quinta-feira, 25 de outubro de 2012

21. Um Verdadeiro Weasley


Percy Weasley, apesar da aparência séria que seus óculos de aro de tartaruga oferecia e modos requintados fruto de sua obstinação em chegar ao topo, podia ser considerado a ovelha negra da família. Apesar de seus pais terem criado ele da mesma forma que os seus outros seis irmãos, ele sempre se sentira diferente, superior. Ele nunca se conformara com a falta de ambição do pai. Ele queria mais, queria poder. Assim que saiu da escola conseguiu uma vaga para trabalhar no Ministério da Magia e sabendo falar as palavras certas para as pessoas certas, ele agora ocupava o cargo de assessor júnior do Ministro. Praticamente o braço direito deste. Mas sua ambição lhe custara muitas coisas e talvez a mais importante, e a qual demorou mais a admitir, foi sua família. Ele já não era bem-vindo na casa paterna e seus diálogos com os irmãos e os pais era algo em torno de zero. Até mesmo sua mãe já não lhe mandava mais presentes de Natal ou aniversário, como acontecera no último ano. Provavelmente desistira depois que os tinha devolvido. Como fora estúpido! E isso incomodamente o deixava triste.
No fundo Percy queria somente ser o melhor para que os pais sentissem orgulho dele. Era difícil ser o filho do meio. Na realidade nem era o do meio mesmo. Mas sempre se sentira ofuscado pelos demais. Gui sempre seria o primogênito, o audacioso. Carlos era o corajoso. Os gêmeos, sempre metidos em confusão, eram os criativos, a alegria da família. Rony conseguira, apesar de todas as expectativas em contrário e com a ajuda do Potter, se sobressair e até prêmio da escola já tinha ganhado e agora dividia com Carlinhos o posto de corajoso. Gina seria sempre a princesa por ser a única menina. E ele? Ele sempre fora o certinho, o chato… Então resolvera acreditar que sua família é que estava errada, não ele. E apesar de tudo lhe mostrar o contrário, não quis dar o braço a torcer. Pelo menos até aquele dia. Já estivera pensando em tudo que estava acontecendo, não podia mais deixar de perceber o quanto estivera enganado sobre tantas coisas. Resolvera que iria tentar se reaproximar da família. Procurou seu pai no Ministério e depois de algum tempo tentando se explicar, ele lhe brindara com um enorme e saudoso abraço. Combinaram que se encontrariam na hora do almoço no Caldeirão Furado para conversarem mais durante a refeição. Com um sentimento gostoso dentro de si, que muitos chamariam de felicidade, ele retomou seus afazeres esperando ansioso pelo encontro.
——
George estava tranquilamente em sua loja, observando sua funcionária atender aos poucos clientes que se encontravam dentro da “Gemialidades Weasley” àquela hora do dia (pelas aulas já terem começado em Hogwarts o movimento durante a semana era menor). Passava um pouco da hora do almoço, quer dizer, seria hora da sua folga se Fred já tivesse voltado da sua hora do almoço. Sentindo o estômago roncar mais uma vez, conteve um xingamento ao avistar os cabelos ruivos da sua cópia passarem pela vitrine e este entrar correndo pela porta. Seu sorriso irônico, que indicava que mais uma piada havia sido formulada em seu cérebro, se desvaneceu ao ouvi-lo gritar.
_ Tem comensais na Travessa, temos que avisar à Ordem!
Entendendo a gravidade da situação, Vera procurou se livrar o mais rápido possível dos jovens que atendia, enquanto via seus patrões, sempre tão brincalhões, se dirigirem com feições duras e compenetradas aos fundos da loja, provavelmente para avisarem do ataque. Apenas alguns minutos depois, quando já colocava os feitiços de proteção na vidraça e na porta, ouviu Fred se aproximando. Não sabia como, mas conseguia realmente diferenciar um irmão do outro.
_ George foi avisar aos outros, feche a loja e vá para casa. – ela assumiu um tom preocupado.
_ Mas você… – ele sorriu levemente e tocou em sua face.
_ Eu vou ficar bem. – Vera corou quando Fred beijou seu rosto. – E depois que isso acabar, nós iremos conversar… – ela assentiu e vendo-o sair para defender o Beco, sentiu seu coração apertar, e resolveu seguir as ordens daquele ruivo que lhe tirava o sono.
—-
Fred após avisar aos poucos comerciantes do Beco Diagonal que ainda não tinham percebido que algo de errado estava acontecendo, se viu numa situação delicada. A sua frente pelo menos dez comensais surgiram da Travessa do Tranco e se encaminhavam, ora ignorando ora destruindo as lojas pelas quais passavam. Mais alguns metros e ele seria visto. Procurou se encolher, amaldiçoando o rapaz que tinha comprado seu último “chapéu sem cabeça” no dia anterior, pelo menos com ele seria complicado para alguém descobri-lo ali. Esperou sinceramente que George tivesse conseguido avisar seu pai ou Kingsley no Ministério. Na realidade ansiava por qualquer um que pudesse ajudá-lo. Respirou fundo se preparando para a batalha e quando soltou o ar de seus pulmões percebeu que tinha sido visto. Ouviu quando uma voz familiar ordenou.
_ Stranger, acabe com o ruivo.
_ Com todo prazer. – uma voz feminina respondeu, debaixo da máscara que cobria seu rosto, dando inicio ao duelo com o jovem Weasley.
—–
Arthur Weasley estava muito feliz. Seu filho Percy estava sentado á sua frente e, do jeito dele, pedira desculpas. Enquanto almoçavam no Caldeirão Furado, começaram uma conversa animada em que mataram as saudades e souberam das novidades um do outro. Já tinha avisado Molly que iria encontrá-lo e possivelmente o levaria para passar o final de semana com eles na sede da Ordem. Mas sabia que isso não conteria a esposa. Então não foi com surpresa que a viu entrando no bar e se encaminhando rapidamente até eles. Riu quando ela praticamente esmagou o filho, que há tanto tempo não via, com um de seus famosos abraços.
_ Oh, meu querido! Você está tão magro! Como você está?
_ Melhor agora, mãe. Eu realmente queria pedir desculpas pelo modo como agi.
_ É claro, meu bem. Errar é humano.
_ E reconhecer o próprio erro é uma das coisas mais corajosas que se pode fazer. – finalizou o pai.
Eles ainda conversaram durante bastante tempo e quando Molly já desaparatara rumo à casa da praia e Arthur e Percy se encaminhavam para o balcão a fim de pagar pelas refeições, um bruxo entrou esbaforido pelo fundo do bar gritando:
_ COMENSAIS! O BECO FOI INVADIDO POR COMENSAIS!
_ Mas… como? – perguntaram assustadas algumas bruxas que tomavam cerveja amanteigada.
_ Percy, avise ao Ministério, que eu vou até a loja de seus irmãos.
_ Não pai. Deixe que eu vou.
_ Eu sei o que estou fazendo, Percy. Avise aos aurores, por favor. Рdeu um abra̤o em seu filho e saiu empunhando fortemente a varinha.
Percy cogitou seriamente em obedecer ao pai. Mas… Inferno Sangrento! Ele era ou não era um verdadeiro Weasley: cabeça dura e teimoso, e autêntico grifinório? Não pensou meia vez. Incumbiu Tom de avisar aos aurores e saiu pelo mesmo caminho que seu pai. Quando viu o Beco Diagonal, quase não acreditou: as pessoas acuadas em muitas lojas, cujos donos se esmeravam para defender dos ataques desferidos pelos comensais. Procurou de alguns feitiços de ataque e defesa que aprendera e automaticamente se pôs a caminho da loja dos gêmeos. Era bastante provável que o pai já estivesse chegando lá. Se esgueirou pelo caminho lançando alguns feitiços pelo caminho, não muito eficazes por conta do nervosismo. Até que pode enfim avistar seu pai e um de seus irmãos duelando com um comensal mais à frente.
——
Fred já estava começando a ficar cansado. Aquela comensal era realmente muito boa. Conseguiu atingi-la com um feitiço cortante quando ela se distraiu com a aproximação de alguém, mas pelo visto fora só de raspão. Em compensação ela o atingira em cheio com um “Crucio”, no momento que ele vira seu pai correndo até ele.
_ Ora, ora. Mais um ruivo! Sabe… eu adoro ruivos!
_ Expelliarmus!
_ Mas voc̻ acha que vai conseguir alguma coisa com isso? Fa̤a-me o favor! Рa comensal transpirava sarcasmo. РEstupefa̤a!
_ Protego! – Arthur Weasley se protegeu, mais tranqüilo agora que via seu filho livre da maldição a que estava sendo submetido.
Fred e seu pai começaram a duelar coma aparentemente incansável comensal, quando perceberam a chegada de vários aurores, inclusive Sirius que tinha sido reincorporado ao serviço. Logo a batalha foi tomando outro rumo e alguns comensais começaram a ser capturados.
Sirius, desde a semana anterior, estava tendo um treinamento intenso para recuperar totalmente a forma e a agilidade, indispensáveis a um bom auror. E no momento se encontrava praticamente no mesmo nível que tinha há dezessete anos atrás. Conseguia atacar seus adversários com certa facilidade e quase nunca saia ferido. Essa era a sua primeira missão depois que fora reintegrado e a adrenalina, que tanto sentira falta, já corria plena em suas veias quando se viu cara a cara com um comensal aparentemente chocado.
_ VOCÊ?! – Sirius reconheceu imediatamente a voz.
_ Mas se não é o meu antigo companheiro, ranhoso!
_Como…
_ Sinceramente eu estou sem tempo para conversar. Expelliarmus! Рo feiti̤o passou raspando por Snape.
Sirius nem em sonho pensou que conseguiria pegar o desafeto tão facilmente, Mas o ex-professor de poções não era tão hábil quanto fazia crer, e o ex-maroto não reclamou. Depois de alguns feitiços de raspão, conseguiu atingi-lo em cheio com um feitiço estuporante e depois conjurou cordas mágicas encarcerando-o. Virou-se imediatamente para ajudar Tonks e Lupin, mas a primeira pessoa que viu fez seu estômago apertar de ódio: sua prima Bellatrix. Percebeu que ela olhou-o incrédula e no mesmo instante que ia ao seu encontro para duelarem, viu quando esta emitiu um sinal sonoro que fez om que os comensais a imitasse desaparatando do local.
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Arthur estava ferido na perna, o feitiço cortante tinha sido bastante profundo, mas esta não doía tanto quanto ver Fred caído, desacordado, aos seus pés. A comensal a sua frente parecia que tinha as forças renovadas a cada ataque, mesmo que apresentasse alguns pequenos sinais de cansaço, e isso não era um bom sinal. Quando ouviu um som estranho e viu ao longe os comensais, que ainda não tinham sido capturados, começando a desaparatar quase se sentiu aliviado imaginando que aquela á sua frente também fosse fazê-lo a qualquer momento. Mas o alívio se transformou em apreensão quando viu o sorriso perverso que surgiu nos lábios dela.
_ Que pena… eu tenho que ir embora. Mas pode ficar tranqüilo que irei deixar um presentinho. Avada Kedrava!
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Percy conseguira se livrar de um comensal que estava aterrorizando alguns jovens próximos à sorveteria, ele ainda nem sabia direito como, quando percebeu que seu pai e seu irmão ainda estavam duelando com o mesmo comensal de antes. Viu, com certo desespero, enquanto se aproximava, que seu pai estava machucado e seu irmão havia provavelmente sido estuporado. Apressou ainda mais os passos ao ouvir as palavras da comensal. Não pensou em mais nada a não ser salvar a vida de seu pai. Ele não podia morrer. Não agora que o tinha perdoado. Murmurou um singelo “desculpe” ao se colocar à frente do raio verde antes que este atingisse o patriarca dos Weasley.
Arthur já esperava atônito, o raio que lhe tiraria a vida, quando alguém se pôs a sua frente. Só percebeu quem era quando identificou a voz que lhe pedia desculpas e viu os cabelos vermelhos e bem aparados de seu filho.
_ PERCY!
As lágrimas começaram a se formar nos olhos do senhor Weasley e ele sentiu duas mãos o levantando, impedindo que conseguisse alcançar o corpo de seu filho que se encontrava caído no chão.
_ Calma, Arthur. Ṇo tem mais nada que voc̻ possa fazer. РLupin amparava o amigo.
_ Ele me pediu desculpas, Remus. Ele se arrependeu!
_ Vem pai. Vamos cuidar da sua perna. – George que estava duelando do outro lado do Beco quando os comensais começaram a fugir, se aproximou dos familiares o mais rápido que conseguiu.
_ Não George, não podemos deixar seu irmão aqui.
_ Está bem, pai eu fico aqui e resolvo tudo, e senhor vai com Lupin até o St. Mungus. Assim que puder eu encontro o senhor lá.
Enquanto Remus Lupin levava Arthur para o hospital para que sua perna fosse devidamente tratada, Fred era reanimado por Sirius e era informado do ocorrido. Imediatamente, contrariando suas personalidades brincalhonas e tidas até como irresponsáveis, ele e George se prontificaram a avisar sua mãe e o restante da família, e também pela remoção do corpo de seu irmão.
—–
Gina estava exultante naquela tarde de sexta-feira. Tinha acabado de fazer sua última prova prática dos NOM’S e como toda aquela situação tinha sido excepcional, os resultados iriam ser conhecidos já na segunda feira pela manhã, e ela estava bastante confiante. O sorriso que trazia no rosto sumiu no momento que viu a fisionomia triste de Harry quando entrou na sala comunal. Naquele exato instante soube que algo grave havia acontecido. Correu ao seu encontro, perguntando sem meias palavras:
_ O que aconteceu? – ela viu Rony no sofá com a cabeça baixa, sendo abraçado por Hermione e só então, Gui sentado no chão, sob a janela, com a cabeça apoiada nos braços cruzados sobre os joelhos.
_ Gi… – Harry abraçou-a e murmurou. – Houve… um ataque no Beco Diagonal, hoje.
_ Meus irṃos! George e Fred foram atacados? Рseu cora̤̣o ficou automaticamente apertado.
_ Calma, eles estão bem. Foi o… Percy.
_ Percy? Como assim Percy? – esboçou um sorriso de alívio. Harry tinha se enganado. – Tá ficando maluco? O Percy trabalha no Ministério!
_ o Percy estava no Beco, junto com seu pai. Ele foi atingido.
_ Como assim, Harry. Fala logo! Рele estreitou ainda mais o abra̤o e olhou-a no fundo dos olhos. Seu cora̤̣o apertou novamente.
_ Seu irmão salvou seu pai de uma maldição. De um… Avada.
_ Salvou? Salvou como?
_ Ele ficou na frente.
_ Ele ficou… Ele morreu? – o moreno apenas confirmou com a cabeça e beijou-lhe os cabelos. – Meu Deus! O Percy…
_ Estávamos esperando você, para podermos ir… Estão esperando por nós lá no St. Mungus.
_ Papai está ferido?
_ Teve um corte na perna, mas está muito nervoso.
_ Claro. – Gina estava atônita. Há alguns minutos estava pensando na possibilidade de arrastar Harry para algum lugar onde pudessem ficar sozinhos e agora…
_ Vem, Gina. Eu te ajudo com as roupas. – falou Hermione
Meia hora depois, vindos por uma chave de portal preparada pela diretora, eles se encontravam no hospital dos bruxos, onde o senhor Weasley insistia em ser liberado. Molly havia tomado uma poção calmante e agora chorava silenciosamente, amparada em Carlinhos. Gui foi logo abraçado por Fleur, que o consolava como a uma criança. Os gêmeos chegaram em seguida, com expressões sérias nos rostos idênticos.
_ Já providenciamos tudo.
_ O enterro será amanhã e ele ficará junto aos nossos tios. – a senhora Weasley emitiu um fraco soluço e balbuciou:
_ Ele se arrependeu… Meu menino…
_ Calma, mamãe.
Gina abraçou a mãe, com o mesmo olhar duro de quando Harry terminou o namoro durante o enterro de Dumbledore. Ela não chorava, precisava ser forte pela mãe. Harry sabia que toda aquela fortaleza uma hora iria abaixo e ele percebeu que gostaria de estar perto dela no momento para confortá-la em seus braços.
Todos se mostravam mais abalados do que o esperado, já que Percy tinha ido contra toda a família, mesmo que os olhos vermelhos e inchados denunciassem o contrário. Mas em se tratando dos Weasley, Harry não se surpreendeu, pois todos eram muito unidos e sabia que mesmo afastado, Percy era muito amado por todos. Quando o restante da família soube, então, que ele havia pedido perdão aos pais, reconhecido seus erros e no final tinha dado a própria vida em troca da do pai, Harry soube que nunca mais nenhuma palavra pejorativa seria associada a Percy Weasley.
Passaram rapidamente pela sede da Ordem, pois ainda não tinham segurança para voltarem para a Toca, somente para trocarem de roupa. O funeral se deu na manhã de sábado, de uma forma simples. Alguns poucos amigos de Hogwarts e do Ministério compareceram (o Ministro apenas enviou uma carta oficial de condolências), Penélope Clearwater chorava copiosamente em um canto e Harry parecia ter a ouvido dizer que iriam ficar noivos ainda naquele ano. A senhora Weasley estava visivelmente abatida, mas já não chorava, provavelmente por conta da poção calmante, e era amparada por seu marido, enquanto seus filhos permaneciam todo tempo possível ao seu redor, assim como Harry, Hermione e Fleur.
Percy foi sepultado ao lado dos tios, Gidewon e Fábio Prewett, irmãos de sua mãe, integrantes da antiga Ordem da Fênix que foram mortos por comensais durante a primeira Guerra Bruxa. Enfim o maior medo da senhora Weasley tinha se concretizado e mais um integrante de sua família tinha perecido em frente às trevas. Assim que o túmulo foi fechado Gina, que estava sentada ao lado da mãe, e os gêmeos tomaram conta da situação. Receberam os cumprimentos e auxiliaram os pais nas últimas formalidades necessárias. Depois que tudo foi resolvido e que todas as pessoas já tinham apresentado suas condolências à família, eles também se retiraram.
O clima naquele final de tarde na casa da praia só não estava pior do que quando Dumbledore morreu. Se bem que alguém permanecesse ao lado de Molly ou Arthur, por alguns minutos, seria capaz de duvidar disso. No momento a casa estava repleta, além dos Weasley, Harry e Hermione, e dos usuais moradores da casa, também se encontravam alguns dos integrantes da Ordem que não estavam em missão e que chegaram logo após o término do funeral de Percy. Augusta Longbotton os recepcionou com um fato lanche, que milagrosamente não foi tocado por nenhum dos Weasley. Nem mesmo os amigos mais próximos se sentiam com ânimo suficiente para fazê-lo.
Depois de tomarem, com certa relutância, uma poção calmante, o senhor e a senhora Weasley foram se deitar amparados em Carlinhos, os gêmeos e Gina. O fato de terem os demais filhos ao seu redor aparentemente os dava a força necessária para continuarem.
_ Eles ṿo ficar bem. Рdisse Harry para Rony que olhava desconsolado as figuras dos pais sumindo pela escada.
_ Eu sei. – o ruivo soltou o ar que estava prendendo e deixou-se cair de encontro ao encosto do sofá em que estava sentado. – Eu queria poder ficar mais tempo com eles.
_ Talvez se voc̻ conversar com a McGonagall ela deixe voc̻ e a Gina ficarem. РHermione abra̤ou o namorado e come̤ou a passar as ṃos carinhosamente por seus cabelos. РSe voc̻ quiser eu fa̤o isso por voc̻.
_ Tá… talvez… eu não sei…
_ Depois você decide isso, cara. Eu vou lá dentro pegar alguma coisa pra você comer, ok?
_ Não tô com fome, Harry. Obrigado
_ Mas voc̻ precisa se alimentar se quiser ajudar seus pais, Ronald. Рa senhora Longbotton, aproximou-se do trio que estava sentado em um canto da sala com uma bandeja com suco e bolo para todos.
_ Ela tem raẓo, Ron. РHermione anuiu.
_ Ok, eu como um pouco. Mas depois acho que eu vou ver como eles estão.
_ Fa̤a isso, meu jovem. Рa velha senhora deu um sorriso complacente.
Hermione acompanhou Rony até o quarto dos seus pais, mas desceu em seguida e se juntou a Harry no sofá. Tinha os olhos avermelhados, os cabelos presos às pressas e as roupas amarrotadas. Precisava descansar, mas sabia que não conseguiria até que Rony fizesse o mesmo. Tinha total consciência de que o amigo ao seu lado estava num estado tão lastimável quanto o seu, tanto física como emocionalmente e abraçou-o como se faz com um irmão, quando queremos consolo. Para eles doía mais o sofrimento da família que tanto prezavam do que propriamente a morte de Percy. Não que odiassem o rapaz, não. Apenas não o prezavam da mesma forma. Ficaram um tempo ali, até que Sirius pediu para conversar com Harry e Hermione resolveu que já estava na hora de tomar um banho, comer alguma coisa e talvez conseguir que Gina ou Rony fizessem o mesmo.
——
Hermione já tinha terminado de tomar um banho e de lanchar, e decidiu ir ver como estavam o senhor e a senhora Weasley. Bateu de leve na porta do quarto e abriu devagarzinho. A cena poderia ser considerada linda se não fosse por um motivo tão trágico. Molly e Arthur estavam adormecidos na cama com os filhos em volta. Rony estava sentado num pequeno sofá junto com Fred. George estava ao lado do pai na beira da cama e ao lado da mãe estava Gina. Carlinhos estava sentado no chão encostado à parede em frente à cama. Gui era o único que já tinha sido convencido por Fleur a ir descansar. Aproximou-se do namorado e ajoelhando a sua frente perguntou.
_ Como eles estão?
_ Melhor, eu acho. Tomaram mais uma dose da poção e conseguiram dormir. Devem acordar só pela manhã.
_ Então está na hora de vocês irem descansar, não acha?
_ Mi…
_ Rony, em que vocês poderão ajudar se estiverem esgotados? Agora que eles dormiram, vocês têm que descansar um pouco, para terem força para amanhã.
_ Mas e se eles acordarem? – perguntou Fred, que entrara na conversa.
_ Vocês podem se revezar durante a noite. Se eu conheço vocês um pouquinho, nenhum vai conseguir dormir a noite toda mesmo, se bem que deveriam.
_ Acho que voc̻ tem raẓo, Hermione. Рdisse Carlinhos de olhos fechados. РEu estou exausto.
_ Enṭo, Ron. Vem. Рela se levantou e puxou-o pela ṃo.
_ Tá bom.
Hermione conduziu Rony até o quarto dele e empurrou-o até o banheiro.
_ Agora tome um banho, enquanto eu preparo um lanche para você.
_ Não precisa, Mi. A senhora Longbotton, serviu um pequeno lanche para nós. – ele se virou e fez com que ela o olhasse. – Eu comi um sanduíche e tomei um copo de suco, não tenho mais fome.
_ Enṭo depois do banho, vai deitar um pouco e tentar dormir. РRony a abra̤ou.
_ Fica comigo? – ela olhou-o no fundo dos olhos azuis.
_ Eu estou aqui, não estou?
_ Não, Mi. Eu quero dizer… – ele ficou com as orelhas vermelhas. – Não é para… você sabe… mas eu quero dormir com você.
_ Ah! РHermione abaixou os olhos corada. РE os seus irṃos?
_ Juro que não faço nada demais. – ele deu um leve sorriso. – só quero ficar abraçado com você.
_ Tá bem.
_ Eu te amo. – deu um pequeno beijo na namorada. – Mas esfregar minhas costas, nem pensar?
_ Rony! Francamente. – mas o sorriso cúmplice que surgiu nos lábios da garota discordava da repreensão feita.
_ Dessa vez você escapou, mas não vai ter tanta sorte da próxima vez, viu?
Quando Rony saiu do banheiro, poucos minutos depois, encontrou Fred, Carlinhos e George sentados numa cama, esperando-o. Olhou-os com curiosidade e perguntou.
_ Mamãe acordou?
_ Não. Ainda estão dormindo, mas Gina ainda está lá. – Carlinhos respondeu antes de bocejar
_ Viemos tomar um banho e dormir. Qual dessas ̩ sua cama? Рperguntou Fred.
_ Normalmente eu durmo na do meio, mas podem ficar, hoje eu vou dormir com a Mione.
_ Ahm? Рos tr̻s irṃos exclamaram espantados.
Como que a confirmar as palavras de Rony, Hermione abriu a porta um pouco e colocando a cabeça para dentro do quarto, perguntou.
_ Já terminou o banho, Ron?
_ Já. Boa noite pessoal. Qualquer coisa me chamem.
——-
_ O que foi, Sirius? – Harry perguntou assim que entrou no escritório e o padrinho fechou a porta.
_ Capturei Snape. – o homem falou de uma vez.
_ O QUÊ?
_ Durante a batalha, capturei Snape. Ele agora está em Azkaban e deve ser interrogado dentro de poucos dias.
_ Certo. – o rapaz falou, abatido.
_ O que houve, Harry? Pensei que depois de tudo ia gostar dessa notícia.
_ Eu também pensei que gostaria de saber que aquele verme estava preso, mas…
_ Mas? РHarry abaixou a cabe̤a, apoiando-a nos bra̤os.
_ Eu acho que preferia que ele tivesse morto. – disse num fio de voz.
_ Não diga isso, Harry. Nós sabemos que você não é assim.
_ Eu não era assim. – levantou a cabeça para olhar para o padrinho à sua frente. -Acho que agora sou… Tenho que ser, afinal.
_ Harry… – Sirius começou, mas foi interrompido.
_ Ele já disse alguma coisa?
_ Nada. Vamos ter que usar veritasserum com ele. – Harry soltou uma risada nervosa que intrigou Sirius. – O que foi?
_ Nunca imaginei, nesses últimos sete anos, que eu iria preferir alguma coisa feita à moda trouxa…
_ Não entendi.
_ Acho que preferia que ele fosse torturado, sofresse bastante, para dizer a verdade…
_ Os trouxas fazem isso? РSirius perguntou com s̩rias d̼vidas.
_ Oficialmente não, mas em filmes…
_ Você só está cheio de raiva, de rancor.
_ Eu o odeio.
_ Eu também, mas não vou me rebaixar ao nível deles e começar a torturar e matar quando me der vontade.
_ Você tem razão.
_ Eu sempre tenho razão. – forçou o rapaz a se levantar e segurou-o pelos ombros. – Agora você vai lá em cima, vai tomar um banho, comer alguma coisa e descansar, porque mais tarde vai ter uma ruiva pra cuidar e precisa ter forças para isso.
_ Ok. Рos olhos verdes de harry se fixaram, ̼midos, em Sirius.
_ O que foi? – perguntou preocupado.
_ Acho… que se meu pai estivesse aqui… ele falaria exatamente isso. – Sirius abraçou fortemente o afilhado e disse.
_ Você é um filho para mim. Eu realmente me sinto como seu pai.
——
Já era tarde da noite quando Gina finalmente saiu do lado da cabeceira dos pais, entrou no quarto silenciosamente para não acordar Rony e Hermione que dormiam abraçados na cama da garota. O irmão tinha ficado quase tanto tempo quanto ela junto dos pais, só saindo pouco menos de uma hora antes dela, quando Hermione o convencera a descansar. Era outro que estava precisando e ela sabia que não havia lugar melhor para isso, para ele, do que com Hermione. Pensou em procurar Harry, mas imaginou que seus irmãos iam ter um chilique se a vissem no quarto, e ela não estava com disposição para nada. Tomou um banho que relaxou seu corpo, mas infelizmente não a sua mente. Mesmo cansada sabia que não iria conseguir dormir. Ainda não tinha assimilado corretamente a dolorosa verdade da morte de seu irmão. Sofria pelo irmão que tinha se afastado da família durante tanto tempo. Sentia muito pelos pais, que apesar de terem mais seis filhos, sofriam demais com a perda repentina e precoce. Sofria por ela que não pudera conversar uma última vez com seu irmão “careta”, sofria por tudo. Desistiu de tentar dormir, até porque só Hermione mesmo para conseguir faz~e-lo com os roncos produzidos por Rony, e resolveu descer.
Fechou a porta com cuidado atrás de si quando saiu do quarto e desceu. Na verdade, tinha desejado tanto vê-lo que não se assustou ao se deparar com um par de olhos verdes fixos nela, assim que entrou na sala.
_ Você devia estar dormindo, Harry.
_ Você também.
_ Estava com a cabeça cheia demais para dormir.
_ Eu imaginei, por isso fiquei esperando. – estendeu a mão para ela. – Vem cá. – ela se aproximou e ele abraçou-a.
_ Eu… não… eu… – as lágrimas finalmente começaram a surgir nos olhos castanhos.
_ Shshshsh…. Deixe-me cuidar de você. – aninhou-a no seu colo, acariciando gentilmente suas costas, enquanto sentia as lágrimas, que desciam pelo rosto da ruiva, molhando sua camisa.
Gina se deixou ficar nos braços de Harry, sentindo-se confortada. Aos poucos a tristeza foi diminuindo até que se tornou algo mais suportável, e acabou dormindo junto com o moreno, que apenas procurou acomodá-los melhor no sofá antes de também adormecer.
—-
Gina não podia se mexer direito. Algo impedia que ela se virasse, mas o que a acordou mesmo foi a voz de Gui chamando:
_ Gina.
Abriu os olhos e piscou fortemente antes de seu cérebro lembrar que estavam na casa de praia, depois do funeral de Percy e que provavelmente tinha adormecido, junto com Harry, no sofá. Controlou o rubor que ameaçava surgir em seu rosto, tirou o braço de Harry de sua cintura, o que acabou por acordá-lo, e perguntou enquanto se sentava.
_ O que foi, Gui? – pela pouca claridade ela percebeu que tinha acabado de amanhecer.
_ Você guardou a poção calmante? Já está na hora de dar à mamãe, mas eu não encontro.
_ A poção… – refez seus passos na noite anterior. – Lembrei! Está no armário do banheiro. Deixa que eu dou a poção para ela. Só vou lavar o rosto. – deu um beijo leve em Harry que sentara ao seu lado. – Eu…
_ Vai cuidar da sua mãe, Gi. Mais tarde eu levo uma bandeja de café para você, ok?
_ Obrigada, Harry. – ela segurou na mão do moreno, olhou-o nos olhos e ele soube que não estava agradecendo só pelo gesto de gentileza.
Harry beijou a mão da namorada e depois a viu subindo as escadas, seu monstro interior inacreditavelmente calmo frente à visão da ruiva vestida apenas com uma camisola um tanto curta. Esfregou os olhos e percebeu que Gui ainda estava parado à sua frente. Pensou que talvez ele estivesse esperando algum tipo de explicação, então Harry decidiu que, daquela vez, não iria criar caso com a superproteção dos cunhados e começou a se explicar.
_ Gui, eu e a Gi… nós, bem… nós não…
_ Relaxa, cara. Está sendo difícil para todos nós. E eu bem sei o quanto foi fundamental estar com a Fleur ao meu lado nesse momento.
_ Ah, sim… certo. – fez um movimento para se levantar, mas o cunhado o interrompeu.
_ Voc̻ ainda ṇo contou a ela, ṇo ̩? Рele tinha imaginado quando iriam tocar nesse assunto.
_ Não. Tinha deixado para contar depois que ela terminasse os NOM’s, mas aí aconteceu o ataque, e o Percy… acho que vou esperar que a Ordem verifique essa história primeiro… Pode não dar em nada, não é mesmo?
_ Você acredita mesmo nisso?
_ Ṇo. Рdeu um riso nervoso. РAgora eu tenho uma leve id̩ia do que Dumbledore sentia quando insistia em ṇo me contar toda a verdade.
Gui deu umas palmadinhas no ombro de Harry que tinha o semblante preocupado. Sabia que sua irmã, quando descobrisse sobre o seu envolvimento com a história da horcrux, cobraria por não ter sido avisada imediatamente, iria ficar furiosa e o seu primeiro alvo seria o moreno de olhos verdes sentado a sua frente.
Harry imaginou que seu cunhado não poderia ter lembrado de assunto pior. Ter que esconder qualquer coisa de Gina era horrível, e sendo um assunto grave como a descoberta da horcrux, ele se sentia torturado dia e noite, desde a reunião da Ordem da Fênix. Sempre que estava com ela sua consciência o lembrava que estava lhe escondendo a verdade. Ele detestava quando o protegiam daquele jeito, mas estava fazendo a mesma coisa com ela. Ficava dizendo a si próprio que estava apenas aguardando uma oportunidade mais adequada e sabia que esse adiamento não iria se prolongar tanto assim. Principalmente porque não conseguia ficar com ela sem que tivesse a impressão de que apareciam pústulas no seu rosto formando a palavra hipócrita, o que o deixava bastante constrangido e desconfortável, e ele tinha certeza de que Gina iria acabar percebendo.
No final do dia de domingo Harry, Hermione, Gui, Rony e Gina, voltaram à Hogwarts, sob a promessa da senhora Weasley de que já estava melhor na medida do possível e que eles não precisavam ficar com ela, mas se mandassem algumas corujas ela ia ficar muito feliz. Chegaram na hora do jantar, mas permaneceram no Salão Principal pouquíssimo tempo. Não sentiam fome e não suportavam mais receber condolências de pessoas que nem mesmo conheciam Percy. Sob os olhares atentos de todos, encaminharam-se para a Torre da Grifinória onde ficaram durante algum tempo no salão comunal. Harry e Hermione tentaram iniciar uma conversa mas foi em vão, os irmãos não ajudavam. Quando as pessoas começaram a voltar do jantar, Gina decidiu que já estava na hora de dormir e depois de se despedir de todos e de prometer ao namorado estar melhor no dia seguinte, se recolheu, logo sendo imitada pelos outros.

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