domingo, 21 de outubro de 2012

5. Every Breath You Take


– Não vai funcionar – sentenciou Hermione.
Harry deu um bufo de irritação e quase jogou longe a pena que estava usando para rabiscar no pergaminho à sua frente. A discussão já consumira quase todo o intervalo após o almoço.
– Por que não vai funcionar, Mione? – A voz de Gina tinha a mesma impaciência. – Nós pensamos em tudo. Além do mais, desde quando você virou uma especialista em estratégia?
Hermione abriu a boca para responder, mas foi Rony quem falou.
– Espera aí, Gina! A Mione é brilhante. A aluna mais inteligente da escola. Como é que você pode dizer que ela não é especialista em estratégia? – Ele baixou a voz e se curvou sobre a mesa da biblioteca, em que os quatro estavam sentados fingindo estudar. – A gente já se safou de muita coisa, graças às estratégias dela.
– Estamos falando de Quadribol, Rony! – Gina respondeu aproximando a cabeça da do irmão.
– A Mione tem lido muito sobre o assunto – retrucou Rony.
– Ainda assim, isso não faz dela uma especialista. Acho que a tática do Harry é bem melhor. Ele sim tem experiência – falou Gina erguendo o queixo.
– Nunca testamos as idéias da Mione – Rony sibilou furioso.
Harry trocou um olhar cúmplice com Hermione. Era óbvio que não era por estratégias de Quadribol que os irmãos Weasley estavam brigando. A diferença é que Hermione, como namorada oficial, podia tocar em Rony e agradecer a defesa apaixonada das idéias dela. Enquanto Harry estava bem longe de poder fazer o que queria. Isto é, puxar Gina pela cintura, obrigando-a a sentar novamente na cadeira ao seu lado, e beijá-la até que ela esquecesse que Rony estava ali. O pensamento o fez sorrir e desviar imediatamente o olhar da expressão cheia de entendimento de Hermione. A amiga virou os olhos para o teto e segurou Rony pelo braço, interferindo calmamente na discussão.
– Gina, eu já disse que a tática do Harry é boa, mas tem uma falha… eu pesquisei isso e garanto que se vocês usarem a minha idéia, poderão surpreender o adversário e… – Gina fez menção de intervir, era óbvio que não estava convencida, mas Hermione não a deixou falar. – Afinal, vocês querem ou não vencer este jogo?
Ela arqueou a sobrancelha e olhou diretamente para os dois. Gina murchou e Harry fez um esforço tremendo para não olhar para a namorada e reconhecer que Hermione tinha razão. Na verdade, não era apenas uma questão de que querer vencer o jogo contra a Lufa-lufa. Era uma questão de precisar ganhar o jogo, de deixar Rony alegre e receptivo, de poder contar para o amigo que Gina e ele tinham voltado a namorar e que os dois andavam se agarrando às escondidas há semanas. Não! Era melhor não mencionar essa última parte. Era melhor deixar Rony pensar que era um retorno, por assim dizer, platônico, embora Harry tivesse certeza de que o amigo não se deixaria convencer disso. De qualquer forma, estava certo de que vencer ajudaria muito a estimular a tolerância de Rony.
– Ok – Harry pigarreou – vamos tentar a tática da Mione no treino de hoje.
Rony deu um soco satisfeito na palma da própria mão e agarrou uma sorridente Hermione para um beijo nada discreto. Gina e Harry trocaram olhares invejosos. Harry notou que a menina ainda não parecia convencida em relação ao Quadribol, mas ela deu de ombros resignada e começou a juntar os livros que estavam espalhados sobre a mesa. Harry ficou observando os movimentos dela e a forma como uma mecha vermelha teimava em cair sobre os olhos, mesmo que ela não parasse de afastá-la. Só se deu conta de que devia estar com uma expressão absolutamente patética, quando um chute, dado por Hermione por debaixo da mesa, o avisou que Rony estava olhando para ele e Gina.
– Onde você vai? – Rony perguntou para a irmã.
– Minha próxima aula é Herbologia – ela respondeu ajeitando os livros na mochila – se eu não sair agora, vou acabar me atrasando.
Rony assentiu.
– Eu estava pensando, Harry… a Gina não tem os últimos dois períodos de hoje e nem o pessoal do quinto ano, assim como a gente, por que não aproveitamos e adiantamos o treino?
– NÃO! – Harry e Gina responderam ao mesmo tempo e rápido demais, fazendo Rony erguer a sobrancelha, desconfiado.
– Por que não? – Insistiu. – Ganharíamos tempo. Teríamos mais espaço para treinar as jogadas novas.
Fazia sentido, mas Harry não tinha a menor intenção de se desfazer dos seus planos para àquela hora livre. Mesmo pelo Quadribol.
– É… só que… é… – gaguejou buscando uma desculpa.
– Rony, não adianta treinarmos apenas com uma parte do time – falou Gina. A mente dela trabalhando mais rápida que a de Harry. – Os jogadores que são do quinto ano vão usar esse horário para estudar para os N.O.M.S.
Rony ia protestar. Afinal, certamente o resto do time adoraria ser “salvo” de tanto estudo, mas Hermione, para a imensa gratidão de Harry e Gina, resolveu socorrê-los.
– Não é só o pessoal do quinto ano que tem que estudar, não.
– Ahhh, Mione – Rony choramingou – eu fiz todas as revisões que você marcou esta semana. Uma horinha só não vai fazer falta…
– Mas Rony – a garota argumentou – você foi muito mal na redação de poções da semana passada, acho que poderíamos revisar seu dever desta semana e conseguir um E ou até um O, isso melhoraria a suas notas gerais e…
– Como é que você foi mal na redação da semana passada? – Harry perguntou malicioso, já que este lhe pareceu o gancho perfeito. Tática diversiva, era como costumava chamar. Voltava o assunto para Rony e ele esquecia o que estava pretendendo. Vinha adotando essa tática com freqüência nos últimos tempos.
Gina pegou a idéia no ar.
– É mesmo… Afinal, vocês ficaram até tarde na sala comunal fazendo esse trabalho na sexta-feira passada.
– Beeeem tarde – confirmou Harry, observando Hermione avermelhar.
– Como foi que o Slugue teve coragem de não valorizar todo o seu esforço, irmãozinho? – Finalizou Gina com um muxoxo sentido.
Rony fechou a cara, mas estava menos embaraçado que Mione, que parecia estar querendo cobrir o rosto com os cabelos para não ver os sorrisinhos maldosos dos amigos.
– Você não está atrasada para a aula, Gininha?
A garota deu uma risada e se levantou da cadeira jogando a mochila sobre o ombro.
– ‘Tô indo!
– Não se atrase para o treino – disse Harry com displicência.
Gina virou-se para encará-lo por uns dois segundos, os olhos levemente apertados, antes de responder com uma voz que soou mal humorado para quem ouviu, embora não para o namorado.
– Pode deixar, Capitão.
Ela se virou e seguiu para a saída da biblioteca. De novo, Harry ficou observando cada movimento da garota até ela desaparecer pela porta. E foi só quando deu de cara com o olhar penalizado de Rony, que se deu conta de que continuava dando bandeira sobre seus sentimentos. Rony podia ficar com pena, achando que ele não conseguia parar de olhar para Gina porque não estava com ela e isso já não incomodava tanto Harry. Seu medo, porém, era que fosse evidente demais, para quem quer que o observasse com atenção, que ele estava sempre olhando para Gina. Os seus estudos de Oclumência, não adiantariam de nada nesse caso. Tinha expressado esse medo para Hermione, há alguns dias, e também se justificado que não era algo que ele conseguisse controlar, que era quase involuntário.
– Não esquente – falou ela corrigindo um trabalho dele de Transfiguração. Os dois estavam sozinhos na mesa da sala comunal, pois Rony tinha ido até o dormitório pegar um tinteiro sobressalente. – Você faz isso involuntariamente, desde o nosso quinto ano.
Harry arregalou os olhos.
– Faço?
– Faz – assentiu Mione, sem dar muita atenção ao espanto dele.
– Mas como… eu não… quero dizer, eu gostava da Ch… hã… Tem certeza?
Hermione moveu a cabeça meio impaciente, meio divertida.
– Tenho sim, Harry – ela ergueu o rosto e o encarou com um sorriso. – Quando estávamos na sede da Ordem, se Gina sumisse, bastava perguntar para você onde ela estava. – Ela fez outro gesto, balançando os cachos castanhos. – Eu sei que era mesmo sem querer, mas você registrava para onde ela tinha dito que ia. E toda vez que você ficava com o olhar perdido, ou tinha algo muito sério no que pensar… seus olhos vagavam até caírem exatamente em cima dela.
Harry fez um esforço para contestar. Afinal, tinha certeza de que não gostava de Gina na época. Pelo menos, não como agora. Mas não era uma questão de sentimentos, como contemporizou Hermione, mas de fatos. E o fato é que ele, mesmo sem notar, estava sempre observando com muita atenção a irmã do seu melhor amigo.
– Como voc…?
Mione riu.
– Eu comecei a prestar atenção nisso para dar esperanças para Gina – o queixo de Harry caiu. – Não que ela acreditasse… ‘tadinha. Ela repetia que você estava começando a notá-la, mas era apenas como amiga e que não passaria disso.
Harry baixou os olhos e sorriu. Às vezes gostaria de ter a perspicácia de Hermione. Sua vida seria certamente mais fácil. Embora isso não tivesse ajudado muito a própria Hermione. Pelo menos, não com o Rony… que Harry tinha que admitir, era ainda mais lento que ele mesmo.
– Harry?
A voz de Hermione o chamou para o presente.
– Hã?
Rony lhe lançou mais um daqueles olhares compreensivos e cheios de dó que o enervavam.
– É melhor a gente ir indo para a aula, cara.
Harry assentiu e os três deixaram a biblioteca em direção à aula de Defesa contra as Artes das Trevas, não demorando muito a se reunir aos colegas que esperavam à porta da sala de aula. Algumas meninas da Corvinal e da Lufa-lufa – as classes de N.I.E.M.S eram bem menores que as dos N.O.M.S, então havia uma mistura maior das casas – trocaram sorrisos e cumprimentaram Harry com uma animação excessiva, que ele, sem graça, respondeu como se tivesse sido obrigado. O fim do namoro com Gina – o oficial – fez com que várias garotas voltassem a persegui-lo, como tinha ocorrido no ano anterior. De fato, a popularidade que ele experimentara quando fora nomeado pela imprensa bruxa de O Eleito não diminuíra, pelo contrário, aumentara. Sabia que muitos colegas, entre os garotos, o achavam um idiota por não aproveitar o fato de ter tantas meninas dispostas a ficar com ele – inclusive se esforçando para isso. Mas a verdade é que, primeiro, ele não estava nem um pouco interessado, tinha preocupações demais e não gostava nem um pouco de ser visto como algum tipo de troféu. E, segundo… ele namorava com a garota mais incrível da escola… idiota ele seria se trocasse isso por qualquer outra coisa.
A aula passou rápida e, quando acabou, o grupo de sétimo anistas, mesmo sendo, em sua maioria, apaixonado pela matéria, queria sair dali o mais rápido possível. Além das dificuldades da disciplina, que ficavam maiores a cada aula, o esforço nos exercícios e treinos práticos tinha resultado numa exaustão geral que ia da ponta dos cabelos eriçados por feitiços, passava pelos corpos doloridos das quedas e terminava nas inúmeras marcas roxas dos duelos improvisados. A maioria estava tão arrasada que provavelmente iria usar os períodos livres antes do jantar apenas para refazer os corpos e os cérebros maltratados, ao invés de irem estudar para os exames. Harry sentia como se tivesse levado uma surra – e, na verdade, fora quase isso – mas sua idéia de descanso, no momento, era bem diferente da dos colegas. O problema era conseguir fugir do Rony, o qual parecia estar contando com ele para escapar de Hermione e da famigerada redação de poções. O álibi, desta vez, foi uma pretensa reunião com McGonagall para ajustar a próxima saída de Harry em busca das Horcruxes. Rony, felizmente, engoliu, mas Harry teria de pensar bastante no que contaria sobre a tal reunião mais tarde.
Foi com alívio que ele se viu fora das portas do castelo e pode seguir correndo para o campo de Quadribol. Estava tão ansioso que quase esqueceu de cuidar para que ninguém prestasse muita atenção para onde ele estava indo. Felizmente, o dia chuvoso de primavera não estava muito convidativo e os jardins estavam praticamente vazios, fora um ou outro estudante que retornava das aulas nas estufas ou de Trato de Criaturas Mágicas.
Entrou no vestiário quase sem fôlego, conferindo o relógio. Tinha uma hora até o treino. Respirando fundo para fazer o coração que acelerara com a corrida voltar a bater normalmente, Harry seguiu para a sala do capitão, que ficava ao lado dos vestiários. Jogou a mochila num canto, tirou a capa das vestes que estava encharcada de chuva e afrouxou a gravata. Estava pensando se não era melhor colocar logo o uniforme do time quando ouviu um barulho às suas costas que o fez se virar com um enorme sorriso.
– Queria falar comigo, capitão? – O sorriso de Gina não era menor.
Harry escorou-se na mesa e cruzou os braços sobre o peito.
– Na verdade, não.
Ele se segurou para não rir da expressão confusa dela.
– Não?
– Não – respondeu com calma – eu realmente não estava pensando em falar muito.
A gargalhada de Gina sumiu em meio aos muitos beijos que Harry, de um jeito quase faminto, começou a dar e exigir da namorada. A porta da sala foi fechada com um pontapé e numa seqüência rápida Gina estava em cima da mesa com Harry entre os seus joelhos. As mãos de ambos voando com voracidade por cada centímetro do corpo do outro que pudessem acariciar e apertar contra si. Harry às vezes achava que as coisas estavam indo cada vez mais rápidas entre os dois, mas não lembrava de, em qualquer outro momento da vida, desejar tanto alguma coisa como desejava ter Gina perto dele. Cada vez mais perto. Então, a rapidez não parecia ser exatamente uma coisa errada. Era só tocar nela que o corpo inteiro parecia ficar mais vivo. E, nossa… não havia nada no mundo que fosse melhor do que tocar nela.
Harry passou a mão pelos cabelos da namorada soltando-os do rabo-de-cavalo e afundando os dedos entre a massa de fios vermelhos e cheirosos. Gina se afastou um pouquinho e com um sorriso tirou-lhe os óculos que já estavam tão embaçados e não serviam mais para nada. Ela tomou o rosto dele nas mãos para recomeçar a seqüência de beijos, mas Harry recuou com uma expressão malvada.
– O quê? – Quis saber a ruiva.
– Estava pensando – as mãos dele continuavam na cintura dela, as pontas dos dedos fazendo pressão para colocá-la ainda mais perto – que a senhorita está me devendo… – Gina arqueou a sobrancelha inquisitiva – por hoje… na hora do almoço.
Ela abriu a boca e em seguida fez uma expressão angelical.
– Eu fiz alguma coisa hoje na hora do almoço?
Ele a estreitou mais junto a ele.
– Não seja cínica, mocinha… você me provocou o almoço inteiro – ela continuou a encará-lo de forma doce e inocente. – Foi por isso que sentou do meu lado? Tem idéia do que era fazer cara de paisagem para o Rony – ela finalmente começou a rir – toda vez que você “acidentalmente” encostava em mim?
– Ahhh… Por que você não falou logo que era este o problema? Pode deixar Harry Potter… de hoje em diante não encosto mais em você.
Ela fez menção de descer da mesa e o rapaz a segurou.
– Não tão rápido – ele também já não conseguia mais ficar sério – eu acho que mereço no mínimo uma revanche por tanto auto-controle.
– Não! Harry, não se atreva!
– Sério – agora era ele que mantinha a cara inocente – não sei qual o problema das meninas com isso. É um comentário geral entre os garotos, sabe? – Gina continuava protestando, mas estava tão firmemente presa a ele que não tinha a menor condição de se afastar – Afinal, qual é – as mãos dele começaram a se mover rapidamente pela cintura e barriga dela, fazendo-a dobrar-se em gargalhadas – o problema de vocês, garotas, com cócegas?
A brincadeira prosseguiu até Gina quase implorar, entre lágrimas de riso, que estava sem ar. Harry parou, tão ofegante quanto ela, já que por várias vezes Gina tentara contra-atacar e ele tinha precisado segurar-lhe os braços com uma das mãos, enquanto a outra mão prosseguia o brinquedo.
Gina se ergueu da mesa, onde havia caído, contorcida de gargalhadas e o encarou séria.
– Isso… – resmungou com a respiração entrecortada – isso… foi maldade.
– Eu chamo… de vingança.
Gina jogou os braços em torno do pescoço dele, sorrindo.
– Quando foi que você se tornou tão “saidinho”, hein?
Harry não respondeu de imediato. Devolveu o olhar intenso dela e afastou uma mecha do cabelo ruivo que cobria o rosto da namorada, prendendo-o atrás da orelha. Os dois haviam parado de rir e Harry sentiu que, mesmo que tivessem ficado quietos, seus corações continuavam incrivelmente acelerados. Ele permaneceu alguns instantes apenas olhando para ela. Decorando cada traço do seu rosto, cada sarda, cada minúsculo pontinho dourado nos olhos castanhos luminosos.
– Você sabe que eu só sou assim com você – respondeu por fim.
Gina sorriu.
– “Saidinho”?
– Não… eu mesmo.
Dessa vez foi Gina que praticamente o atacou para beijá-lo sofregamente. Harry correspondeu carinhoso, sentindo o rosto molhar pelas lágrimas dela. A partir daí, ele perdeu um pouco a noção do que acontecia e, provavelmente, Gina também. Os suéteres rapidamente voaram para o chão, assim como as gravatas do uniforme de ambos. Foi só quando as mãos dela avançaram sobre os botões da camisa dele que, um pouco da sensibilidade de, para onde as coisas estavam indo, voltou. Mas não por muito tempo, já que a sensação do toque era muito mais incrível que qualquer outra coisa que a prudência pudesse oferecer em troca naquele momento. E Harry, sem o menor remorso, mandou a prudência às favas enquanto com dedos, surpreendentemente ágeis, fazia os botões da blusa de Gina se abrirem como que num passe de mágica.
Harry afundou os lábios no pescoço dela, sentindo a pele ficar arrepiada nos lugares em que ele tocava e beijava. Ao mesmo tempo, levou as mãos, agora sob a camisa totalmente aberta, para as costas nuas da garota até os dedos chegarem no fecho do sutiã. Gina prendeu a respiração, para logo depois soltá-la num gemido baixo e ofegante. Harry parou. Achou que, agora, precisaria do consentimento explícito dela para ir adiante. Ele mesmo já mal conseguia puxar o ar para dentro dos pulmões, tal era a sua agitação. O mundo lá fora podia explodir inteiro… deixar de existir… não importava. Era como se o tempo tivesse sido suspenso, parado. Tudo o que fazia sentido era o sim que ele via nos olhos dela e aquela sensação de que o coração havia inchado até tomar conta do peito inteiro. Só existiam Gina e ele.
E Rony.
Nenhum dos dois ouviu as batidas na porta, porque Rony simplesmente abriu a porta da sala do capitão sem a menor cerimônia. A garota deu um grito de susto e Harry virou imediatamente, cobrindo Gina com o corpo e puxando um dos suéteres para frente da camisa completamente aberta. Nunca, nem em seus pesadelos mais horríveis, Harry imaginou uma situação tão constrangedora. A expressão indefinível de Rony, aliado à luz incandescente que o rosto dele emanava, apenas aumentavam a vontade de Harry para que o chão se abrisse e o tragasse dali para sempre. Gina xingava baixinho enquanto tentava fechar a blusa e parecia estar apanhando, ora para os botões, ora para o próprio nervosismo.
Os segundos se estenderam intermináveis, sem que nenhum dos dois amigos sequer se movesse. Foi preciso Gina empurrar Harry levemente para saltar de cima da mesa, para que o garoto conseguisse desviar os olhos de Rony, que permanecia impassível, junto à porta. Gina postou-se corajosamente ao lado de Harry, pegando a mão do namorado e encarando o irmão.
– Rony… não fica nervoso… – pediu tentando aparentar calma – a gente ia contar para você… Não faz escândalo, por favor… você sabe o que está envolvido.
Rony permaneceu imóvel, os olhos fixos em Harry que estava se sentindo cada vez mais miserável, só pela certeza de ter traído a confiança de alguém que ele prezava como a um irmão desde os onze anos. O ruivo desviou rapidamente os olhos para a irmã.
– Os botões estão desencontrados – avisou apontando para Gina.
Ela soltou um palavrão e virou de costas voltando a lutar para acertar os botões. Harry definitivamente queria morrer.
– O resto do time está chegando – Rony continuou com aquela voz irritantemente calma – é melhor vocês colocarem logo os uniformes.
– Rony, olha… – a voz de Harry finalmente voltara, mas o amigo o interrompeu.
– Conversamos depois do treino… o resto do time está chegando agora.
Rony se virou e saiu da sala. Harry achou que teria sido bem melhor se ele tivesse gritado, esbravejado, lhe dado um soco. Pelo menos aquilo acabava. Mas, não. Rony não tinha feito nada, o que o deixava ainda mais apavorado. Não era uma reação que se esperasse de um cara esquentado como o amigo e isso o fazia se sentir ainda pior.
Duas horas depois, Harry tinha a absoluta certeza de que, a não ser que algum milagre acontecesse, eles iriam perder o jogo contra a Lufa-lufa. Se Fred e Jorge ainda estivessem no time, diriam que o treino de sexta-feira tinha sido uma verdadeira bosta de dragão. Se bem que se Fred e Jorge estivessem no time, ele provavelmente já estaria morto àquelas alturas. Quanto à qualidade do treino, Harry achava que tinha ouvido Jaquito usar exatamente o termo dos irmãos Weasley para um deprimido Cadu, quando o time desceu das vassouras. Harry preferiu não encarar o resto da equipe que agora se arrastava direto para o castelo sob a chuva fina e ladeada pelo vento forte que caía sobre Hogwarts. O tempo terrível que fazia – eles pareciam estar jogando dentro do lago e não nas suas margens – não tinham ajudado certamente, mas a verdade é que Harry nunca tinha visto Gina jogar tão mal na vida e ele… bem, ele tinha sido um completo desastre. A falta de atenção dos dois – de novo – deixara o time inseguro, daí para o treino virar um pesadelo foi um pulinho.
Contudo, enquanto levava a caixa com a goles e os balaços para o vestiário, auxiliado por um Rony muito sério e sendo seguidos por Gina e Hermione, Harry tinha certeza que o pesadelo mal começara.

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