quinta-feira, 25 de outubro de 2012

24. A Pena Preciosa


Sirius se acomodou melhor na poltrona onde havia estado sentado até então. Deu um suspiro longo, que evidenciava não só o cansaço a que seu corpo havia sido submetido, mas também a importância dos fatos que iria narrar. Passou os olhos pelas pessoas que o observavam atentamente, apreensivas, e começou a contar-lhes como ele e o ainda adormecido professor Flitwich conseguiram recuperar a horcrux que havia sido escondida no interior do castelo de Hogwarts.
- No início estava tudo correndo bem, e não sei se posso dizer que em algum momento, a situação tenha realmente ficado complicada. – Sirius se permitiu um leve sorriso. – Bom, assim que entramos na estreita passagem onde até mesmo o nosso pequenino professor teve de andar abaixado diversas vezes, me transformei em cão, de forma que me foi fácil passar pelo caminho apertado que apresentava uma descida íngreme e durou cerca de um quilometro. No final desse caminho demos de cara com uma parede de pedra que nos mostrava que tínhamos chegado no final do caminho…
- Mas voc̻s ṇo estavam no caminho certo? Рinterrompeu Rony intrigado.
- Nós tínhamos certeza que sim, então percebemos que era um simples feitiço ilusório, que conseguimos desfazer com facilidade. Provavelmente Voldemort… – algumas pessoas emitiram pequenos grunhidos ao ouvirem o nome, deixando o ex-maroto irritado. – Ah, por favor! Provavelmente “Vocês-Sabem-Quem” tenha achado que a passagem, por causa de sua localização, estivesse bem protegida protegida, ou…
- Ou? – perguntou Moody com seus dois olhos focalizados atentamente em Sirius.
- Ou talvez Gina por ser muito nova, não conseguisse proferir feitiços mais poderosos ou maldições mais graves… – completou olhando para o chão, num tom que parecia se desculpar por ter pensado tal coisa.
Gina mantinha seus olhos fixos em seu colo onde Harry segurava suas mãos numa atitude que lhe transmitia conforto e carinho. Não se atrevia a olhar as pessoas com medo de se distrair com o que pudesse ver nas fisionomias delas, queria estar atenta a cada detalhe que de alguma forma suprisse as lacunas de memória em sua mente.
- Mas ter usado minha forma animaga não foi útil somente na questão do tamanho, com o faro aguçado pude perceber, antes que entrássemos na pequena câmara, que o ar estava putrefato, irrespirável, provavelmente enfeitiçado para que sufocássemos imediatamente. – Madame Pomfrey soltou uma exclamação abafada e Harry, instintivamente, segurou mais forte a mão de Gina entre as suas. – No mesmo instante que percebi, avisei ao professor que realizou o feitiço cabeça-de-bolha não só nele como também em mim, mas procuramos fazer tudo muito rápido visto que sentíamos que o feitiço do ar à nossa volta penetrava em nossa pele e minava nossas forças. Andamos até o canto mais afastado, onde havia um círculo de fogo perpétuo. Novamente o professor Flitwich soube logo o que fazer, e após proteger meus pelos com algum feitiço protetor, eu consegui atravessar as chamas somente sendo chamuscando superficialmente. Mas… – Sirius se acomodou novamente antes de prosseguir. – Assim que consegui pegar a horcrux, tendo o cuidado de envolvê-la no tecido que Moody nos entregara antes, todos os nossos feitiços de proteção se desfizeram, automaticamente. Mais uma precaução de Vol… – ante os olhares espantados ele capitulou exasperado. – Arre! Vocês-Sabem-Quem, contra um possível inimigo. Diante disso, entreguei o pequeno embrulho ao professor e procuramos sair dali o mais rápido possível, mas em poucos momentos ele já tinha perdido quase que totalmente suas forças, então eu o puxei até o topo do túnel novamente, onde Moody e Lupin estavam nos esperando. E é isso…
A diretora McGonagall tinha os lábios apertados formando uma linha fina, denotando todo o nervosismo que sentia. Olhou para Moody e perguntou finalmente.
- Agora só temos que destruí-la, não é? – Olho-Tonto mirou a diretora ao mesmo tempo em que seu olho mágico apontava para a horcrux em cima da mesa.
- Sim, mas primeiro temos que verificar que tipo de feitiço ou maldição ela encerra, só aí poderemos enfim destruí-la.
- Mas não podemos fazer do mesmo modo que fizemos com o medalhão: pedir ao Grope que a quebre?
- Isso vai depender justamente dos feitiços que foram postos no objeto.
Harry abraçou Gina que continuava concentrada observando suas mãos e mordia o lábio inferior, do mesmo modo que sempre fazia quando estava prestes a tomar uma decisão importante. Já ia perguntar como estava quando ela soltou o ar preso em seus pulmões e se levantou indo até Lupin, com Harry nos seus calcanhares.
- Lupin, eu queria pedir uma coisa. Рo professor apesar de curioso, apenas assentiu. Rony, Hermione e Gui se aproximaram ao ouvi-la e agora tamb̩m estavam com a aten̤̣o na garota. РEu queria saber se existe algum meio de me lembrar do que eu fiz naquela ̩poca.
Remus assumiu uma expressão compenetrada, lançou um olhar para Sirius que se aproximara ao ouvir e passou alguns segundos estudando atentamente o pedido da garota, até que finalmente respondeu.
- Talvez. Nós podemos tentar, mas… é isso mesmo que você quer, Ginevra?
- Não é uma questão de querer e sim de precisar.
- Certo. Quando você quer tentar?
- Agora.
- Mas, Gina… – Gui não podia acreditar no que ouvia.
- Não, Gui. Tem que ser agora. Eu não vou suportar mais um minuto que seja sem saber que diabos eu fiz quando aquele verme me possuiu!
- Tudo bem. РLupin olhou para Gui tranquilizando-o. РSeria melhor que estiv̩ssemos em um lugar mais apropriado, mas por quest̵es de seguran̤a acho que teremos que nos contentar em ficar por aqui.
Gina sentou-se no sofá que até alguns minutos atrás o professor de feitiços ocupava, antes de ser levado por alguns integrantes da Ordem para seus aposentos, e olhou para Harry que a observava calado. Ele sabia o que aquilo tudo representava na vida da namorada e deu-lhe um pequeno sorriso de incentivo antes de se sentar ao lado dela.
- Primeiramente, Gina, eu tentarei desbloquear as memórias de quando você estava sob a Maldição Imperius, depois se tudo correr bem, tentaremos resgatar essas memórias através de legilimência.
- Certo.
Gina fechou os olhos ao ouvir o ex-professor de DCAT murmurando uma série de feitiços sobre si. Sentiu-se estranha, com um sentimento de antecipação percorrendo todo o corpo e eriçando os pelos de sua nuca. Mas quando sentiu um suor frio escorrer por sua testa, a sensação mudou, agora se sentia leve, com os pensamentos flutuando levemente por sua mente, então ela soube que Lupin tinha conseguido desfazer a barreira que a impediria de lembrar.
- Como você está? Sente alguma diferença?
- Eu sinto como se fosse mais fácil lembrar… – ela sentiu quando Harry beijou suavemente sua mão que antes descansava em seu colo.
- Então agora eu vou usar a legilimência. Você sabe como funciona, só que dessa vez eu vou ser mais incisivo e você tentará se concentrar no diário, entendeu bem? No diário e em nada mais. – a garota concordou e sentou-se ereta mantendo o olhar fixo no ex-professor.
Gina sentiu as lembranças começarem a florescer em sua mente numa velocidade impressionante, até que começaram a desacelerar à medida que procurava se focar no que Lupin tinha pedido. Aos poucos as recordações do seu primeiro ano foram ficando mais nítidas. Após uns poucos segundos, durante os quais ela foi ficando numa tonalidade próxima a do cabelo, Lupin parou o encanto e falou com um pequeno sorriso :
- Bom, digamos que já foi um começo!
- O que você lembrou, Gina? – perguntou Gui preocupado.
- Nada, Gui. – ela evitava a todo custo não ruborizar ainda mais.
- Mas você conseguiu lembrar de algo? – a voz de Hermione soou curiosa e a ruiva olhou-a de um modo feroz e explicou sarcástica:
- “Teus olhos são verdes como sapinhos cozidos” te diz alguma coisa?
Harry fez um esforço imenso para não rir, mas não foi imitado por Rony que sentado ao lado de Hermione, precisou enfiar o punho na boca para se conter. Ele lembrava bem daquele poema que ela lhe enviara… Se duvidasse ainda conseguiria ouvir os gêmeos cantando em seu ouvido, como fizeram por dias, e sentir o peso do anão em seus calcanhares. Fazendo todo esforço possível para fazer um sorriso diplomático, perguntou:
- Mas o que isso… esse… o poema tem a ver com o diário?
- Foi nesse dia que eu percebi que você tinha pego o diário, depois que eu tentei me livrar dele.
- Certo, essa é uma lembrança importante, mas você não a tinha esquecido, tinha?
- Bem que eu tentei! Essa é uma memória que eu gostaria de ter apagado… – Harry se aproximou e sorrindo levemente disse baixinho:
- Foi bonitinho, não ligue. – Gina lançou um olhar incrédulo, depois virou-se para Remus que observava divertido.
- Vamos tentar novamente.
- Ok.
Gina procurou se concentrar novamente no maldito diário e de novo as lembranças vieram num turbilhão: ela achando o pequeno diário junto aos seus livros de segunda mão; percebendo que ele respondia quando escrevia; confessando seus sentimentos por Harry; ela contando toda a história que ela conhecia sobre o “Menino-Que-Sobreviveu” e o súbito interesse de Tom Riddle; ela sendo surpreendida por Hagrid nos jardins com as roupas sujas com penas… Gina arregalou os olhos se sentindo subitamente esgotada.
- O que foi Gina? – perguntou Lupin, intrigado com o que poderia tê-la assustado naquela memória.
- Foi essa a primeira vez que não lembrei o que tinha feito, o dia que eu estrangulei o galo. – falou num fio de voz.
- Ótimo! – exclamou animado, mas depois se lembrou do estado da garota. – Você está bem? – ela assentiu sob os olhares preocupados de Harry, Rony e Gui. – então eu vou tentar aprofundar exatamente essa lembrança. Tente repassá-la novamente, se concentre nela e deixe o resto comigo.
Gina começou a escrever no pequeno diário que trazia sempre consigo. Nunca antes tivera um conselheiro tão bom. De repente um brilho estranho surgiu em meio às folhas e um torpor a invadiu. Sua mente ficou enevoada e ela começou a ouvir uma voz enviar comandos para seu cérebro. Não tinha noção da gravidade do que fazia, nem mesmo tinha noção real do que era. Saiu do local onde estava, ignorando Collin que lhe chamava ao longe e rumou para fora do castelo. Aproximou-se do galinheiro que ficava depois da cabana de Hagrid e sem uma única sombra de emoção estrangulou, com suas mãos pequenas e frágeis o galo que lá havia. Já estava voltando para o castelo quando foi surpreendida pelo meio-gigante. Deu uma desculpa qualquer que Hagrid não objetou, e voltou para o interior do castelo. Ignorando as pessoas que passavam por si, seguiu pelo caminho que levava ao banheiro interditado no primeiro andar. Virou-se de frente para uma determinada pia e começou a sibilar. Subitamente a névoa deixou sua mente e ela se deu conta de que não sabia como tinha ido parar ali, no meio do banheiro habitado pela Murta-Que-Geme. Estava muito confusa, nunca antes tinha perdido a memória desse jeito.
Ao abrir os olhos, sentiu que sua testa estava coberta por um suor gelado e seu corpo parecia ter corrido durante horas. Piscou algumas vezes antes de informar para os rostos apreensivos que a espreitavam.
- Eu estou bem.
- Você deve estar cansada, a gente pode continuar depois…
- Não! Por favor, não! Eu agüento… – ela fazia um esforço imenso para convencer a si mesma disso. – Vamos continuar. Agora que conseguimos uma vez deve ficar mais fácil. Por favor. – a voz dela era suplicante.
- Gi… – Harry aproximou-se e enxugou-lhe a testa delicadamente, enquanto ela falava com um leve desespero.
- Eu preciso saber!
- Está bem, srta. Weasley. – a voz da diretora se fez ouvir. – Mas primeiro vai tomar um pouco de água e eu vou pedir a Madame Pomfrey que prepare uma poção para restaurar suas forças. – a sempre rígida Minerva McGonagall estava visivelmente preocupada com os efeitos daquilo tudo. – Srta. Granger, leve esse bilhete para Papoula, sim.
Hermione saiu apressada, enquanto Gina sorvia a água em pequenos goles. Assim que acabou, Harry tomou o copo de duas mãos e a abraçou, antes de Lupin recomeçar.
Realmente, após a primeira lembrança de quando estava sob os comandos de Tom Riddle, as demais surgiram com mais facilidade, mas nem por isso menos incômodas ou desgastantes. Um suor frio brotava de todos os poros de seu corpo, fazendo com que suas roupas grudassem em sua pele, seu coração batia descompassado e um leve tremor começava a acometê-la a cada nova memória. Depois do que pareceram horas, Lupin deu uma pausa falando:
- Descanse um pouco enquanto eu relato tudo que descobrimos.
Se sentindo bastante zonza e agradecida pela pausa, Gina concordou enquanto forçavam-na a beber uma amarga poção e depois lhe deitavam sobre um travesseiro macio.
——
Após acomodar Gina em seu colo, Harry pôde observar melhor a expressão preocupada de Lupin. Ele andava de um lado para o outro até que parou de costas para Gina e aceitou um copo de suco de abóbora que Sirius lhe entregava.
Harry ouviu seu estômago roncar, mas sabia que não conseguiria engolir nada naquele momento e tinha medo de não conseguir fazê-lo tão cedo, então ignorou o lanche trazido pelos elfos – sob o olhar reprovador de Hermione – ao contrário de Rony que devorava seu quarto sanduíche.
Quando Lupin se sentou na mesma poltrona que Sirius tinha usado mais cedo para contar como apanhara a horcrux e suspirou profundamente, Harry sabia que fossem quais fosses as lembranças que ele tinha resgatado, elas eram realmente importantes.
- Conseguimos. – disse finalmente. – Resgatamos todas as memórias de quando ela esteve sob os comandos de Voldemort.
- E enṭo? РGui perguntou apreensivo assim como os demais.
- Bom, ela realmente açulou o basilisco para atacar os alunos, mas depois do ataque ao rapaz da Lufa-lufa ela começou a resistir, mas já tinha passado muita energia para o Tom Riddle, o que fazia sua resistência diminuir pouco a pouco.
- Por Merlin, essa menina correu s̩rios riscos! РMinerva McGonagall falou com a voz estranhamente embargada.
- Como ela conseguiu essa outra horcrux? РHarry ṇo queria nem lembrar o quanto Gina tinha estado perto de morrer durante seu primeiro ano na escola.
- Enquanto estava sob as ordens de Tom Riddle ela escreveu para Lucius Malfoy, ordenando que ele a apanhasse com Bellatrix. Assim que ele conseguiu resgatá-la trouxe para o castelo e Gina a escondeu. Só que Voldemort não contava que Gina fosse ser tão resistente…
- Como assim, Remus? – Gui inquiriu.
- Ela realmente não se permitiu fazer feitiços mais poderosos ou letais. Provavelmente por esse motivo, Riddle tentou fazer dela a sua isca para atrair o Harry.
Harry lembrou-se imediatamente da imagem borrada de Tom Riddle na Câmara Secreta se gabando de seus feitos. “Levou muito tempo para a burrinha da Gina parar de confiar no diário… Então fiz Gina escrever o bilhete de adeus na parede e descer aqui para esperar. Ela resistiu, chorou… Ela transferiu muita força para o diário…” Instintivamente procurou a mão da amada que repousava sobre o sofá e tomou entre as suas. Agora estavam a salvo daquele tormento.
——
A mente de Gina parecia estar no meio de um furacão. Lembranças se misturavam assustadoramente, trazendo de volta seus mais íntimos pesadelos. Sua boca tinha um gosto amargo que ela não achava mais ser da poção, seu coração ainda palpitava frenético e sua respiração continuava irregular. Tremia, mas não era de frio e seu corpo estava molhado de suor. Ouvia vozes ao longe e tentou abrir os olhos, mas aparentemente seu corpo não a obedecia. Um sentimento próximo ao pânico começou a invadi-la quando as lembranças iam terminando de se encaixar na seqüência correta em sua mente, mas foi quando sentiu um aperto em sua mão que conseguiu finalmente abrir os olhos e se sentar, apesar de não conseguir ver nada além de flashes e sombras.
Ignorando os olhares aturdidos sobre si ela fez um esforço imenso pra se levantar, olhou para as pessoas ao seu redor sem realmente as ver, marchou com passos decididos para perto da mesa da diretora. Um zumbido estranho ainda dificultava sua audição, mas sua mente agora se fixava no objeto reluzente à sua frente, que tinha acabado de descobrir. Inacreditavelmente sua mente tão anuviada a reconheceu de imediato e Gina tinha consciência do que era o tal objeto e de sua importância. Ela não conseguia visualizar com clareza nada a sua frente nem tinha percepção das pessoas falando ao seu redor, mas sabia que aquela pequena pena de ouro que um dia pertencera a uma das bruxas mais poderosas do mundo agora guardava um grande mal. Sua mente lhe gritava que ela tinha uma responsabilidade sobre aquilo, independente do que dissessem ao contrário. Sentiu quando tocaram em seu braço, mas num movimento brusco se soltou, espantando a todos. Num gesto inesperado, Gina retirou a espada prateada e cravejada de rubis que pertencera a Godric Gryffindor do local onde esta estava guardada e com um só golpe partiu a importante relíquia, destruindo assim mais uma das horcruxes de Voldemort. Uma intensa corrente de energia percorreu o local como ondas poderosas, fazendo com que todos se arrepiassem e sufocassem momentaneamente. Nem bem perceberam o que a jovem Weasley acabara de fazer, todos correram ao seu auxilio, ao vê-la caindo desfalecida, ainda segurando a imponente espada.
—–
Ao ouvir as palavras de Lupin, Harry apertou a mão de Gina entre as suas num gesto de conforto e sentiu seu coração aliviar quando percebeu que ela se sentava no sofá.
- Está se sentindo melhor?
A preocupação com o estado físico de Gina voltou a aflorar em seu peito à medida que percebia que Gina aparentemente não o ouvia. Tinha o olhar desfocado e a palidez de sua pele fazia inveja aos fantasmas de Hogwarts. Seu peito subia e descia num ritmo inconstante e seu andar era vacilante. Olhou-a aturdido e percebeu que assim como ele Rony e Gui também estavam sem saber o que fazer. Chamou-a delicadamente quando a viu se aproximar da mesa da diretora onde a pena de Ravenclaw havia sido colocada, mas uma sensação de perigo iminente começou a se formar dentro de si no momento em que a viu tocar o veludo que recobria a horcrux e admirar o objeto.
Sem saber ao certo o que fazer, Harry buscou ajuda com o olhar atordoado para Rony – que parecia mais assombrado que ele – e Hermione, que rapidamente se levantou e tomou uma atitude. A morena se aproximou de Gina e chamou-a tocando em seu braço.
- Gina?
Num gesto rude a ruiva se soltou e se encaminhou para a redoma de vidro que ficava atrás da mesa da diretora. Abriu-a e num gesto decidido pegou a espada do fundador da Grifinória e com um golpe certeiro quebrou em duas a pena preciosa que descansava sobre a mesa, gerando uma corrente de energia que fez com que todos sentissem na pele o poder daquele objeto.
Harry piscou por um momento ao sentir a energia poderosa descarregada sobre si e quando voltou a abrir os olhos gritou desesperado.
- GINA!
Correu ao encontro da namorada que se encontrava caída ao pé da mesa ainda segurando a espada de Gryffindor, desacordada. Sentindo uma garra dilacerando seu coração com a lembrança de já ter vivido cena parecida, Harry se ajoelhou ao seu lado e levantou parte se seu corpo, apoiando-o em seu colo enquanto murmurava.
- Gina, por favor acorde. Gina… – estava nervoso demais para perceber se ela realmente estava respirando. – Gina… não esteja morta… por favor… acorde…
No segundo seguinte Harry percebia a presença das outras pessoas que estavam na sala e que, como ele, correram ao auxílio da garota. A diretora McGonagall tinha alguns fios de cabelo soltos de seu sempre perfeito coque e seus olhos estavam úmidos, Remus mandava uma mensagem por seu patrono, para que Madame Pomfrey preparasse a enfermaria, enquanto Gui e Rony se encontravam pálidos como cera e paralisados de pânico. Hermione, sempre racional se aproximou do casal e tentava, tremendo verificar se a ruiva tinha algum indício de pulsação, mas foi Sirius quem tirou Harry de seu estado de choque.
- Harry, me deixe levá-la. – Sirius falou de modo duro, forçando o afilhado a encará-lo. – Vamos, filho. Solte-a.
As palavras de seu padrinho penetraram seu cérebro, fazendo com que este percebesse que não poderiam ajudá-la ali. Mas ao invés de largar o corpo desfalecido de Gina para que Sirius a carregasse, Harry segurou-a ainda mais fortemente e levantou-se, ágil, saindo em disparada rumo à ala hospitalar.
- Ela está muito fraca. – a enfermeira falava enquanto fazia os exames necessários. – Mas vai ficar bem.
Nunca essas três palavras soaram tão bem aos ouvidos de Harry como naquele instante. “Vai ficar bem”. O sentimento de alívio foi tão grande que ele sentiu que uma lágrima quente escorreu de seu olho, traçando um caminho por sua face, que ele tratou de apagar rapidamente antes que Rony visse e o atormentasse durante os próximos séculos. Deixou-se cair numa cadeira ao lado do leito onde haviam colocado Gina e pegou em sua mão, entrelaçando os dedos. Olhou para a face pálida, que deixavam até as sardas meio apagadas, e com um sorriso cansado, tocou carinhosamente os traços que tanto adorava.
- Harry, venha. Você precisa comer alguma coisa. – Hermione segurou seu ombro e falava como uma irmã preocupada. – Eu reparei que você não comeu nada depois do almoço.
- Não estou com fome, Mione. Obrigado. – como que desmentindo suas palavras, Harry ouviu seu estômago roncar e ele viu Hermione levantar uma sobrancelha.
- Sei. E eu adoro voar. – ela olhou-o enternecida e completou. – Bom, você é quem sabe. Eu provavelmente faria a mesma coisa. Você vai ficar aqui com ela?
- Vou.
- A madame Pomfrey já está sabendo? – Rony provocou.
- Eu vou ficar aqui de qualquer jeito, nem que eu mesmo tenha que me azarar.
- Se você quiser, eu faço isso pra você. – disse o ruivo calmamente. – Bem que eu ando querendo treinar alguns feitiços novos.
- Do jeito que eu estou, talvez seja uma boa solução. – Hermione achou graça das palavras do amigo, mas ao olhar em direção à porta não conseguiu segurar o riso.
- Infelizmente acho que agora vai ficar mais difícil de você conseguir o que quer.
- Por quê?
Mas Hermione não precisou responder àquela pergunta pois ao virar o rosto em direção à entrada pôde ver o sr. e a sra. Weasley entrando aos atropelos na enfermaria. Com certeza a própria matriarca faria com que ele se alimentasse e fosse para seu dormitório dormir. Forçando um sorriso ele cumprimentou-os assim que estes se aproximaram.
- Morgana das Fadas! O que aconteceu com Gina? Ela está bem? Minerva não informou muita coisa. Ô minha princesa… – a senhora Weasley falava freneticamente, enquanto abraçava uma a uma, as pessoas que estavam na enfermaria, parando somente quando foi interrompida por Arthur.
- Molly, se acalme. Madame Pomfrey disse que ela está apenas dormindo agora, que o pior já passou. Isso é o que realmente importa.
- Você tem razão, Arthur. – a senhora Weasley tomou o lugar de Harry na cadeira ao lado de Gina e começou a ajeitar os lençóis. – E você, Harry querido? Está pálido. Não se alimentou direito hoje, não foi? Vá descansar querido e aproveite para comer alguma coisa. Pode deixar que eu não vou sair daqui antes dela acordar.
- Sim, senhora Weasley. – a voz de Harry saiu desanimada, todo seu planejamento indo por água abaixo.
- Pode deixar, Harry que eu conto exatamente tudo que aconteceu para meus pais. – Gui falou indo em direção aos pais.
Por um momento Harry pensou sobre o que “exatamente tudo” queria dizer. Se Gui se referia ao “exatamente tudo” que ocorrera desde que encontraram a Pena de Ravenclaw, ou ao “exatamente tudo” que o ruivo tinha visto desde que flagrara ele e Gina no vestiário após o treino de quadribol. Tendo a certeza de que ele estava cansado demais para discutir sobre qualquer coisa, Harry olhou mais uma vez para a garota adormecida a sua frente. Seus cabelos vermelhos em contraste com a fronha branca, emoldurando seu rosto que já se encontrava um pouco mais corado que antes. Lembrou-se que naquela mesma manhã tinha ficado observando-a dormir e desejando abraçá-la mais que nunca, apenas se virou e desejando um “boa noite” a todos, subiu para a torre da Grifinória junto com Rony e Hermione.
——–
Gina abriu os olhos com uma certa dificuldade e por alguns segundos não soube onde estava, ou o que tinha acontecido, a mente embotada por ter estado tantas horas desacordada. Fechou os olhos novamente ao sentir uma leve dor em também no corpo. Abriu-os devagar, com a mente já totalmente desperta e consciente do que tinha acontecido. Procurou pela enfermaria pelo par de olhos verdes que ela tinha certeza que ficaria ao seu lado, mas foi a voz de Hermione que ela encontrou.
- Ele ainda não desceu, mas já deve aparecer daqui a pouco. – a ruiva olhou para o rosto da amiga, que tinha um semblante preocupado e esboçou um sorriso.
- Oi, Mione.
- Como você está se sentindo?
- Bem, eu acho. – esfregou novamente as têmporas. – Só com dor de cabeça. Ele não ficou aqui?
Hermione sorriu diante da expressão desolada da ruiva. Tinha certeza de que a primeira coisa que ela ia fazer ao acordar seria procurar Harry.
- Bem que ele quis, pensou até em se auto-estuporar para que madame Pomfrey fosse obrigada a deixá-lo ficar. – Gina arregalou os olhos divertida, mas logo resmungou ao sentir uma pontada na cabeça. – Mas aí seus pais chegaram e ele não teve outra alternativa senão voltar para o dormitório e descansar.
- Mione. – a voz de Gina ficou séria. – E-eu consegui? Eu destruí?
- Sim. – Hermione disse com alívio. – Mas deixou todos nós preocupados. Afinal o que deu em você para fazer aquilo.
- Não sei. Eu estava desorientada e quando dei por mim já tinha golpeado a horcrux.
- Gina, minha filha. Você acordou! – a senhora Weasley se aproximou apressada e abraçou a filha fortemente.
- Calma, Molly. Senão você a sufoca. – o senhor Weasley se postou ao lado da mulher.
- Oh, sim claro. – ela soltou a filha de forma relutante. E se pôs a ajeitar os travesseiros atrás dela. – Como você está se sentindo? Está bem?
- Estou mamãe. Só com um pouco de dor de cabeça.
- Deixe eu dar uma olhada nela. Fiquem lá fora um momento que terminar eu os deixo entrar novamente. – Madame Pomfrey falava decidida, empurrando-os para fora.
Depois do que pareceu a eternidade, a enfermeira terminou os exames dizendo que permitiria visitas até que trouxesse o café-da-manhã e que depois que ela tomasse algumas poções estaria liberada. Foi com alegria que ela viu a porta se abrir para dar entrada a um jovem moreno de olhos verdes que trazia um sorriso angustiado nos lábios.
- Gi!
Harry correu para seu lado, sentando na cama e a abraçando como se a qualquer minuto ela fosse desaparecer como fumaça. Tendo a noção do risco que correra na noite anterior pode divisar o tamanho da preocupação de todos.
- Harry.
- Nunca mais faça isso comigo! – ela se soltou e perguntou.
- Te deixar preocupado? – ele olhou-a maroto, e disse baixinho, antes que os demais se aproximassem.
- Não. Me deixar dormir sozinho.
Num gesto que não deixava mais dúvidas sobre o que estavam falando, eles se beijaram apaixonadamente, ignorando os olhares surpresos, divertidos ou encabulados que tomaram as diversas pessoas ali presentes.

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