quinta-feira, 25 de outubro de 2012

30. O Fim



Sirius seguiu apressado até o Salão Principal. Se Bellatrix estava dentro do castelo, era quase certo que Voldemort também estava. E devia estar atrás de Harry. Com uma facilidade inesperada, não encontrou viva alma pelos corredores, na verdade não encontrou alma nenhuma, já que nem os fantasmas cruzaram seu caminho até a porta que o separava de onde Harry estava esperando. Abriu-a num rompante não acreditando no que seus olhos viam. Gárgulas galopantes! Por que aquela comensal tinha que ter atrasado seus passos? A sua frente viu nitidamente, mesmo estando do lado oposto do grande salão, o momento que Voldemort atingia Harry com o raio verde da morte. O grito angustiado saiu involuntário de sua garganta enquanto sentia que o ar deixara completamente seus pulmões quando seu coração falhara algumas batidas. Ao mesmo tempo em que seu cérebro processava a informação que estava perdendo seu afilhado, mirou o Lorde das Trevas com a sua varinha. Contudo, antes que proferisse qualquer feitiço, percebeu algo muito estranho ocorrendo: Harry permanecia de pé.
Observou melhor a cena, os passos agora um tanto vacilantes indo na direção do embate, e viu que o raio verde atingia o rapaz bem no coração, mas não estava sendo fatal como se imaginava. Ao contrário, o raio parecia penetrar em seu corpo e retornar ainda mais brilhante fazendo Harry aparentar ter uma aura esverdeada ao seu redor. Mas apesar de não estar sendo fatal, pelas feições do jovem, também não estava sendo nada agradável. Voldemort era outro que parecia não acreditar no que estava vendo, nem percebendo a aproximação de Sirius, tal era o grau de estupefação.
Alguns poucos instantes depois, que para um simples observador pareceriam horas, o raio verde que saia da varinha de Tom Riddle cessou e antes mesmo que Sirius esboçasse qualquer movimento para ajudar Harry, ou que Voldemort tivesse alguma reação, foi com horror e incompreensão que este se viu sendo atingido pelo feitiço que retornava não da varinha do “eleito”, mas de seu corpo como se ele o tivesse filtrado e devolvido. Sirius permaneceu paralisado ao ver o corpo ofídico receber de volta a própria maldição, e depois a sétima parte de sua alma se esvair, deixando-o definitivamente sem vida.
Quando o último traço de luz verde deixou o corpo de Harry atingindo seu adversário, o jovem lançou um olhar assustado e sem brilho para a figura de seu padrinho que apareceu em seu campo de visão, desmoronando em seguida sobre o piso de mármore do Salão Principal de Hogwarts.

Gina desviou de uma azaração que vinha em sua direção bem na hora que o aluno da Corvinal conseguia acertar o comensal que tinha atacado. Mas apesar do momentâneo alívio que sentiu, um aperto em seu coração a dizia que algo tinha acontecido.
- Harry…
Murmurou enquanto segurava com força a corrente que tinha recebido dele de aniversário. Olhou em volta. Queria sair dali e ir ao encontro dele, mas não podia deixar os outros alunos sozinhos. Era ela que tinha mais experiência em batalha entre eles, já que Hermione tinha ido para a ala hospitalar.
Inesperadamente os poucos comensais que ainda tentavam entrar no castelo por ali se detiveram, observando espantados as marcas negras em seus braços, ou pelo menos era isso que Gina supunha ao vê-los. No instante seguinte começaram a gritar enfurecidos e a atacar de uma forma tão desordenada quanto desesperada, que facilitava para os defensores de Hogwarts e membros da Ordem da Fênix capturá-los.
Movida por sua curiosidade natural, Gina aproximou-se do comensal que jazia ali perto, ainda estuporado, e ergueu devagar a manga esquerda da veste negra que ele usava. O braço liso, sem nenhuma marca acabou com qualquer dúvida que a ruiva pudesse ter sobre o que havia acontecido.
- Ele conseguiu. – Sua voz saiu baixa e embargada.
Olhou ao seu redor e se alegrou ao ver Tonks se aproximando para aparatar os prisioneiros.
- Tonks. – Chamou indo ao seu encontro.
- Oi, Gina. O que foi? – A seriedade com que falou não lembrava, nem de longe, a moça normalmente tão desastrada e alegre.
- Eu preciso ver o Harry.
- Vocês não tinham… – Tonks olhou preocupada e ao mesmo tempo intrigada, mas antes de terminar de perguntar foi interrompida por Gina.
- Você não percebeu? Acabou! Voldemort está morto.
- Como?
- Olhe. – Levou a auror até o comensal desacordado e mostrou-lhe o braço esquerdo. – Eles não têm mais a marca. – Um grande sorriso iluminou o rosto da metamorfomaga que em seguida abraçou Gina.
- Dê um beijo nele por mim.
Gina assentiu e saiu correndo pelos corredores do castelo. Agora só faltava saber onde ele estava.
——-
Hermione tentava a todo custo convencer madame Pomfrey que já podia voltar para a batalha, mas não estava sendo fácil convencê-la, ainda mais quando Molly Weasley ficava ao lado da enfermeira.
- Hermione Granger, eu tenho certeza que sua mãe não gostaria que você me desobedecesse, ainda mais nestas circunstâncias!
- Mas senhora Weasley, eu tenho que…
- A senhorita tem é que descansar, isso sim. – Madame Pomfrey falava enquanto fazia um pote com uma poção verde musgo flutuar de uma prateleira alta para sua mesa com um aceno de varinha.
- Você e Gina deveriam é ter ficado escondidas. – Resmungava Molly ao ajudar a enfermeira a ministrar a poção em um auror que havia sofrido uma estranha azaração.
Hermione ia argumentar que seria ainda mais difícil convencer Gina a não lutar, quando as portas da enfermaria se abriram dando passagem a um grupo de cabeças ruivas.
- RONY!
Foi tudo que Hermione conseguiu gritar ao perceber que o namorado, desacordado, estava sendo carregado por Fred e George. Imediatamente madame Pomfrey correu para o trio e com um movimento firme de sua varinha, colocou o mais novo dos irmãos numa das macas ainda disponíveis na ala hospitalar.
Molly parecia ter visto seu bicho-papão tomar forma novamente diante de seus olhos e Hermione não podia deixar de admitir que nunca fora tão nítido, até para ela. Mas como instinto materno não deixa lugar para o medo, a senhora Weasley se apressou para ajudar seus outros dois filhos que apresentavam várias escoriações e cortes pelo corpo, alguns bastante profundos e que sangravam aos borbotões, tratando logo de começar a curá-los, deixando que a enfermeira de Hogwarts se ocupasse apenas com Rony.
Hermione se aproximou devagar da cama onde o namorado estava. Seu corpo ainda tremendo, só que agora não mais por causa da maldição que sofrera. A visão do corpo pálido, os lábios já ficando azulados, junto com as roupas ensangüentadas, a prepararam para encarar as marcas evidentes de duas grandes presas na perna de Rony. Incompreensão, desespero e raiva se misturavam dentro de seu cérebro a confundindo como jamais pensara se confundir. Virou-se para um dos gêmeos, nem se dando ao trabalho de tentar adivinhar qual dos dois era como normalmente fazia e perguntou.
- O que aconteceu? – Fred ergueu a cabeça que antes mirava o grande corte que sua mãe acabara de curar em seu antebraço e olhou para a garota.
- A gente estava procurando a cobra, mas fomos atacados. Quando conseguimos encontrar, ela estava totalmente retalhada e o Rony estava caído ali perto.
- Não eram vocês dois que tinham que acabar com a cobra? – Hermione perguntou furiosa, fazendo George se erguer da cadeira onde estava e replicar exasperado.
- Só esqueceram de avisar para os comensais deixarem a gente passar, não é?
- Voc̻ acha que a gente ṇo matou a cobra por que quis? РArgumentou Fred tamb̩m cheio de raiva.
- Fiquem calmos, por favor. Isso não é momento para discussões. – Molly Weasley fez valer sua autoridade materna, que recaia até mesmo sobre a namorada do filho, para terminar com o bate boca.
- Desculpe. – murmurou a garota.
- Por favor, senhorita Granger, se está realmente se sentindo bem, talvez seja melhor que se retire.
- Não. Eu vou ficar e ajudar. – Tinha certeza que não conseguiria formular qualquer feitiço de forma correta numa batalha, estando preocupada com Rony.
Hermione procurou esquecer a raiva que sentia por estarem naquela situação e se concentrar em ajudar a enfermeira nos cuidados com o rapaz. Com delicadeza limpou o rosto do namorado e curou os pequenos machucados que ali estavam, tentando ignorar os lamentos de Molly e as exclamações de madame Pomfrey quanto a não ser capaz de cuidar daquele tipo tão grave de ferimento sozinha, o que fazia a senhora Weasley lamentar ainda mais.
- Não fique assim, mamãe. – Fred tentava acalmá-la, sendo completado por George.
- É. O papai também foi mordido por ela e está bem.
A lembrança do ataque ao senhor Weasley dentro do Ministério dois anos antes, perpassou a mente de Hermione, que se agarrou ao fato do homem atualmente estar sem nenhuma seqüela do ataque, e conseguiu se acalmar um pouco. O mesmo parecia ter ocorrido com Molly, que agora já tinha o semblante mais desanuviado.
- Assim que eu acabar com os procedimentos iniciais, irei enviá-lo ao St. Mungus. Lá saberão exatamente o que fazer.
Madame Pomfrey já estava se afastando para atender um outro auror que acabava de ser trazido, também desacordado, quando gritos eufóricos começaram a ser escutados por todo castelo. Hermione correu para a janela na tentativa de descobrir o que havia acontecido. Aparentemente alguns comensais haviam desistido de lutar e se deixaram prender. Outros ainda resistiam, como movidos por uma fúria insana que transparecia em suas feições. Ela não conseguia entender direito o que estava acontecendo para ouvirem tanta agitação e se assustou ao ouvir a voz de um dos gêmeos, que tinha se aproximado também para observar, atrás de si.
- Acho que… acabou. – O ruivo falou depois de alguns segundos.
- Acabou?
- É acabou! Olhe.
Hermione olhou para onde o cunhado apontava, mas só conseguia ver dois membros da Ordem da Fênix se abraçando e gritando exultantes, enquanto um comensal, já devidamente amarrado por cordas mágicas, olhava incrédulo para seu braço.
- Será? – Foi a única pergunta que conseguiu formular. Foram tantos momentos de angústia, tanta espera por aquele momento…
- O Harry conseguiu! O Harry conseguiu!
Fred e George, que seguira o irmão até a janela, começaram a cantar juntos e a fazer a mesma dança da vitória que Hermione lembrava de terem feito quando Harry se livrou das acusações do Ministério, enquanto ela ainda observava a cena do lado de fora, desejando, mas custando a crer, que aquilo que seus cunhados tinham afirmado fosse verdade.
- O Harry conseguiu! O Harry conseguiu!
Madame Pomfrey pensou em pedir aos dois ruivos para pararem com as gracinhas, ou até expulsá-los da enfermaria, mas desistiu ao ver que os demais pacientes que se encontravam lá pareciam mais animados ao ver tamanha euforia. Molly tentava repreendê-los, mas sua esperança de que eles tivessem razão, impedia que fosse tão firme quanto normalmente era.
- O Harry conseguiu! O Harry conseguiu!
Hermione já tinha se rendido às tentativas dos gêmeos de fazê-la comemorar e deixava-os ficarem rodando-a entre os leitos, quando as portas da enfermaria se abriram com um estrondo e a imagem de que Hermione não queria sequer cogitar adentrou: Harry estava desfalecido no colo de Sirius que não escondia as lágrimas de desespero que escorriam por seu rosto.
—–
Gina já havia procurado em vários lugares do castelo e perguntado por Harry a toda pessoa que porventura pudesse tê-lo visto, mas ninguém sabia dele. Então resolveu ir até o lugar que evitara até aquele instante, mais por medo do que por qualquer outra coisa: a ala hospitalar.
Evitou propositalmente as passagens que tornariam seu caminho mais curto, tentando enganar a si mesma de que era porque poderia encontrá-lo naquele percurso. Assim que chegou, respirou fundo antes de abrir devagar as portas da enfermaria.
Quando finalmente entrou, o silêncio quase sepulcral junto com os olhares chocados de todos que estavam ali na direção de um leito mais ao fundo, fizeram com que Gina sentisse um bolo começar a se formar em sua garganta. Não podia ser. A percepção de que entre as pessoas que rodeavam o leito estavam os gêmeos, sua mãe e Hermione, bastante inconsoláveis e um Sirius à beira do desespero não ajudou e sim fez com que suas pernas travassem.
Olhou para os outros leitos e as lágrimas que se formavam, involuntárias e impiedosas, só não impediu que reconhecesse Rony deitado a poucos passos de si. Mas isso foi pior. Se o irmão estava ali, ao que tudo indicava, desacordado, e Hermione e sua mãe estavam próximas a outra pessoa, esta só poderia ser…
- Harry?
Foi um sussurro praticamente inaudível. Um pensamento que se tornou palavra antes que percebesse. Contudo Gui, que só agora Gina notou estar junto aos demais, foi capaz de escutar. Ele levantou-se, beijou a testa de Fleur que estava sentada sobre uma maca próxima e se aproximou da irmã, que permanecia paralisada no meio da enfermaria.
- Gi… – Ela olhou para o irmão mais velho, percebendo o pesar em seu rosto.
- Não. – Foi abraçada e continuou com a voz embargada. – Ele está vivo, não está?
- Ele parece estar muito mal, Gi.
Aquela declaração, ao contrário do esperado, deu-lhe ânimo. Se ele estava vivo, não tinha porquê se desesperar. Ele ia conseguir. Sempre conseguia. Limpou as lágrimas e se desvencilhou de Gui, rumando decidida para o leito onde Harry se encontrava. Reprimiu a tristeza e o desespero que ameaçavam consumi-la ao ver o estado em que ele se encontrava. O moreno só estava vivo porque provavelmente era muito teimoso para dar o braço a torcer, pois o corpo pálido, frio e levemente acinzentado dizia o contrário. Talvez até Pirraça tivesse uma aparência mais saudável que Harry, no momento.
Tomou a mão que tantas vezes a acariciara entre as suas e beijou os lábios frios de Harry, sem se importar com a presença de ninguém. Ficou ali por alguns instantes até sentir que alguém a puxava para longe dele. Resistiu até que escutou sua mãe falando.
- Gina, vão levar eles agora pro St. Mungus.
Não importava quem seriam os “eles”. Para Gina só importava que Harry ia para o hospital e que se tudo corresse do jeito que imaginava, em pouco tempo poderiam comemorar a vitória juntos. Mas não podia ficar esperando.
- Eu vou também. – Disse de um jeito tão decidido que ninguém cogitou a hipótese de contradizê-la.
Enquanto via os preparativos da enfermeira para que Harry e Rony (formando o “eles”) fossem transferidos para o hospital bruxo, Gina procurou se manter presa ao pensamento de que Harry era o “Menino-Que-Sobreviveu”, pelo visto mais uma vez, e que apesar de estar com uma aparência pra lá de deplorável, ele ainda estava vivo. Pensando melhor, a palavra ainda não lhe parecia muito boa no momento.
Em pouco tempo o St. Mungus foi tomado por uma verdadeira multidão formada pelos Weasley, Hermione, Sirius, Tonks e Lupin, além de alguns membros da Ordem da Fênix e do Ministério, que acompanhavam o estado de saúde de Harry, causando uma superlotação nos corredores.
Rony foi logo atendido e como já haviam tratado no hospital de um ferimento semelhante, inclusive com outro membro daquela mesma família, sabiam exatamente que procedimento seguir. Já o caso de Harry era mais complicado. Ninguém nunca soube ao certo como a magia antiga, com a qual Lílian o protegeu ao morrer, havia evitado que ele morresse com um Avada Kedavra quando bebê e agora segundo o relato de Sirius, ele havia sobrevivido novamente. Se é que estar entre a vida e a morte poderia ser chamado de sobreviver.
Com o tumulto instaurado no hospital, agravado pela chegada de alguns repórteres do Profeta Diário que insistiam em querer entrevistar todos que pudessem ter uma ligação, por mais superficial que fosse, com Harry, logo todos tiveram que deixar o hospital, muitos sob ameaças de estuporamento e envio para Azkaban. Apenas três pessoas se recusaram a sair, e devido às circunstâncias foram autorizadas: Hermione permaneceu ao lado de Rony (e às vezes dava uma escapada para ver Harry), prometendo à Molly que entraria em contato para avisá-la de qualquer mudança no estado de saúde dos rapazes; Sirius e Gina também se mantiveram ao lado de Harry, inclusive ameaçando os curandeiros e os seguranças que haviam avisado que só um dos dois poderia ficar.
——
Quando Rony recebeu alta, três dias depois, sua preocupação era ainda muito maior do que a felicidade de saber que o amigo tinha conseguido acabar com Voldemort. O mundo bruxo, ao contrário, estava esfuziante. O Ministro da Magia queria dar uma grande festa para condecorá-los, esquecendo-se por completo do fato de Harry ainda se encontrar inconsciente.
O estado semi-vegetativo do rapaz preocupava a todos. Sirius e Gina só saiam do lado dele quando era extremamente inevitável e quase não conseguiam se manter em pé por causa desta vigília.
Mancando e abraçado com Hermione, Rony entrou mais uma vez no quarto onde Harry havia sido colocado, ficando isolado dos demais pacientes do hospital. Sirius parecia que ainda estava na prisão dos bruxos devido a tristeza que se lia em seus olhos azuis, e Gina… O coração de Rony apertava ao ver o estado de sua irmã. Ela permanecia sentada em uma cadeira ao lado do leito, agarrada à mão fria do namorado, do mesmo modo que se encontrava desde que autorizaram a sua entrada no quarto. Ela ajeitava os lençóis e admirava o rapaz com um desespero que só aumentava conforme os dias iam passando.
- Gina, não seria melhor você ir para casa descansar um pouco? – Rony perguntou antes de beijar-lhe o topo da cabeça.
- Não.
- Você precisa dormir. – Hermione sabia o quão difícil seria convencê-la ou mesmo Sirius de deixar o hospital. O homem, como que confirmando seus pensamentos, falou.
- Pode ir, eu te aviso se acontecer alguma coisa.
- Eu já disse que não vou sair daqui até ele acordar! – Disse exasperada.
- Mas, Gina… A gente não sabe se, bem, se ele vai… – Rony tentou mais uma vez, porém foi interrompido pelo grito da ruiva.
- ELE VAI ACORDAR! – O cansaço e o desespero suplantavam a razão, deixando que toda dor fosse expressada. – Ele tem que acordar. Ele prometeu pra mim…
Num segundo Rony ficou novamente ao lado da irmã e a abraçou. Aquela espera era uma tortura inigualável e a angústia de todos era quase palpável. Ele imaginava bem o que a irmã estava sentindo, porque o mesmo acontecia com ele. Percebeu que Hermione vertia lágrimas silenciosas, mas depois de uma troca de olhares com ela, continuou consolando a irmã que ainda soluçava agarrada a ele.
A exclamação de Sirius passaria despercebida se não tivesse sido acompanhada pelo salto que este deu ao se levantar pondo-se ao lado do afilhado.
- Merlin.
Esquecendo-se de respirar, Rony olhou automaticamente na direção da cama, sentindo o corpo de Gina retesar em seus braços de tão tenso.
- E-ele aco-cordou.
A voz vacilante de Hermione foi a deixa para que o ruivo deixasse o ar entrar novamente em seus pulmões e Gina corresse para o lado de Harry.
- Harry? – Perguntou baixinho, debruçada sobre ele.
- Gi… – A voz gutural saiu tão baixa que um sussurro parecia um grito e os olhos verdes pareciam embaçados e desfocados.
Gina imediatamente abraçou Harry deixando que as lágrimas molhassem o rapaz, sendo seguida por Sirius que também abraçou o afilhado junto com a garota.
- Está tudo bem agora, Harry. Acabou. – Gina falava enquanto beijava o rosto amado.
- É isso mesmo, filho. Você conseguiu. – Sirius enxugava as lágrimas que caíram.
- E-eu vou chamar os curandeiros. – Hermione avisou emocionada demais para fazer qualquer outra coisa.
Quase que instantaneamente o quarto de Harry foi tomado por inúmeros enfermeiros e curandeiros e Hermione, Rony, Sirius e Gina, esses últimos novamente sob ameaças de serem devidamente estuporados, tiveram que se retirar para que fosse feita uma real avaliação do caso.
Gina não sabia se alguém tinha avisado, ou se a notícia que Harry tinha acordado já havia vazado, mas pouco tempo depois todos os outros Weasley, além de Lupin e Tonks se encontravam amontoados no espaço do corredor do St. Mungus que ficava em frente à porta do quarto de Harry. Molly tinha o mesmo sorriso esperançoso que se via em quase todos os rostos ali, mas algo dizia a Gina que se as notícias fossem assim tão boas, os curandeiros que saiam eventualmente do quarto não estariam com a aparência tão preocupada.
Depois de minutos, horas, ou possivelmente muitas noites tempestuosas, Doutora Marul, a curandeira-chefe, se aproximou do grupo e logo alcançou Sirius e Gina com o olhar.
- Como ele está? – Gina perguntou num rompante ao mesmo tempo em que Sirius, Molly e possivelmente George, questionavam.
- Já podemos vê-lo?
- Quando ele terá alta?
- Quer sair comigo?
Gina ignorou o burburinho que se formou depois da brincadeira do irmão só percebendo o olhar triste que a medi-bruxa lançava a eles. Quando ela começou a falar, todos se calaram no mesmo instante.
- Bom, ele sofreu uma série de azarações e maldições capazes de matar qualquer bruxo, isso sem mencionar a maldição da morte à qual ele sobreviveu por duas vezes…
- Tá, tá. Isso tudo a gente está cansado de saber. – Gina retrucou irritada, por que aquela mulher não dizia logo o que ela queria saber?
- Gina! – Ralhou Molly.
- Desculpe. – Gina disse tentando se manter calma. – Como ele está?
- Nós fizemos tudo que estava ao nosso alcance, mas apesar de agora ele estar acordado, o organismo dele está muito fraco e infelizmente não há mais nada que se possa fazer.
- É uma questão de tempo, então? – Hermione perguntou esperançosa.
- Receio que não. – A curandeira respondeu com pesar.
- Isso é mentira! – Gina exclamou, mas foi ignorada pela bruxa que continuou.
- Deve ser uma questão de horas, dias talvez, e então…
- Não! Você está errada! – A jovem ruiva se exaltou mais uma vez, não querendo crer naquilo que ouvia.
- Gina se acalme. – Gui abraçou a irmã que continuava a falar alto para a médica que não se importava com o súbito ataque.
- Errada! Você não sabe nada! – Gina fez menção de entrar no quarto, mas foi impedida não só pelo irmão, mas pela figura de um grande enfermeiro que saia naquele exato instante.
- O senhor Potter deseja falar a sós com os senhores Lupin e Black.
- Mas…
A garota iniciou uma reclamação, porém logo percebeu que não tinha mais ânimo nem forças para mais uma discussão. Com os olhos turvos por conta das lágrimas, recusou o abraço com que sua mãe queria envolvê-la e sentou-se em uma das cadeiras existentes no corredor, escondendo o rosto entre as mãos.
Sirius já havia percebido que a garota sentia por seu afilhado um amor incondicional e ao vê-la daquele jeito, não pôde deixar de se penalizar. Aproximou-se dela e ajoelhando-se a sua frente depositou um beijo no rosto pálido antes de entrar no quarto seguido de Lupin.
—–
Depois do que pareceu uma eternidade, Lupin abriu a porta do quarto pedindo para que as outras pessoas entrassem. Rony e Hermione só não foram mais rápidos que Gina, que após ser forçada pelos pais a tomar uma dose de poção revigorante, sentia suas forças começarem a voltar.
A aparência de Harry continuava a mesma de quando ele estava inconsciente: extremamente pálido e com as feições debilitadas. Os olhos verdes, que sempre olhavam para Gina cheios de brilho e desejo, se encontravam levemente opacos por trás dos óculos redondos. Provavelmente Sirius e Lupin tinham-no ajudado e agora ele estava recostado sobre os travesseiros e tentava esboçar um sorriso ao ver as pessoas entrando.
Gina tentou se encher de esperança ao vê-lo acordado, à despeito de tudo que ouvira da curandeira-chefe, e abraçou-o com todo amor.
Harry sentiu um nó na garganta ao ver os Weasley, Hermione e Tonks entrando. Sabia exatamente que seu estado de saúde era bastante grave, mas não podia deixar de se sentir feliz por poder vê-los ao menos mais uma vez. Quando Gina o abraçou, foi com grande esforço que impediu as lágrimas que se formaram de caírem. Deu um beijo cálido na namorada, que se acomodou sentando ao seu lado.
Após receber os abraços e cumprimentos de todos, fazendo com que ele se sentisse um pouco mais reconfortado, a voz de Lupin lembrou-o de que ainda tinha que resolver alguns assuntos.
- Harry, daqui a pouco teremos que sair.
- Eu sei. – Procurou se ajeitar melhor no leito e continuou com a voz ainda fraca. – Acabou, não é? O mundo bruxo está livre das Trevas e finalmente consegui derrotar o “cara-de-cobra”. Mas todos nós já sabemos que ele também teve, ou terá, sua vitória…
- Não diga isso, Harry. – Hermione pediu num lamento.
- Mione, eu mais do que ninguém gostaria de não ter que falar nada disso. – Olhou para a amiga que assentiu. – Eu queria agradecer a todos vocês que me ajudaram e se tornaram a minha família. Vocês sabem que eu não teria conseguido sem vocês.
- Harry, por favor. – Rony tinha ânsias de bater no próprio amigo por estar descaradamente se despedindo de todos. O moreno olhou-o com um leve sorriso e continuou.
- Rony, você é meu melhor amigo, meu irmão e a única pessoa a quem eu confiaria a minha querida irmã. – Hermione soluçava ao lado do ruivo. – Hermione, não deixe esse cara ficar muito preguiçoso. Cuidem um do outro pra mim.
Harry tencionava continuar, mas foi impedido ao ser envolvido pelos cabelos cheios de Hermione que o abraçou desesperada. A morena chorava em seu ombro enquanto ele se limitava a acarinhar suas costas à guisa de acalmá-la. Quando finalmente Rony, com os olhos vermelhos e brilhantes, conseguiu fazer com que a namorada de desvencilha-se de Harry, este pigarreou para que a voz se tornasse de novo firme e não embargada pela emoção como deveria estar. Olhou intensamente para Gina que havia se afastado ligeiramente quando Hermione o abraçara e pegando a delicada mão entre as suas, se dirigiu ao senhor e senhora Weasley que se encontravam ao pé da cama.
- Eu gostaria de fazer um pedido à vocês.
- O que você quiser, querido. – Molly estava agarrada ao marido, o rosto banhado de lágrimas.
- Eu, Harry James Potter, gostaria de pedir a mão de sua filha Ginevra em casamento.
- O que? – A ruiva perguntou num fio de voz, ao mesmo tempo em que a mãe, só que esta num tom mais alto.
Gina olhou-o intrigada. De tudo que Harry poderia falar naquele momento, aquilo tinha sido o mais inesperado. Não que nunca tivesse imaginado, ou desejado que ele o fizesse. Perdera as contas de quantas vezes tinha visto a cena se repetir em seus sonhos e devaneios. Mas conhecia Harry bem demais para saber que havia algo por trás daquele “romântico” pedido. Com o cenho franzido e ignorando o choro feliz de sua mãe e o burburinho que se formou, ela perguntou:
- Por quê? – Ele olhou-a nos olhos. Verde e âmbar numa conexão que só o amor é capaz de estabelecer.
- Porque eu te amo? – Ela sorriu levemente, mas não se deixou enganar.
- E o que mais? – O sorriso que brincava nos lábios do rapaz morreu e as feições dele se tornaram sérias ao ponto de fazê-lo parecer mais velho. Ele corou levemente ao responder.
- Eu quero que minha fortuna fique para você. – As orelhas de Gina foram ficando cada vez mais vermelhas à medida que o rapaz falava, o que resultou numa pequena explosão.
- Você é um idiota!
- Eu já falei com o Lupin, a gente pode se casar ainda hoje, aí…
- Você não ouviu? Você é um idiota, um louco se pensa que eu vou aceitar uma coisa dessas! Eu nunca estive com você por causa do seu dinheiro…
- Gi… – Harry tentou interromper o discurso inflamado para se explicar, mas não conseguiu.
- Eu pensei que você me conhecesse, mas estou vendo que me enganei.
- Droga, Gina. – Ele podia estar entre a vida e a morte, mas não conseguia ficar calado enquanto ela estava falando aquilo tudo. – Eu sei que posso morrer a qualquer momento, e todo aquele dinheiro pode ficar para o Ministério!
- Dane-se! Por mim o dinheiro pode ir pra qualquer um, até pro Malfoy, eu não ligo! – Gina se aprumou ao lado dele, fazendo com que ficassem de frente um para o outro. – Se você quiser casar comigo é só tratar de esquecer essa história de que vai morrer a qualquer hora e sair dessa droga de hospital!
Harry observava o discurso furioso dela e só pensava em como ela era perfeita. Na realidade já esperava por uma coisa assim. Sorriu e esperou que ela terminasse de brigar com ele, desejando com todas as suas forças poder fazer tudo o que ela estava falando. Quando ela acabou, Harry se limitou a puxá-la para mais perto de si e dizer antes de beijar-lhe apaixonadamente.
- Eu vou te amar para sempre.
Nem os gêmeos se atreveram a atrapalhar aquele momento, ou mesmo fazer qualquer tipo de brincadeira, nem a menor delas. Era tudo sério demais para que eles fizessem alguma besteira ou interrompenssem. Infelizmente os enfermeiros não pensavam a mesma coisa e alguns instantes depois surgiram, à principio pedindo para que saíssem e logo depois, percebendo que não seriam atendidos tão facilmente, começando a expulsá-los do quarto dizendo que estava na hora de Harry tomar as poções e descansar.
Gina saiu sob protestos, dizendo que só iria até a Toca para tomar um banho e se trocar, estando de volta mais cedo do que ele poderia imaginar. Sirius foi praticamente obrigado à fazer o mesmo por Lupin, que lhe lembrou que Harry iria precisar dele descansado e não com aquela aparência de cachorro cansado que ele apresentava agora.
Realmente nem Gina, nem Sirius demoraram a voltar. Nem as ameaças de Molly funcionaram e muito menos os argumentos de Remus. Contudo quando retornaram, encontraram Harry já novamente adormecido. Eles voltaram a se acomodar em seus locais preferidos: Gina na cadeira ao lado da cama, que ela puxava para mais perto para poder deitar a cabeça ao lado de Harry e Sirius no sofá do outro lado da cama. Haviam se passado alguns minutos até que a voz da curandeira responsável pelo caso os sobressaltou.
- Desculpe se os assustei. – A Doutora Marul ajeitou os cabelos aloirados e continuou num tom preocupado. – Nós demos as poções e em seguida ele adormeceu.
Gina que até então encarava a medi-bruxa, voltou a olhar para Harry e acariciar sua mão.
- Agora é só uma questão de tempo. – A voz da curandeira estava levemente embargada e Sirius levantou-se num pulo começando a andar de um lado para o outro.
- Não tem nenhuma chance dele não… – O homem não precisou concluir a frase, pois foi logo respondido.
- Mínima, mas tem. Só o tempo vai dizer.
Gina sentiu uma coisa quente começar a crescer dentro de seu corpo, afastando aos poucos a dor que sentia, o que provavelmente também acontecia com Sirius que respirou aliviado. Se existia uma esperança, mesmo que mínima, era só o que precisavam.
—-
Quando Rony e Hermione apareceram na manhã seguinte o nível de esperança de Gina e Sirius não tinha aumentado muito, já que Harry não acordara em nenhum momento. Estavam no corredor em frente ao quarto, bebericando algo que a morena desejava que fosse ao menos calmante o suficiente para que pudessem convencê-los a ir para suas casas dormir.
- Novidades? – O ruivo perguntou, mas se arrependeu ao ver o olhar sério que Gina lhe lançou.
- Eles estão lá aplicando poções.
Alguns minutos de um silêncio incômodo se instalaram entre os quatro até que Hermione se lembrou de algo para contar.
- A diretora McGonagall disse que podemos voltar para Hogwarts só depois que tudo tiver…
- Acabado? – Interrompeu Gina, sarcástica.
- Não, Gi. Resolvido.
- Eu só volto junto com o Harry. – Respondeu enfática.
- Gi…
- Ele não vai morrer. – Gina afirmou de uma forma quase desesperada.
- Gina, eu também não quero que ele morra. – Rony falou de forma dura, mas antes que Gina tivesse a chance de responder, foram interrompidos pelos enfermeiros que avisavam que já poderiam entrar.
Gina teve esperanças de que Harry tivesse acordado enquanto estivera lá fora e agora estaria esperando-a com os olhos verdes brilhantes e um belo sorriso. Mas a visão do rapaz deitado ainda na mesma posição e inconsciente fez seu coração apertar.
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Durante quase cinco dias Sirius, que havia sido dispensado do trabalho por Schackelbolt, e Gina novamente permaneceram ao lado da cama de Harry. A aparência dos dois demonstrava isso. Estavam fatigados, com olheiras e em pé a base de poções revigorantes.
Gina achou que era o cansaço acumulado que a fazia ver e sentir coisas. Por exemplo, os dedos de Harry não haviam se mexido na noite passada enquanto estava acariciando-as, nem as pálpebras se mexiam freneticamente como se estivesse num sono agitado, ou agora que estava descansando com a cabeça deitada no colchão e sentia-o tocando em seus cabelos gentilmente. Abriu os olhos e admirou as íris esmeralda a fitando. Morgana das Fadas!
- Ele acordou!
Seu grito abafado era para avisar Sirius, mas olhando ao redor percebeu que ele não estava ali. Provavelmente tinha ido comer alguma coisa ou espairecer um pouco. Apertou novamente a mão de Harry entre as suas sem realmente acreditar no que estava acontecendo. Desejou que ele acordasse mais que tudo durante os últimos dias, mas a cada vez que um dos curandeiros afirmava ser difícil ou praticamente impossível, sua esperança diminuía e a angústia aumentava.
- Harry?
- Oi. – A voz gutural foi como música para a alma de Gina.
- Vo-você… Meu Merlin… Você…
- Calma… – Harry enroscou uma mecha dos cabelos flamejantes em seus dedos e continuou. – Sabe que estou cada vez mais acostumado em acordar com você do meu lado?
- Eu…
Mas Gina não conseguiu terminar a frase. Seu cérebro cansado pela vigília, estava demorando para processar a informação de que tudo aquilo era real e não mais um de seus devaneios. Um choro silencioso tomou conta da ruiva que logo Harry tratou de acalmar.
- Você parece exausta, deita aqui comigo. Eu tenho a impressão de que a gente não fica assim há muito tempo. – Ela apenas concordou e se aconchegou ao lado dele no leito abraçando-o assim como ele fazia consigo.
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Sirius atravessava os corredores do St. Mungus como se estivesse em Azkaban: triste e desesperançoso. Tinha ido até a lanchonete tomar um suco de abóbora, mais para passar o tempo do que por querer beber algo. Não agüentava mais aquela situação.
Respirou fundo antes de abrir a porta do quarto de Harry, esperando vê-lo do mesmo jeito, mas a cena que se descortinou à sua frente era bem diferente do que esperava e acabou por paralisá-lo. Harry havia acordado? Fênix Flamejante! Harry tinha acordado e agora estava abraçado à Gina na cama…
- Interrompo? – O sorriso maroto de Sirius condizia com o tamanho de sua felicidade.
Num instante atravessou o quarto com passos largos e abraçou o afilhado que havia se sentado com o auxílio da namorada.
- Sirius!

Os curandeiros não sabiam como explicar a recuperação “mágica” de Harry. Alguns diziam que ele tinha sobrevivido graças ao coquetel de poções que tomara, outros como doutora Marul, afirmavam que tinha sido o amor que se percebia entre aquelas pessoas que o impediu de partir. O que se sabe, realmente, é que aquela tarde de final de novembro foi a mais feliz que o St. Mungus presenciou nos últimos tempos.

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