domingo, 21 de outubro de 2012

3. Here With Me


Harry dormiu muito mal aquela noite. E toda a vez que pegou no sono, Gina apareceu de tal maneira em seus sonhos, que na manhã seguinte ele não conseguiu olhar Rony de frente até a hora do almoço. Tinha medo de sorrir de um jeito que o amigo viesse a perguntar o que tinha acontecido ou, pior ainda, somasse dois e dois e quisesse saber se ele não havia passado pela irmã, já que ambos tinham ficado fora da Sala Comunal na noite anterior. Hermione sabia ou pelo menos intuía que alguma coisa tinha acontecido. A amiga não parava de lhe lançar olhares maliciosos. Tinha certeza que ela estava louca para perguntar alguma coisa, mas Harry estava fazendo de tudo para encará-la ainda menos que ao Rony. Ele achou que ficaria ainda pior quando encontrasse com Gina. Mas ela não apareceu no café da manhã e nem no almoço. E isso acabou incomodando-o muito mais do que se ela tivesse aparecido.
Pelas três da tarde, ele, Rony e Hermione deram os estudos para os N.I.E.M.S por encerrados. As cabeças estavam tão cansadas que tinham certeza que não conseguiriam enfiar mais nada de útil para dentro do cérebro. Pelo menos, esta era a sensação que Harry e Rony tinham. Hermione não dava o braço a torcer. Mas era bem provável que pensasse a mesma coisa, já que resistira bem pouco quando eles propuseram de parar e tomar um pouco de ar no pátio.
O problema é que, por mais que Harry tentasse se controlar, não conseguia parar de olhar por sobre os ombros, esperando vê-la a qualquer momento. Não que alguma coisa realmente tivesse mudado. Ele sabia que ainda não podiam ficar juntos, mas ainda assim… E o que mais o aborrecia é que ele nem ao menos podia perguntar por Gina. Tinha a terrível impressão de que se dissesse o nome dela em voz alta se entregaria. Ou pior, Rony iria querer saber por que ele queria saber da Gina. A verdade é que seus pensamentos de “ou pior”, sempre incluíam o amigo percebendo alguma coisa.
– Quem você está procurando? – Perguntou Rony chamando sua atenção depois da milésima vez em que ele virou a cabeça para trás.
– Hã… Ninguém. Quem é que eu estaria procurando, Rony? – Deu à voz um tom impaciente, como se o amigo tivesse dito uma tremenda besteira.
– Sei lá… – respondeu Rony dando de ombros. – Você é que não para de olhar para os lados.
– É? Nem tinha me dado conta.
Que horror! Ele já fora muito melhor em inventar desculpas do que aquilo. Isso lá era resposta. Achou que, provavelmente, seu cérebro tivesse embotado de vez. Será que era excesso de estudo ou era culpa da noite anterior. Achou que a palavra culpa tinha vários sentidos nesse pensamento. Um raio momentâneo de atividade cerebral o fez virar a questão contra Rony, que ainda o olhava desconfiado.
– Ah, qual é, Rony? Já basta eu ter de ficar de vela para vocês dois. Você não vai querer que eu fique olhando para aprender suas diferentes técnicas de beijar a Hermione, não é? Por mais fascinante que isso seja – acrescentou sarcástico.
Rony ficou imediatamente vermelho, mas deu um sorriso entre sem-jeito e presunçoso, enquanto apertava o braço que circulava os ombros da namorada. Hermione estreitou os olhos e negou brevemente com a cabeça, sem que Rony notasse. Harry agradeceu mentalmente por ela não poder repreendê-lo no momento.
– Oi galera! – Cumprimentou uma voz animada às costas de Harry, fazendo-o virar-se tão rápido que quase se desequilibrou. Seu estômago entrou imediatamente numa espécie de vácuo quando ele se deparou com Gina sorridente, exibindo um enorme pedaço de bolo de abóbora num lenço de papel entre as mãos. Harry achou que ela corara um pouco ao cruzar os olhos com os dele, mas a garota manteve o sorriso e a expressão determinada.
– Onde você esteve? – Perguntou Rony um pouco ríspido. – Não te vi nem no café, nem no almoço.
– Ah – ela fez um gesto vago com a mão livre – eu fui dormir tarde e acabei chegando bem no finzinho do café. Vocês já tinha ido para a biblioteca estudar. Aí na hora do almoço eu estava sem fome… O que me lembra… Eu não estou falando com você hoje, Ronald! E nem me venha com suas caretas indignadas! Não falo com você, até você me pedir desculpas, tá? – Ergueu o queixo e virou-se decidida dando as costas para o irmão. – Harry, vamos ter treino de Quadribol hoje?
Harry a olhou, durante alguns segundos, com uma expressão meio abobalhada. Primeiro, porque olhar para ela levou seu pensamento direto para a sala de aula da noite anterior, o que o fez demorar a decodificar as palavras que ela dizia. Depois, quando finalmente entendeu, achou que não sabia o porquê de Gina estar perguntando aquilo. É claro que teriam treino. Estava marcado, ora bolas! E depois de tudo o que tinha acontecido entre eles, Gina queria saber de Quadribol?
– Harry?… Harry – ela repetiu – você está ok?
– Hã… estou, estou sim. – A resposta saiu meio sem graça e um pouco mal humorada. –Claro que vai ter treino hoje, Gina. Por quê? – Acrescentou desconfiado.
– Ah, nada não. É que eu marquei com a Luna logo depois do treino para tirarmos umas dúvidas de Transfiguração – ela falou pausadamente e Harry poderia jurar que um brilho diferente, quase ansioso, cruzou os olhos castanhos quando ela o encarou. E, sem dúvida, o rosto dela novamente assumira um delicado tom de poente. – Acho que se eu tiver uma meia hora com ELA poderemos esclarecer todas as dúvidas, sabe?
Gina explicou aquilo com um sorriso esquisito. Tão esquisito quanto a própria explicação. Harry franziu a testa se perguntando o que havia ali… Toupeira! Xingou-se mentalmente e olhou imediatamente para Rony e Hermione, para ver se os amigos tinham notado o mesmo que ele. Rony não parecia muito interessado no que Gina dizia. Ainda estava furioso com ela e olhava acintosamente para o outro lado. Hermione, pelo contrário, parecia ter entendido cada palavra e antes mesmo de Harry.
– Ahãm – pigarreou, porque a voz pareceu engasgar na primeira tentativa. – Não se preocupe… eu acho… acho que você não terá problema com a sua meia hora de estudo. – Lançou um olhar de esguelha para Hermione, que revirou os olhos, mas pareceu concordar com o que quer que fosse.
Gina deu um sorriso um pouco maior e falou num tom diferente do excessivamente divertido que ela tinha usado quando Rony estava prestando atenção.
– Valeu Harry. Vejo vocês no treino!
Harry a acompanhou com o olhar enquanto ela se afastava. Os longos cabelos vermelhos batendo às costas e refletindo a luz pálida do dia nublado.
– O que você acha de fazermos um lanche antes do treino, Harry? – Perguntou Rony, para quem a aparição de Gina tinha dado idéias bem diferentes das que cruzavam na sua cabeça.
Hermione revirou novamente os olhos, num gesto característico, mas para a surpresa de Harry não reprimiu o namorado.
– É uma boa idéia, Rony. A gente até podia pegar uma cesta de coisas na cozinha e levar para campo, não é? Isso certamente vai impedir vocês de mais tarde de atacarem o jantar como trasgos.
– Essa é a minha garota! – Disse Rony com um sorriso dando um beijo estalado no rosto de Mione. – Me esperem por aqui, eu vou lá na cozinha buscar.
Harry tinha certeza que Hermione só incentivara aquilo para Rony sair e ela poder colocá-lo contra a parede quando estivessem sozinhos. Assim que Rony saiu, ele resolveu que não ia facilitar as coisas para a amiga, enfiou as mãos nos bolsos e se pôs a caminhar em direção ao campo de Quadribol. Hermione o seguiu.
– Afinal, o que houve ontem? – Ela perguntou quando emparelhou com os passos dele.
– Você quer mesmo que eu responda? – Isso lá era pergunta para ela fazer.
Hermione pareceu um pouco desconcertada, mas sorriu compreensiva.
– Bem… é que… eu só não acho justo vocês enganarem o Rony.
– Ninguém está enganado o Rony, Mione. – Harry reclamou aborrecido. – Como você é muito inteligente deve ter percebido que a Gina me chamou hoje só para conversar, ok? “Esclarecer dúvidas”!
– Eu entendi, Harry… Mas por que não falar na frente do Rony? E você nem nos contou nada do que aconteceu e…
Harry parou o passo e virou para encarar a amiga.
– O que aconteceu ontem não é para os ouvidos sensíveis do Rony, Hermione – ela abriu a boca numa expressão de espanto, mas também ligeiramente maliciosa. – E depois que conversarmos hoje… não vai acontecer mais, ok? É loucura! É perigoso! Eu… eu só vou esclarecer umas coisas com a Gina, tá?
Ele não esperou resposta. Virou e continuou a andar decidido, meio segundo depois, Mione estava novamente do seu lado.
– Sabe a minha opinião, Harry. Se o fato de vocês não estarem juntos não muda o que sentem, então não faz o menor sentido…
– Hermione, eu não quero discutir isso de novo, ok? Eu já tomei a minha decisão. Eu me prometi…
– Ah – a garota fez um gesto impaciente – não faça promessas que sabe que não vai cumprir.
Harry a olhou exasperado. Gina tinha a dito a mesma frase na noite anterior. Será que elas andaram conversando? “Garotas!”, resmungou para si mesmo. De qualquer jeito, ele não queria ouvir Hermione. Ele a ouvia dizer aquelas coisas desde o verão e uma parte grande e meio furiosa dele queria seguir os conselhos da amiga. Uma parte que Harry tentava sufocar todos os dias, da manhã à noite. Mas apesar dessa feroz batalha interna, ele tinha certeza que o melhor a fazer era conversar com Gina e garantir que eles conseguissem ficar longe um do outro.
– Sabe que é uma guerra perdida, não sabe? – Hermione interrompeu seus pensamentos como se os tivesse lendo, mas Harry achou que era bem mais provável que estivessem escritos na sua cara. – Pode não ser hoje, ou amanhã, mas não vai conseguir sufocar isso para sempre.
– Quem falou em para sempre? Hermione às vezes vocês parece esquecer o que eu tenho que fazer… o que nós temos que fazer! – Corrigiu-se depois de um olhar dela. – Até isso estar terminado, de uma forma ou de outra, é assim que tem que ser!
Hermione sacudiu os cachos e Harry por um segundo achou que ela não ia se dar por vencida e ia continuar a azucriná-lo com aquele assunto.
– Não vou discutir com você, Harry.
– Não vai? – Ele fez uma expressão admirada.
– Não.
– Por quê?
– Porque, desta vez, provavelmente você está certo e eu estou errada – Harry arregalou os olhos num ângulo quase impossível. Hermione Granger admitindo que estava errada? – Mas acho que no fim, você vai perceber que não consegue fazer exatamente o que é certo e que isso não é tão ruim assim. – Ela completou jovialmente.
Harry preferiu achar que não tinha entendido o que ela tinha querido dizer com aquilo. É claro que ele ia conseguir fazer o que era certo, mesmo que isso lhe custasse um braço, uma perna e metade da alma. De novo, uma dor de vazio no peito pareceu se instalar ali como se uma noite ruim tivesse chegado mais cedo. Harry queria mudar de assunto, mas ao ver Rony saindo do castelo com uma enorme cesta nas mãos, resolveu fazer a pergunta que queria à Hermione antes que ele chegasse.
– Afinal, o que foi que fez o Rony e a Gina discutirem ontem, hein?
Hermione deu de ombros, mas pareceu chateada.
– Praticamente o de sempre nos últimos tempos… ah, eles têm o cuidado de não discutir perto de você – ela acrescentou ao ver a expressão inquisitiva dele. – Rony parece achar que mesmo vocês estando, bem… afastados, sabe? Que a Gina é… sei lá, propriedade sua. Ele está três vezes mais implicante e regulador com ela. Nós até já brigamos por causa disso – ela deu uma risadinha. – Tá, a gente briga por outras coisas também, mas ele tem realmente passado dos limites com a Gina e com quase todo o garoto que chega perto dela. Outro dia tive que segurá-lo para ele não azarar um garoto da Lufa-lufa só porque o menino se ofereceu para levar os livros de Gina para a aula.
– Quem? – Ele perguntou rápido e Hermione arqueou a sobrancelha parecendo divertida. – Ah, esquece!
Rony já estava com eles e Harry e Hermione ficaram quietos. Mas Harry não pode deixar de sentir um enorme assomo de gratidão pelo amigo, embora soubesse que eles não deviam fazer aquilo. Isto é, nem Rony devia perseguir Gina. Nem ele devia torcer para que Rony azarasse, por ele, todo o cara que chegasse perto dela. Sentia-se também um pouco culpado em relação ao amigo, mas não o estava enganando. O encontro com Gina tinha sido um descuido, um deslize. Não ia acontecer de novo.
Os três se dirigiram para o campo de Quadribol e logo o time todo estava lá. O time era o mesmo do seu sexto ano, exceto por Cátia Bell, que terminara a escola no ano anterior. Mesmo contra a vontade, Harry acabara chamando Dino Thomas, que tinha sido o reserva de Cátia no ano anterior, para ocupar a posição vaga de artilheiro. O colega voava bem e se entrosava perfeitamente com Gina e Demelza, o que já tinha valido algumas vitórias para o time da casa. O problema é que parecia que Dino tinha visto com grandes esperanças o fim de namoro de Harry e Gina. E isso, às vezes, tornava os treinos excepcionalmente compridos para o capitão da Grifinória, pois enquanto ele tinha de ficar lá em cima procurando o pomo também podia observar Dino organizar jogadas e comemorar gols com a SUA garota.
O lanche trazido por Rony animou a equipe e evaporou ainda no vestiário, enquanto eles repassavam táticas que Harry queria testar para o próximo jogo contra a Corvinal. Mas a animação acabou sumindo depois dos primeiros vinte minutos de vôo. Rony, num dia realmente muito bom, era sem apelação o melhor em campo. Coisa que ele não demorou a perceber e reverter em gritos, especialmente com Harry e com os artilheiros. Harry devolvia os gritos, mas não estava zangado com Rony e sim consigo mesmo. Ele estava completamente desconcentrado e não podia afirmar, mas achava que era por culpa de Gina que os artilheiros também não estavam se achando em campo. A ruiva estava desatenta, teria sido atingida por um balaço rebatido por Cadu, se Jaquito, o outro batedor, não o tivesse desviado dela. Harry não teve tanta sorte, levou um balaço doloroso na ponta da bota e que ele esperava não lhe ter quebrado uns dois dedos do pé.
Já passava das seis da tarde, quando a falta de luminosidade e a irritação fizeram Harry dar o treino por encerrado. No geral, tinha sido uma droga, mas ele desceu dizendo que tinha sido ótimo, que iam arrasar Corvinal e que fariam mais uns três treinos durante a semana. Só a última frase foi recebida com concordância pela equipe, que saiu de campo parecendo bem frustrada.
Hermione já esperava Rony perto das arquibancadas e saiu correndo para pular no seu pescoço assim que ele chegou ao chão. Era estranho ver Hermione ter esses arroubos com o Rony. Mas Harry já estava se acostumando, tanto quanto ver o amigo retribuir e, sem nenhuma exceção, acabar por beijá-la sem pudor na frente de todo mundo.
– Você esteve ótimo, Rony – ela conseguiu dizer assim que o garoto a permitiu respirar. Como sempre acontecia quando alguém o elogiava, Rony pareceu subitamente mais alto.
– Valeu, Mione! Você viu quando o… – e ia começar a repassar suas defesas da mesma forma que a namorada repassava as provas, mas parou no meio. – Hermione, cadê as suas luvas?
– Ah, eu acho que esqueci lá dentro – ela respondeu meio batendo queixo e Harry, que lembrava claramente de vê-la com as luvas, entendeu o que ela pretendia no mesmo momento. Sentiu-se grato e… ainda mais culpado.
– Nossa! Mione, você está gelada – falou Rony com uma cara preocupada. – Aí, galera, eu vou indo para o castelo, ok? Não quero que a Hermione fique aqui fora mais tempo. Pode sumir com o sorrisinho babaca, Peakes! Harry, você vai discutir alguma coisa… pode me passar depois ou…
– Não, Rony! Pode ir com a Mione. Eu vou… acho que olhar uns esquemas do Olívio, para ver se podemos usar alguma coisa, mas a gente fala sobre isso no próximo treino.
– Certo – concordou Rony e virou para trás. – Gina, você quer…? Cadê a Gina?
Realmente a ruiva não estava mais com eles.
– Ela já deve ter ido para o castelo, Rony – respondeu Hermione. – Ela tinha marcado com a Luna, lembra?
Rony forçou a vista em direção à escola tentado divisar o vulto da irmã, mas já estava bem escuro e Hermione voltou a tremer sob o seu braço. O que pareceu ser suficiente para ele. Despediram-se do resto da equipe.
– Você vai demorar Harry? – Perguntou já saindo.
– Uma meia hora, Rony. Vou olhar os quadros do Olívio…
– Tá… ‘Té mais, então!
Rony e Hermione seguiram para o castelo, seguidos por Demelza e Dino. Este último parecia bem decepcionado com o sumiço de Gina depois do treino. Harry já tinha notado que ele sempre tentava dar um jeito de voltar com ela para o castelo. O que irritava simultaneamente a ele e Rony, embora só Rony falasse em voz alta. Cadu e Jaquito ajudaram Harry a guardar o material de jogo e seguiram também para a escola.
Harry estava fechando o armário quando ouviu um barulho atrás dele. Sabia que era Gina, antes mesmo de se virar. Os dois se olharam por quase um minuto antes de falarem. Parecia que todo o constrangimento que tinha sufocado o dia todo tinha vindo à tona, mas Harry resolveu que seria melhor que ele falasse antes dela. Afinal, fora Gina que marcara o encontro, e ele estava morrendo de medo que ela dissesse alguma coisa que o tentasse a mudar de idéia. Sim, seria melhor que ele falasse antes… Pelo menos antes que o monstrinho, que protestava furioso dentro dele, o fizesse esquecer de Voldemort, lembrar que estavam sozinhos e o impulsionasse a acabar com o espaço entre eles. Enfiou as mãos nos bolsos, rezando para conseguir mantê-las quietas ali.
– Eu… – começou, mas percebeu um movimento de Gina em direção a ele e ergueu a cabeça decidido – eu quero pedir desculpas por ontem. – Ela parou. – Foi um erro… Eu ainda acredito em tudo o que disse para você no verão, Gina. Não podemos ficar juntos. Por mais que eu goste de você, isso é, por enquanto, definitivo. – Harry não tinha idéia de como conseguira manter a voz firme ao dizer tudo aquilo. – Não quero e não vou colocar você em perigo novamente.
Encarou-a com uma decisão e uma coragem que estava longe de sentir, não queria que ela visse que ele estava fraquejando. Gina estava estática, as feições duras, mas havia alguma coisa diferente nos seus olhos. Harry estremeceu. Ela já tinha compreendido as suas razões uma vez, mas por algum motivo, as palavras dele, agora, pareciam tê-la decepcionado. O garoto sentiu uma enorme repulsa por si mesmo por ter de fazer o que estava fazendo… Por ter de rejeitá-la… pela segunda vez.
– Ok – Gina concordou com frieza. – Não precisa se desculpar, não. Você não fez nada sozinho… Bem, acho que agora as nossas “dúvidas” ficaram bem “esclarecidas”. Melhor assim. A gente se vê no castelo.
Gina virou para sair, mas não chegou até a porta do vestiário. Harry tinha agarrado o seu braço, embora se arrependesse imediatamente ao sentir uma espécie de faísca percorrer o seu corpo inteiro.
– Você tinha algo para falar, Gi… fale.
– Não era importante.
Por que raios ela tinha de parecer tão segura? Não… seria bem pior se ela desmoronasse como na noite anterior com a Hermione. Tinha sido isso que tinha começado tudo. Mas ainda assim, Harry não achava justo que ela não dissesse o que tinha vindo para lhe dizer.
– Gina, por favor, fala!
– Esquece, Harry!
– Não! Eu quero saber, droga! Você não ia inventar isso tudo à toa! Fala!
Gina libertou o braço num safanão e jogou o cabelo para trás.
– Quer saber? Eu não vim aqui pedir para a gente voltar, se era esse o seu medo, ok? –A voz dela tremia ligeiramente. – Eu só vim dizer que… bem, só saber que você realmente gosta de mim, é muito bom e… eu também queria que você tivesse certeza de que eu… Eu só não quero que você fique pensando as mesmas bobagens que o Rony a meu respeito, ok? Eu só… é só uma fachada. É o meu jeito de ajudar… pelo menos a você não se preocupar comigo.
Harry acharia mais tarde que o único jeito de descrever o que aconteceu depois foi que tudo ficou escuro na sua frente e quando ele viu já estava com Gina nos braços, beijando-a. Mas era um beijo bem diferente de todos os que ele já tinha dado na vida. Não achava que fosse possível beijar com tanta raiva e frustração. Não achava que fosse possível querer que um beijo esvaziasse a quantidade de coisas que ele estava sentindo naquele momento. E, ainda assim, achou que, como na noite anterior, parecia que ele tinha voltado a respirar ar fresco depois de ter ficado muito tempo sufocado.
Gina demorou um pouco para reagir. Pareceu surpresa, mas não resistiu. E foi preciso um bom tempo antes que o lado coerente dele o alertasse que talvez ele a estivesse machucando ou assustando ao agir de forma tão violenta depois de tê-la dispensado. Harry se afastou o suficiente para encarar o seu rosto, mas sem conseguir soltá-la. A garota o encarava muito séria, os lábios inchados. Tinha dado tudo errado! Ele era um idiota, um trasgo, o que ele ia fazer? Agarrá-la de novo e depois dispensá-la por uma terceira vez? Os braços começaram a escorregar do abraço. O monstrinho, reclamando mais do nunca.
– Gina, eu…
Ela o agarrou pelas veste e com uma força surpreendente para alguém bem menor que ele, o empurrou contra a parede, com tal energia que ele chegou bater dolorosamente com a cabeça na parede.
– Harry – disse Gina decidida. – Cala a boca… Você pensa demais.
Não com ela por perto.
O “estudo com a Luna” durou bem mais de meia hora, bem como a “revisão dos esquemas táticos de Olívio Wood para o time”. Harry e Gina entraram no Salão Principal já quase no fim do jantar com estudados cinco minutos de diferença, usando todo o talento interpretativo que tinham para disfarçar as caras culpadas. Rony fez um interrogatório à Gina porque Luna tinha chegado bem antes dela e Gina inventou uma série de desculpas que envolviam largar no quarto a vassoura que ela ainda trazia na mão e os por quês de não ter conseguido. Harry não poderia dizer se Rony acreditou e ele não tinha a menor condição de encarar o amigo. Não que houvesse acontecido nada demais, pelo menos não muito mais que na noite anterior. Ainda assim achou que seria melhor se limitar a comer e sorrir apenas para o próprio prato. Só por segurança.

Nenhum comentário:

Postar um comentário