quinta-feira, 25 de outubro de 2012

7. O Casamento




Ele detestava aquela sensação de puxão no umbigo. A chegada do restante da família Weasley, na casa dos Delacour, para o casamento, foi feita por chave de portal, que como disse o sr. Weasley antes de partirem, eram mais eficientes em viagens de longa distância.
Assim que eles pisaram em chão firme Harry tentou, em vão, avistar Gina, pois queria conversar logo com ela. Foram recebidos pelo pai de Fleur que levou os rapazes a um grande aposento para que pudessem se arrumar e em seguida mostrou a sra Weasley e Hermione o quarto onde as mulheres também estavam se trocando.
Haviam acordado cedo, mas tiveram que esperar os gêmeos chegarem, e estes haviam se atrasado na loja, o que havia deixado Molly e Mione desesperadas pelo pouco tempo que teriam para fazer os feitiços de maquiagem e penteados.
Assim que Fred e George, que por sinal estavam tratando Harry com uma frieza que este imaginava ser por causa do seu rompimento com Gina, saíram do quarto deixando este e Rony terminando se de vestir, o moreno perguntou:
_ Será que a sua irmã vai me perdoar?
_ Ela sabe que você fez aquilo que achou certo. – o ruivo terminou de ajeitar o cabelo e encarou o amigo. – Ela entende tudo que você passou e que ainda vai passar, mas…
_ Mas… o quê?
_ Conhecendo a minha irmã como eu conheço, eu acho você deveria se preparar, pois o orgulho e a teimosia típicas dos Weasley vão falar mais alto.
_ Isso era para me deixar animado? – os olhos verdes exibiam uma preocupação genuína.
_ Isso, é para você ver que não vai ser fácil, mas é possível. – e empurrando o amigo pelos ombros, desceram para o local onde a cerimônia ia se realizar.
~~~~~
Quando os primeiros acordes de uma música suave chegaram aos ouvidos de Harry ele se virou, assim como todos que estavam presentes, para ver a entrada da noiva, mas sua atenção era somente para a ruiva que vinha à frente num lindo vestido levemente dourado que caia muito bem em seu corpo e usava um delicado enfeite de flores na cabeça, fazendo com que o conhecido mostro que habitava as entranhas do rapaz rugisse raivosamente.
“Um passo na frente do outro. Só isso. Não precisa se preocupar, Gina! É só caminhar. Não olhe para os lados. Não! Não veja aqueles olhos esmeralda te observando. Vire a cabeça para o outro lado e sorria para sua tia Griselda e seu tio Urich. Isso… NÃO! Ginevra Weasley, pare agora de buscar a imagem dos cabelos negros e rebeldes dele pelo canto dos olhos! Por Merlim ele não desgruda a vista de mim. Eu devo estar mais vermelha que o normal.” Gina tentava em vão se concentrar na sua tarefa de servir de dama de honra de Fleur junto com Gabrielle. Contudo desde o momento que pisara no tapete que levava ao altar, ela só conseguia pensar nele. Hermione já tinha avisado que ele queria falar com ela e se isso tivesse acontecido alguns anos antes, provavelmente ela teria corrido na mesma hora para atendê-lo, mas ela havia amadurecido e agora conseguia se controlar. É obvio que ela ainda queria sair correndo dali e se aninhar nos braços dele, sentir o sabor de seus beijos, mas ela não ia fazê-lo. Pelo menos não enquanto ele não tivesse sofrido um pouquinho de saudades dela.
Durante toda cerimônia Harry percebeu que Gina evitava encará-lo. Seus olhares se encontraram durante alguns segundos nos quais ela corara levemente, e tinha certeza que ele também. Agora estava ali naquela fila, que se movia tão devagar quanto uma tartaruga manca, para parabenizar os noivos, e não sabia mais onde ela estava.
Depois do que pareceu uma eternidade, ouviu Hermione, que estava à sua frente junto com Rony, cumprimentar Fleur e Gui, e depois este cumprimentá-lo:
_ Harry! Que bom que pôde vir. – o mais velho dos rapazes Weasley ostentava um enorme sorriso ao abraçá-lo.
_ É… bom… felicidades para vocês.
_ Árry, mon cher, merci. – Fleur deu dois beijos estalados na bochecha do rapaz antes de soltá-lo.
Após cumprimentar os noivos, Harry foi se juntar aos amigos que estavam sentados em uma das muitas mesas colocadas no jardim, mas foi forçado a parar primeiro na que se encontravam alguns membros da Ordem da Fênix.
_ Potter, venha cá um minuto. – a voz de Olho-Tonto Moody não escondia um certo grau de exasperação.
_ Alastor, isso não é hora, nem lugar. – McGonagall resolveu se adiantar ao auror. – Olá Harry, como está?
_ Boa tarde a todos. – Harry pôde notar que Lupin e Tonks, sentados ao lado de Moody, pareciam ter se acertado. – Estou bem melhor diretora. Obrigado. O que deseja, professor Moody?
_ Eu já falei que nunca fui professor, Potter. A professora Minerva nos contou sobre o objeto que você e Dumbledore encontraram, eu gostaria de vê-lo e também queria que relatasse todo o ocorrido …
_ Alastor! Eu já avisei. Esse assunto será tratado em outra ocasião. – A nova diretora silenciou o ex-auror com a mesma rigidez com que tratava seus alunos. – Potter, assim que você sair da casa de seus tios, nós marcaremos uma reunião para que todos possamos avaliar corretamente essa situação. Por hora vá se divertir.
_ Claro, tudo bem.
Apesar das palavras sensatas de McGonagall, as lembranças duramente deixadas de lado, assolaram a mente do rapaz que foi andando desanimado ao encontro dos amigos que já estavam acomodados em uma mesa junto com os gêmeos.
_ O que eles queriam, Harry? – perguntou Hermione.
_ O de sempre. Tirar o meu sossego. – falou sério encarando o chão. – Não quero falar sobre isso agora, quero tentar aproveitar a festa.
_ Olá pessoal.
A voz de Gina soou à sua frente e Harry imediatamente sentiu seu corpo vibrar. Ele ergueu a cabeça e admirou-a. Como ela estava linda! Ela abraçou os irmãos e Hermione, e o moreno pensou se ela iria ignorá-lo como ele fizera na estação, mas para a sua surpresa ela se aproximou e repetiu o mesmo gesto com ele.
_ Como vai, Harry? – perguntou ligeiramente ruborizada.
_ Bem… quero dizer, não… – ele simplesmente não sabia o que dizer à ela.
_ Eu queria apresentá-los aos primos de Fleur. – falou a ruiva enquanto se soltava do abraço. – Essa aqui é Michele e esse é seu irmão Michel. – apontou para dois jovens loiros provavelmente da mesma idade dos gêmeos. – Eles estudam em Beauxbatons. Ah, e a Gabrielle todos vocês já conheceram, não é?
Harry pôde observar que a irmã de Fleur havia crescido e estava cada vez mais parecida com ela, e seus primos também não negavam sua ascendência veela. Depois das apresentações e cumprimentos, todos se sentaram e para desapontamento do rapaz quem ficou ao seu lado foi Gabrielle e não Gina. Enquanto as comidas eram servidas ele podia ouvir a francesa tagarelando ao seu lado, porém sua atenção ia toda para a animada conversa entre a ruiva e Michel. Quando os dois se levantaram e saíram, Harry engasgou e sentiu o monstro dentro de si urrando de ódio.
_ Para onde eles foram?
_ Calma, Harry. Eles foram dançar só isso. – disse Rony segurando-o pelo braço que já apertava fortemente a varinha.
_ É cara! O que você queria? Que ela ficasse pra sempre te esperando? – Fred não resistiu a tentação de alfinetá-lo.
_ Quem mandou dar um fora nela, ex-cunhadinho? – completou George.
O moreno sentiu seu estômago cair e de vermelha, sua face subitamente ficou pálida. Era isso. Ela não iria perdoá-lo. Ele a perdera. Todos na mesa olhavam para ele esperando por alguma reação, que não veio. Olhou o casal que dançava juntinho, a uma certa distância de onde eles estavam e percebeu o quanto queria estar no lugar do francês. Antes que as lágrimas, que teimavam em se formar, caíssem, levantou e deu uma desculpa qualquer para sair dali.
_ Eu… eu vou pegar uma bebida pra mim. – disse ignorando a aproximação de um garçom com uma bandeja repleta de copos e taças cheias e saindo apressado.
_ Vou com você. – Rony falou o seguindo.
_ Não precisa.
_ Eu sei que você não quer companhia, mas eu vou ficar do seu lado mesmo assim. – o amigo apoiou o braço em seu ombro. – Se acalma, cara. Eles não têm nada. Não liga pro que os gêmeos falaram. Foi tudo pra te irritar.
_ Mas eles estão certos. – chegaram onde estavam as bebidas e pegaram umas garrafas de cerveja amanteigada. – Você viu como ela me tratou?
_ Ué. Ela te tratou bem. Até te abraçou. – começaram a andar em torno da pista de dança.
_ Pois é. Por isso mesmo. Ela me tratou do mesmo modo que tratou os outros. Foi como se ela não se importasse…
_ Eu falei que não ia ser fácil. Só não esperava que você fosse desistir tão rápido. – o ruivo falava calmamente.
_ Como assim? – Harry parou subitamente encarando o amigo.
_ Não é óbvio? Ciúmes, meu caro Harry. Ciúmes.
_ Você está me dizendo que ela quer me fazer sentir ciúmes, é isso?
_ E eu que pensava que era tapado. – o moreno ergueu uma sobrancelha. – Merlim, como você vai salvar o mundo bruxo se não consegue nem perceber que a minha querida irmãzinha, apesar de estar dançando com o veela-macho, não parou de olhar pra cá? – Rony abria um sorriso cada vez maior à medida que falava. – Ela está fazendo isso pra mostrar o que você pode perder se continuar insistindo nessa besteira.
_ E ela conseguiu. Eu realmente percebi. – olhou mais uma vez para o casal que agora dançava abraçado uma música lenta, pensou e tomou uma decisão. – Já sei o que vou fazer. – virou para o amigo e abriu um discreto sorriso maroto. – Obrigado pelo toque, cunhado. – e saiu rumo ao casal na pista.
Gina tentava se concentrar na dança. Havia pisado nos pés de Michel umas duas ou três vezes, pois ficara tentando ver Harry enquanto dançava. O francês, que percebera o motivo de sua desatenção, tinha feito com que ela ficasse de costas para harry e tentava a todo custo fazer com que a ruiva lhe desse uma chance. Eles se conheceram assim que ela chegou à França, e desde então não parava de tentar conquistá-la. Mesmo quando tinha contado sobre seu relacionamento com o “Menino-que-sobreviveu”, o loiro não se importara, dizendo que a faria esquecer dele num instante. No início Gina achou engraçado, mas agora estava ficando cansativo. Ainda bem que voltaria para a Toca no dia seguinte.
_ Voncê non está ecutando moi? Nes pá?
_ Oh, desculpe Michel. Eu me distrai.
_ Com licença. Desculpe interromper, mas será que eu poderia dançar com ela agora?
Os dois pararam de dançar no mesmo instante. Gina mal podia acreditar que Harry havia tomado tal atitude. Michel muito a contragosto soltou a garota e lançou ao moreno um olhar que o fez lembrar do episódio da briga das veelas com os leprechauns na Copa Mundial de Quadribol. Sem hesitar puxou a garota contra si para dançarem. E na mesa Fred e George iniciaram mais uma rodada de apostas sobre de que forma terminariam a dança se sozinhos ou como um casal.
Gina procurou não se apavorar. – Calma menina! – Dizia a si mesma. – Não alimente esperanças, ele só está com sentimento de posse, ou então te mostrando que ainda podem ser amigos. Isso! Amigos. Merlim, como ele está lindo! Controle-se Ginevra Molly Weasley. Você é ou não uma grifinória? Então! Trate de agir como uma pessoa normal, e nem pense em fugir dele como fazia antigamente. Você mudou: cresceu, apareceu, ele te beijou, te dispensou… tá essa não é uma lembrança encorajadora… Como eu falei que ia agir? TRESTÁLIOS SANGRENTOS! Alguém faz esses olhos verdes saírem de cima de mim, porque senão eu não consigo me controlar! E eu ainda quero pensar… não consigo nem lembrar do nome dos meus irmãos, quanto mais pensar. Deixa-me tentar: Gui… Carlinhos… Fred… Rony… eu sei que tá faltando gente, porque meus pais tiveram tantos filhos… Morgana das Fadas! Lembrei. Eu disse pra mim mesma que ia ser amiga, companheira e ia dar a ele o tempo que ele precisasse. Agora respira… isso. Mais uma vez… muito bom. Agora fala com ele, normalmente. E pra constar, sua cabeça de fósforo: Percy e George também são seus irmãos…
_ Obrigada por me salvar. – ela falou com as orelhas coradas.
_ Salvar?
_ É eu já não agüentava mais a conversa do Michel… – pronto já conseguia conversar com ele sem gaguejar.
_ Ele estava te incomodando? – ela sentiu a mão dele apertá-la um pouco mais forte.
_ Não, digamos que ele não está acostumado a ter que insistir tanto. – ela falou rindo.
_ Ele está a fim de você? – ela assentiu e baixou o olhar.
_ Não importa, não é mesmo? – ele pôde perceber o orgulho típico dos Weasley presente nas poucas palavras.
_ Você está linda… – ela não respondeu, apenas encarou-o.
Ficaram em silêncio durante alguns momentos, somente absorvendo as sensações, até que ela retomou a conversa.
_ Como você tem passado, lá com seus tios?
_ Normal. Eles me ignoram e eu faço o que eles mandam. – Harry tomou coragem e tentou mais uma vez. – Gi, eu queria te dizer que…
_ Agora não, Harry, por favor. – os olhos castanhos suplicavam. – Se você quiser, quando voltarmos a gente conversa, tá bom?
_ Tá, se você prefere assim… – ele falou desanimado. Bem que Rony avisou que não ia ser fácil.
_ É melhor. – se ele fosse terminar com as esperanças dela, pelo menos que fosse num lugar em que ela pudesse “sumir” para chorar sossegada. Recuperando um pouco o controle, continuou. – Eu posso pedir um favor?
_ Claro.
_ A Gabrielle. – o olhar dele demonstrou incompreensão. – Dança com ela. Ela falou nisso o tempo todo desde que cheguei aqui.
_ Gina, eu…
_ Por favor. Dança só uma música com ela. – ela olhou-o diretamente nos olhos. –Acho… que ela também gosta de você…
_ E voc̻ ṇo se importa? Рela ficou vermelha.
_ Eu não tenho mais direito de me importar. – Ele a abraçou ainda mais e ela pôde sentir seu perfume inebriando-a.
Como sentia falta dela. Como ela conseguia ser assim, sempre tão forte, colocando os outros à sua frente nas prioridades, todas as vezes.
_ Eu danço, se você quiser. Mas só porque você está pedindo. – ela sorriu.
_ Então vamos lá pra mesa, aí você chama ela. – eles pararam de dançar, mas ainda demoraram algum tempo até se soltarem.
Voltaram à mesa onde em seguida Harry cumpriu sua promessa e convidou uma embevecida Gabrielle para dançar, sob os olhares de incompreensão de Rony e Hermione, e pelos sorrisos declarados dos gêmeos, que no final haviam ganhado todas as apostas.
Quando retornaram à noite para a Toca, estavam todos exaustos mas felizes. Haviam se divertido muito. Hermione conseguira convencer Rony a dançar com ela e depois este, encorajado possivelmente por meia dúzia de cervejas amanteigadas, não parecia querer parar mais. As meninas praticamente se degladiaram para ver quem conseguia pegar o buquet, mas este caiu caprichosamente nas mãos de Tonks, que nem ao menos havia saído da mesa (Harry pareceu ter visto Lupin apontar a própria varinha discretamente para o enfeite neste momento, mas não podia ter total certeza). E agora Molly, que tratava tanto a auror quanto o ex-professor como se fossem da família, estava empolgada ante a possibilidade de preparar mais um casamento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário