e ele se sentiu em chamas.
- Se você soubesse o que estou pensando, não confiaria tanto. – Ele mexeu nos cabelos dela, numa carícia suave.
Por um momento Sirius vislumbrou um leve tom rosa no rosto delicado da mulher a sua frente, porém logo ela se recompôs e um sorriso maroto se formou antes das palavras saíram de sua boca como uma melodia.
- Se você soubesse o que eu estou pensando… – Trícia sussurrou no ouvido dele, fazendo-o arrepiar. -… já teria me levado daqui.
Sirius Black não demorou mais de um segundo para assimilar o sentido da frase da mulher a sua frente, e nem precisou de legilimência para cumprir a sua vontade. Saíram discretamente da festa e só foram vistos novamente na manhã seguinte, quando ele a deixou em frente à mansão antes de aparatar para a casa da praia, quase no mesmo instante em que Carlinhos também aparecia, ambos se olharam sorridentes e sem comentarem a noite anterior entraram na casa com a feliz notícia: a taça de Huflepuff fora encontrada!

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