quinta-feira, 25 de outubro de 2012

27. Sangue Ruim


Lupin acordou assustado com as batidas insistentes na porta. Tonks se mexeu ao seu lado e começou a reclamar com o rosto no travesseiro.
- Será que a gente não pode mais nem dormir sossegada? – Ia levantar para colocar a camiseta das Esquisitonas que estava caída ao pé da cama, mas teve que se cobrir rapidamente ao ver a porta ser aberta num rompante.
- SIRIUS!? – o casal gritou ao mesmo tempo, mas Lupin seguiu perguntando.
- Mas o que você quer há essa hora?
- Aluado, você não vai acreditar! Eu achei a taça!
- O que? РTonks largou subitamente o len̤ol que segurava fazendo Sirius arregalar os olhos e Lupin cobri-la prontamente.
- Nymphadora! – Remus virou-se para o amigo com o semblante sério. – Sirius será que dava pra você esperar cinco minutos?
- Qual é, Aluado! Eu dividia o dormitório com você, esqueceu? Já te vi de cuecas. – Falou incrédulo.
- Mas eu não vou me trocar na sua frente priminho! – Tonks respondeu sarcástica.
- Oh, claro. Desculpa! – Sirius virou de frente para a porta. – Como ia dizendo, eu estava lá na festa aí…
- Sirius Black! Será que dava pra você esperar esses cinco minutos lá embaixo?
- Tá bom, mas vê se não vão ficar aí namorando porque eu quero contar toda história logo. – Saiu em direção à escada nem se importando em fechar a porta ao passar.
- Mas… mas… argh! – Lupin estava aparvalhado com a atitude do amigo.
Tonks começou a rir ao ver a expressão emburrada do namorado ao se levantar e fechar a porta. Às vezes o primo parecia uma criança e aparentemente essa era uma das vezes. Deu um beijo carinhoso nos lábios de Lupin que sorriu involuntariamente.
—-
Quinze minutos depois, quando Remus e Nymphadora desceram até a sala, ainda encontraram um eufórico Sirius comemorando seu achado de um jeito tão entusiástico que Lupin só se lembrava de ter visto quando o amigo beijara pela primeira vez.
- Vocês não podem afirmar com certeza. – A voz grave e autoritária de Moody sobressaiu ao burburinho e só então o casal o avistou sentado a um canto.
- Por isso mesmo não fizemos nada antes de avisar à Ordem! – Carlinhos disse calmamente.
-O que aconteceu afinal para voc̻ invadir meu quarto daquele jeito? РRemus se aproximou de Sirius e perguntou.
-Aluado meu amigo! РSegurou o amigo pelos ombros e com um enorme sorriso completou. РEu, Sirius Black primeiro e ̼nico, encontrei a ta̤a de Hufflepuff!
- Como? Você não ia naquela festa chique? – Tonks perguntou se sentando ao lado de Molly no sofá.
- Foi lá mesmo! – Sirius soltou Lupin e virou-se para as outras pessoas na sala. – A família da Trícia tem uma coleção de variados objetos mágicos que a avó dela começou. A taça foi uma de suas últimas aquisições.
- Trícia? – Lupin percebeu o jeito informal com que o amigo tinha falado e trocando um olhar significativo com Tonks que conteve um sorriso, perguntou.
- É. Trícia Holland. A filha dos anfitriões.
- A mo̤a do batom vermelho. РNymphadora concluiu com uma piscada.
- Ahm? Sim… Mas como… – Sirius estava intrigado em saber como Tonks poderia saber sobre a cor do batom que Trícia estivera usando.
- Simples. Tem uma marca de batom na sua gola. – Sirius levantou a sobrancelha mas antes que pudesse falar qualquer coisa Arthur voltou a conversa para o tema principal fazendo o assunto mancha de batom ficar esquecido..
- Mas será que essa taça é realmente a que a gente procura?
- Essa tamb̩m ̩ a minha d̼vida. РCompletou Moody.
- Bom, a gente pensou que o Harry poderia identificá-lo e Moody verificar o nível de magia que a taça tem. – Carlinhos concluiu se aproximando de Sirius.
- Será que devemos mesmo incomodar o Harry com isso? – Molly falou preocupada.
- Acredite Molly, o Harry faz questão de ser incomodado. Na verdade acho que ele não gostaria nada de saber que tentaram deixá-lo de fora. – Completou Sirius na eterna discussão com Molly sobre quem sabia o que era melhor para Harry, fazendo com que a senhora começasse a ficar vermelha de raiva.
- Mas… – Molly ia replicar mas Arthur preferiu interromper antes que aquilo se tornasse mais uma das intermináveis discussões entre os dois.
- Então vocês vão até Hogwarts falar com ele.
- E se Minerva autorizar a gente vai em seguida até a casa dos Holland verificar.
- Quanto a isso não deve ter nenhum problema. – Lupin sentou-se no braço do sofá ao lado de Tonks. – Foi uma das condições para que Harry voltasse à escola: poder sair para resolver algo relativo às horcruxes.
- Eu ṇo sabia desse acordo! РExclamou Molly indignada.
- Nem eu. – Ao contrário, Sirius parecia orgulhoso da atitude do afilhado, o que fez a sra. Weasley bufar. – Então está perfeito! Eu vou agora tomar um banho e me trocar, depois a gente vai.
Depois que Sirius foi se arrumar, os demais foram tomar o café da manhã que a sra. Longbotton havia mandado preparar. Quando este desceu, engoliu algumas torradas com suco e em seguida junto com Lupin e Moody rumaram para Hogwarts.
——–
Hermione não podia acreditar em toda aquela comoção que se espalhava pela escola. Era realmente incrível que quase nenhum dos alunos ainda tinha se dado conta do alinhamento dos planetas previsto para dali a duas semanas. Eles tinham previsto o acontecimento durante as aulas de astronomia do quinto ano, mas parecia que somente ela tinha prestado atenção no assunto. Quanta novidade! Chegava a ser engraçado o modo como Lilá e Parvati, que agora se contentavam com as aulas de Firenze, aparentavam ter feito a descoberta do século quando contaram a “novidade” no meio do salão comunal, descrevendo a formação que se assemelhava a letra V e que, “segundo as sábias orientações do belo centauro”, significavam uma iminente mudança na ordem das forças. Para Hermione o tal alinhamento dos planetas só significava aumento do trabalho de monitoria da torre de astronomia no dia em questão. Mas para muitos significava que dessa vez não seria a grifinória a ganhar a taça das casas, ou que os Cannons iam finalmente vencer o campeonato (Acorda, Rony!). Para Lilá aparentemente significava que um ruivo ia voltar a cruzar o seu caminho, ou pelo menos foi isso que ela disse quando percebeu que Hermione entrava no dormitório na noite anterior. Reprimiu um riso sarcástico ao ouvir novamente o comentário das duas garotas durante o almoço na segunda-feira.
- Mas o que tem de tão importante nesse alinhamento afinal? – Perguntou Harry ao ver a amiga girar os olhos para os comentários de Lilá.
- Esse tipo de alinhamento é extremamente raro e de acordo com alguns livros promove a congruência de energias.
Harry olhou para Rony que parecia tão confuso quanto ele, mesmo depois da explicação de Hermione e decidiu que fosse qual fosse o resultado prático do posicionamento incomum dos planetas, pelo menos tinha servido para que a maioria dos alunos se esquecesse de fazer piadinhas sobre seu pedido de desculpas no final do jogo do último sábado.
Rony ainda formulava uma série de prováveis acontecimentos que poderiam decorrer do tal fenômeno astronômico, dentre estes a obtenção de Os em todas as matérias nos NIEM’s, quando Harry sentiu Gina lhe chamando a atenção para a entrada do salão.
- Harry, olhe. É o Sirius. – Um grande sorriso surgiu no rosto de Harry evidenciando a felicidade de ver seu padrinho.
- Olá garotos! Como estão? – Colocou as mãos nos ombros do afilhado e sorriu.
Após cumprimentar todos, inclusive Luna que saíra da mesa da Corvinal só pra isso e depois se sentou ao lado de Neville, Sirius pediu para falar a sós com Harry que depois de trocar um sorriso com os amigos, devido à evidente animação do homem, seguiu-o até a porta do salão principal.
- Essa anima̤̣o toda tamb̩m ̩ por conta do alinhamento dos planetas? РGracejou Harry.
- Ahm? Ṇo! РSirius olhou-o incerto, por̩m animado. РHarry, voc̻ nem vai acreditar! Achei a ta̤a de Hufflepuff!
Harry que até então estava se sentindo contagiado pela animação demonstrada pelo padrinho sentiu seu ânimo diminuir consideravelmente. Foi com esforço que conseguiu perguntar.
- Tem certeza?
- É aí que você entra. – Sem perceber o desânimo do afilhado, Sirius passou um braço por seu ombro e continuou empolgado. – Eu vim até aqui te buscar para irmos até o local onde a taça está, para que você possa verificar.
Harry respirou fundo e olhou para Gina. Ela era seu motivo para lutar e para sobreviver, era seu porto seguro e sua fonte de felicidade e a taça de Hufflepuff era o último obstáculo a ser superado para que pudessem realmente ser felizes. Isso se ele conseguisse derrotar Voldemort. De qualquer forma depois que destruíssem a taça ia faltar pouco para a situação se definir, e ele esperava estar vivo para saber que rumo a história ia tomar. Virou-se novamente para Sirius e num consentimento triste falou.
- Ok, então vamos.
Sirius e Harry subiram rapidamente as escadas rumo à torre da grifinória. Enquanto Black conversava animadamente com a Velha Gorda, e Harry podia jurar que o tinha ouvido pedindo desculpas por tê-la atacado depois da sua fuga de Azkaban, o rapaz trocou rapidamente de roupa, pois como tinha dito o padrinho ele chamaria muita atenção com as vestes de Hogwarts e plena Londres trouxa. Depois de já arrumado foi ao encontro de Lupin e Moody que os esperavam na sala da diretora. Sabia que deveria avisar Gina sobre sua saída, mas tinha dúvidas se conseguiria deixá-la se o fizesse, então apenas partiu, sem olhar para trás.
——–
Gina estava cada vez mais preocupada. Harry saíra na hora do almoço e não voltara mais. Tentou saber alguma coisa com Gui depois da aula de DCAT, mas o irmão também não estava sabendo de nada sobre a visita de Sirius à escola. O que a deixou mais preocupada foi a expressão que vislumbrou no rosto de Harry enquanto este conversava com o padrinho. Ele no início estava alegre, contudo em algum momento pôde perceber esse sentimento dando lugar a um misto de aflição e tristeza no rosto dele. E depois ele tinha sumido. Com sorte quando chegasse no salão comunal Harry a estaria esperando.
Atravessou os corredores praticamente correndo quando a última aula acabou. Um aperto em seu peito dizia que algo tinha acontecido. Quando entrou na torre da casa dos leões, percebeu que nenhum integrante do trio estava presente, mas sabia que Neville, que no momento estava sentado em frente à lareira, poderia ter alguma informação, sobre eles. Jogou o material no chão perto do sofá e perguntou abruptamente.
- Neville, você viu o Harry?
- Ah, oi Gina. Ṇo. Ele ṇo participou da aula de herbologia, mas eu ṇo fa̤o Transfigura̤̣o, enṭo voc̻ tem que perguntar pra outra pessoa. РGina olhou-o desconsolada.
- Tudo bem, obrigada.
- Olhe, Hermione e Rony esṭo entrando, eles devem saber de mais alguma coisa. РO rapaz avisou ao ver os amigos adentrarem o saḷo.
- É, eu vou perguntar pra eles.
Gina pegou a mochila no chão e tacou-a nas costas, indo rapidamente em direção ao irmão e Hermione que agora a olhavam de um jeito que a fazia se sentir ainda pior. Definitivamente algo tinha acontecido.
- O que aconteceu?
- Nada, Gi. Pelo menos ainda. РRony se aproximou e segurando a irṃ pelo cotovelo a levou at̩ a mesa que costumavam ficar no canto do saḷo.
- Onde está Harry? – Seu coração batia descontrolado de preocupação.
- Ṇo sabemos direito. РHermione disse numa calma controlada. РSirius achou a ta̤a.
- A taça? – ela olhou do irmão para a cunhada, incrédula. – Vocês querem dizer a taça…?
- Isso mesmo. РGina afundou na cadeira e segurou o rosto com as ṃos, pensativa.
- Nós ficamos preocupados quando Harry não voltou da conversa com Sirius e então decidimos perguntar para a diretora McGonagall quando terminou a aula de Transfiguração. – Rony explicou, sentando-se de frente para a irmã.
- Ela nos disse que Sirius tinha encontrado a ta̤a de Hufflepuff e que precisavam do Harry para poderem ter certeza de que ̩ realmente a ta̤a que procuramos. РHermione completou.
- Merlin. A gente ṇo pode ter um pouco de descanso, ṇo ̩? РGina concluiu desanimada. РE ele volta quando?
- Não sabemos.
Definitivamente foi uma noite péssima para Gina, Rony e Hermione. Eles aguardaram pacientemente a volta de Harry até depois do jantar. Parecia que a preocupação também era evidente no rosto dos professores e Rony podia jurar que vira um sorriso condescendente de Hagrid para eles. Quando voltaram para o salão comunal Gina teve que ficar sozinha para que os outros dois fossem cumprir suas obrigações da monitoria, mas tão logo eles terminaram, retornaram rapidamente para junto de Gina e ficaram a espera de notícias. A madrugada já tinha começado quando desistiram de esperar e foram para os dormitórios tentar descansar um pouco, coisa que parecia ser impossível.
——
Quando Harry, Lupin, Sirius e Moody chegaram em frente à casa dos Holland foram prontamente recebidos por Trícia e sua mãe que os aguardavam. Lupin e Harry se entreolharam divertidos ao perceberem Sirius se aproximar todo sorrisos até a moça, cumprimentando-a cheio de atenções e depois os apresentando a elas. A sra. Holland conduziu-os até uma espécie de escritório e assim que todos se acomodaram tratou de questionar.
- A minha filha me contou que os senhores têm interesse na taça de Hufflepuff?
- Se for realmente o objeto que procuramos, sim. – Sirius tomou a dianteira na conversa.
- Claro. Venham verificar.
A senhora Holland levou-os até um cômodo com diversas estantes e se aproximou da mesma onde Sirius tinha visto a taça na noite anterior, retirou de lá a redoma de vidro que guardava o belo objeto e depositou-a na mesa que agora ocupava o centro da sala, deixando que os homens pudessem apreciá-la mais de perto.
Harry, que vinha logo atrás do padrinho estancou assim que conseguiu pôr os olhos na taça, reconhecendo-a de imediato como sendo a mesma que vira na penseira junto com Dumbledore. Moody se aproximou e agora tanto seu olho natural quanto o mágico focalizavam o objeto enquanto murmurava feitiços.
- E então? – Trícia que acompanhava todos os movimentos deles com curiosidade, perguntou.
Harry olhou de Lupin para Sirius e sentindo um misto de satisfação e decepção que não o abandonava desde que o padrinho lhe informara sobre a descoberta da taça, apenas assentiu com a cabeça.
- O nível de magia é exatamente aquele que procuramos. – Olho-Tonto concluiu.
- Sra. Holland, eu gostaria de comprar esta taça. – Sirius foi direto.
- Ahm? – Tanto Trícia quanto a mãe o olharam espantadas, fazendo com que o homem tentasse explicar.
- O fato é que nós precisamos muito dessa taça e por isso me disponho a comprá-la.
- Deixa eu ver se entendi. – Trícia olhava incrédula para a redoma sobre a mesa. – Você quer comprar essa velha taça amaldiçoada?
- Isso mesmo. – Sirius respondeu.
A sra. Holland observou atentamente os homens à sua frente e depois a taça que sua mãe havia adquirido antes de morrer. Nunca fora realmente apegada àqueles objetos e a taça em questão nunca a agradara, principalmente por ser um objeto amaldiçoado. Lembrava-se até que fora contra a compra, mas sua mãe ficara fascinada com a possibilidade de ter um objeto de um dos fundadores da Escola de Magia inglesa.
- Sr. Black, as nossas famílias mantiveram laços de amizade durante muitos anos, e acredito que minha mãe não se oporia se resolvêssemos emprestá-la a vocês.
- Infelizmente se a maldição for realmente a que estamos pensando, sra. Holland, é muito provável que a taça possa vir a ser destruída. – Lupin explicou de seu jeito calmo.
- Oh, entendo. – A senhora não imaginava o tipo de maldição que pudesse existir naquele objeto e pelo visto deveria ser algo bem grave.
- Estou disposto a pagar a quantia que a senhora pedir. – Sirius disse sério, fazendo com que Trícia que apenas observava a cena, se aproximasse e tocando seu braço enquanto olhava-o diretamente, perguntou preocupada.
- É tão perigoso assim? – Ele passou as costas da mão pela pele macia do rosto dela ao responder.
- Chega ao ponto de ser uma situação de vida ou morte.
Depois de alguns momentos em que apenas a declaração de Sirius era absorvida pelas pessoas na sala, a sra Holland se decidiu sobre o que fazer, principalmente ao perceber o carinho existente entre o casal ao seu lado.
- Certo. Por mim a taça de Hufflepuff é dos senhores, mas como essa coleção é uma herança de família, Trícia ficará encarregada de estipular o preço por ela. – Piscou para a filha que apenas esboçou um sorriso.
- Muito obrigado, sra. Holland. A senhora não faz idéia da boa ação que acabou de fazer.
- Por nada. Só espero que tomem cuidado. Agora com licença senhores que depois da festa da noite de ontem ainda tenho que terminar de organizar umas coisas.
Os homens se despediram da senhora e Trícia depositou um beijo carinhoso na face de sua mãe. Quando olhou novamente para Sirius este se aproximou e pôde notar um sorriso faceiro se formando no belo rosto da loira.
- Quanto você vai querer pela taça? – Segurou-a pelo braço, acariciando-o com o polegar.
- A gente pode conversar sobre o preço enquanto seus amigos se preparam para levá-la… – Levantou uma das sobrancelhas fazendo-o sorrir maroto.
- Rapazes, eu vou até o escritório resolver o pagamento. – Falou alto sem se virar, ainda hipnotizado pelos olhos verdes que brilhavam. – Já volto. Nesse meio tempo, podem se preparar para levarmos essa “belezinha” embora.
Atônitos com o jeito de Sirius, os três apenas se entreolharam, mas assim que o casal sumiu pela porta, Lupin e Harry sorriram. Definitivamente Sirius parecia ter sido irremediavelmente fisgado. Ainda rindo, Lupin retirou de dentro de suas vestes um grande pedaço de couro de dragão e envolveu a redoma, sendo seguido por Moody que fez uma série de feitiços de proteção.
Harry se limitava a olhar. Ficara feliz de perceber que aos poucos a vida de seu padrinho ia entrando nos eixos, mas um sentimento desagradável de que uma tempestade se formava no horizonte embaçava toda a alegria. Lupin se aproximou e após observar o rapaz atentamente perguntou:
- O que houve, Harry?
- Nada.
- Se você não quiser conversar, eu vou respeitar sua decisão, mas eu conheço você o suficiente para saber que algo o incomoda, e nem preciso de legilimência pra isso.
Harry deu um meio sorriso e se aproximou da janela. Talvez fosse uma boa hora pra dizer a ele que sua cicatriz começara novamente a formigar. Ou não, já que era bem provável que o formigamento se devesse ao fato de estar tão próximo de uma horcrux. Resolveu contar meia verdade e esperar que Lupin acreditasse.
- Falta pouco agora, não é? Tenho medo de não estar preparado.
- Ajuda se eu disser que você está cada vez melhor? – O rapaz o olhou e sorriu amarelo.
- Eu só queria não ter que me preocupar. Ficar sem saber o que vai acontecer, e principalmente quando vai acontecer, está me enlouquecendo.
Lupin queria poder terminar com a angústia do filho de seu amigo, mas nem ele mesmo tinha uma resposta para aquelas dúvidas, então se limitou a confortá-lo segurando em seu ombro, num gesto de amizade. Sirius chamou-os da entrada da sala, informando, com um sorriso maroto que já podiam ir. Moody, Lupin e Harry se despediram formalmente da moça e rumaram para os jardins. Sirius depositou um beijo suave nos lábios dela e após uma carícia em seu rosto, os seguiu.
Enquanto Olho-Tonto ia na frente informando que deveriam passar a noite na sede da Ordem para evitar serem pegos de surpresa nos arredores de Hogsmead ao anoitecer, Harry se aproximou do padrinho e perguntou, um pouco antes de chegarem no local onde iriam aparatar.
- Ela cobrou um preço muito alto pela taça?
Sirius olhou para o afilhado e com um belo sorriso, seguido de sua risada rouca respondeu, antes de sumir aparatando.
- Um jantar a dois essa noite.
——–
Harry e Lupin entraram pelos portões de Hogwarts na manhã seguinte, carregando um estranho embrulho e mesmo não entrando no salão principal, foram imediatamente percebidos por Gina, Rony e Hermione que já estavam sentados na mesa da grifinória tomando o café, apesar de ser ainda muito cedo. Os três não tinham conseguido dormir, preocupados com a falta de notícias e tão logo o viram, foram ao seu encontro.
- O que houve? – Perguntou Gina evidentemente preocupada.
- Vamos lá pra sala da diretora que a gente explica melhor. – Lupin falou se adiantando em direção às escadas.
Gina se aproximou de Harry que a abraçou imediatamente, beijando os cabelos cor de fogo com carinho. Ainda não tinha idéia de como pudera ser tão estúpido ao ponto de achar que conseguiria ficar longe dela
- Ficamos preocupados, cara. – Rony falou enquanto eles seguiam Lupin.
- Não explicaram pra vocês o que a gente foi fazer? – perguntou curioso.
- Explicaram, mas não é a mesma coisa que estar com você, não é? – Hermione concluiu. – E ai? Vocês conseguiram?
- Conseguimos. – Apontou para o embrulho que Lupin carregava.
Aproveitaram que Lupin já tinha aberto a passagem para a escada em espiral e seguiram para a sala de McGonagall. Quando entraram Remus já estava retirando o couro de dragão que recobria a redoma, deixando que todos pudessem observar melhor a taça de Hufflepuff.
Haviam se passado apenas alguns poucos minutos até que o professor Flitwich entrou junto com Gui e cumprimentou os demais. Se certificando que não haveria perigo, Lupin e o professor de feitiços abriram a redoma e tentaram alcançar a taça dentro desta mas uma espécie de barreira os impedia de se aproximarem. O pequeno professor quebrou então o vidro que circundava o objeto e fez com que os cacos desaparecessem com um aceno de varinha. Porém ainda não conseguiam tocar no pequeno cálice. Gui tentou tocar com a varinha, mas esta além de sequer tocá-la ainda soltou fortes faíscas que começaram a incendiar a toalha da mesa. A diretora se aproximou e apagou o fogo, reparando a toalha rapidamente. Harry lembrou-se das luvas de couro de dragão que ganhara de aniversário de Remus e Tonks e através de um feitiço convocatório fez com que estas aparecessem voando minutos depois.
- Deixe-me tentar.
Harry calçou as luvas e se aproximou. Ao chegar a alguns milímetros da taça sentiu como se uma descarga elétrica atravessasse seu corpo o que ele imaginou ter deixado seus cabelos ainda mais arrepiados. Enquanto Gina ia ao encontro de Harry ver se estava tudo bem, Rony ficou apenas olhando para a taça compenetrado.
- E se tentássemos fazer o mesmo que a Gi fez com a pena? – O ruivo falou ainda observando o cálice sobre a mesa.
- É. Talvez dê certo. – Harry falou incerto.
- Não creio que irá funcionar. – Hermione concluiu. – Vejam bem, cada horcrux foi destruída de um jeito diferente, veneno de basilisco, gigante, espada, feitiço…
- Mas não custa tentar, né Mione? – Harry disse já se aproximando da espada. Olhou para a diretora e perguntou. – Posso?
- Eu não sei se seria sensato, mas…
O moreno agradeceu e pegou a espada de Gryffindor. Gina foi afastada do rapaz por Rony que também puxou Hermione para o fundo da sala. Todos sabiam que a energia liberada poderia ser muito grande e não queriam arriscar. Harry piscou para Gi, que apertava as mãos e mordia os lábios torcendo para que tudo ocorresse bem. Harry viu quando a ruiva fechou os olhos ao vê-lo levantar a espada para dar o golpe derradeiro, mas ela os arregalou novamente ao ouvir o baque surdo que reverberou no recinto quando a espada fez contato com a barreira protetora que se instalou novamente ao redor da taça.
Gina aproximou-se rapidamente de Harry que parecia levemente trêmulo devido ao impacto e o abraçou. Não podia negar que estava um pouco aliviada de nada ter acontecido. Mas infelizmente voltaram à estaca zero. Ainda tinham que descobrir como destruir a taça. Harry depositou novamente a espada de Godric em seu lugar e sentou-se desolado em uma cadeira.
- Bom, acho que está na hora de irem para suas classes. – A diretora anuiu.
- Bom, nós temos os primeiros tempos vagos… – Harry falou esperançoso.
- Mas eu tenho que ir. – Gina fez um muxoxo. – Aula de poções.
Minerva fez um gesto resignado enquanto via Gina, Gui e o professor Flitwich se retirarem para suas aulas, ficando à sós com o trio e Lupin. Teria sido bom se Olho-Tonto não estivesse tratando de assuntos relacionados à Ordem nesta manhã, pois certamente toda a ajuda seria muito bem vinda para que pudessem descobrir como destruir a taça.
Depois de muito tempo em que estavam ali apenas olhando Hermione se aproximou da taça e pôs-se a observá-la atentamente. Pensava em como as outras horcruxes tinham sido destruídas e tentava imaginar como aquela poderia ser extinta. Definitivamente seria uma pena acabar com tão bela peça. A taça de Hufflepuff fora feita de uma folha de ouro finíssima, suas asas forjadas de forma tão delicada e com a imagem de um texugo levemente gravada simbolizando a casa de sua procedência. Quase que instintivamente Hermione tocou a borda do objeto, soltando um pequeno grito de dor e surpresa ao sentir seu dedo ser cortado e começar imediatamente a sangrar.
- Hermione! – Rony se aproximou preocupado.
- Está tudo bem. – A garota sorriu embaraçada. – Eu acho.
- Episkey. – O ruivo pegou a mão da namorada e imediatamente murmurou o feitiço curativo.
- Como voc̻ conseguiu tocar na ta̤a? РHarry olhava para a amiga com o cenho franzido de incompreenṣo.
- Eu… Eu não sei. – Hermione olhou novamente para o objeto em cima da mesa, como se isso a ajudasse a compreender a situação. – Estava apenas observando e tentando imaginar como poderíamos acabar com ela e de repente: a toquei. Mas a borda é muito fina e… Não sei…
- Por Merlin, olhem isso! – A voz de Lupin foi ouvida por todos.
- Mas o quê… – Minerva McGonagall não conseguiu esconder sua incredulidade.
- Pelo visto o sangue da Hermione começou a corroer a taça quando a atingiu. – Remus concluiu após pensar por alguns instantes.
- Incrível! – o quadro de Dumbledore se pronunciou atrás de Harry que olhou para a imagem do antigo professor com dúvida. – Claro que de um mau gosto previsível, vindo de Tom Riddle, mas inegavelmente incrível.
- Como assim, Alvo? – A diretora inquiriu.
- Qual é a coisa que Tom mais despreza?
- Os nascidos trouxa. – Respondeu Harry prontamente, temendo que as idéias que começavam a se formar em sua mente se confirmassem.
- Justamente. – Falou simplesmente Dumbledore.
- Quer dizer que o sangue de um nascido trouxa é aquilo que poderá destruir a horcrux? – Hermione perguntou o que Harry tanto temia.
- Provavelmente, se uma nascida trouxa foi a única que conseguiu se aproximar dela, isso sem falar no que acabamos de ver acontecer quando o sangue tocou a superfície da taça. – Lupin respondeu com a expressão gravemente séria.
- É nenhum de nós conseguiu chegar tão perto. – Disse Harry com pesar.
- Contudo não creio que simples gotas do sangue da srta. Granger serão suficientes para acabar com uma magia tão forte. – O quadro de Dumbledore voltou a se manifestar, fazendo com que Rony que até então se mantivera calado, apenas observando, se pronunciasse.
- O que o senhor está querendo dizer?
- O que ele está querendo dizer, Rony, é que é provável que a taça tenha que ser preenchida com “sangue ruim”. – Hermione explicou com uma calma que estava longe de sentir.
- Nem pensar, Hermione. – Rony a segurou pelos ombros num entendimento claro de que sabia exatamente o que ela estava planejando. – Você não vai fazer isso!
- Rony, Nós temos cerca de quatro litros de sangue em nosso corpo e na taça cabem no máximo a medida de um copo normal ou seja, um quarto de litro. – Ela falava com um pequeno sorriso, tentando argumentar, enquanto contornava o rosto dele com a ponta dos dedos. – Vai ser fácil e não vai me fazer falta. Será como uma doação de sangue igual ao que os trouxas costumam fazer.
Rony olhou para as outras pessoas presentes na sala da diretora em busca de apoio para impedir Hermione de fazer o que inevitavelmente a garota estava pensando em fazer.
- Harry, Lupin. – O ruivo os olhava pedindo ajuda.
- Talvez seja nossa única opção, Rony. – Lupin falou tentando acalmá-lo.
Harry se limitou a observar o quanto o chão da sala da diretora brilhava. Não tinha coragem de olhar o amigo nos olhos e confessar que também achava provavelmente Hermione seria a única capaz de destruir aquela horcrux, apesar de estar com uma estranha certeza de que não seria assim tão simples quanto ela falara.
Hermione abraçou Rony e não se importando com a presença das outras pessoas na sala, beijou-o com paixão. Sabia em seu íntimo que se tudo corresse como ela acabava de falar, seria rápido e simples demais e isso não combinava com o jeito de Voldemort fazer as coisas. Passou por Harry e deu um beijo em seu rosto, pela expressão que leu nos olhos verdes ele também achava que algo estava em desacordo. Aproximou-se novamente da taça e pegou-a. Lançou um sorriso fraco para Rony que a observava apreensivo e com um movimento preciso fez um corte em seu pulso com a fina borda do cálice. Mordeu o lábio para impedir que o grito de dor fosse ouvido e corajosamente, como uma boa grifinória, deixou que o sangue escoasse para dentro da horcrux.
Rony se aproximou de Hermione ao perceber a dor que ela havia sentido, mas ao tentar tocá-la a mesma barreira protetora que antes se formava ao redor da taça agora envolvia também a jovem impedindo-o de abraçá-la e confortá-la. O ruivo ficou transtornado e no mesmo instante Harry se aproximou, assim como McGonagall que trazia a preocupação evidente em seu rosto. Hermione abriu um pequeno sorriso que não convencia ninguém e falou.
- Não se preocupe. Eu estou bem.
- Eu vou mandar a Papoula providenciar uma poção revigorante para ela. – A diretora falou ao rumar para a porta. – Volto num instante.
Rony ficou na distância mínima que a barreira deixava e procurava olhar o tempo inteiro para Hermione, como se assim pudesse passar toda força necessária para ela. A garota o olhava com carinho enquanto percebia que apesar do volume de sangue que já havia escorrido para o interior da taça ter sido o suficiente para enchê-la, este ainda se encontrava pela metade.
Harry notou quando o olhar de Hermione parou sobre o conteúdo da taça, fazendo-a ficar com aquele ar preocupado de quando algo não estava saindo exatamente como ela previra, mas depois voltou a se direcionar em Rony junto com um sorriso fraco. Se aproximou do amigo e só então tomou ciência do que ocorria. A taça parecia absorver mais sangue do que o esperado o que significava que Hermione poderia perder mais sangue do que imaginava, ou podia. Olhou para Lupin que aparentemente também acabara de perceber o real perigo que a garota corria. O ex-professor se adiantou para a porta da sala da diretora dizendo simplesmente.
- Vou ver se madame Pomfrey tem alguma poção para reposição de sangue.
- Hermione você tem que parar com isso. – Rony falava sério. – A gente arruma outra pessoa pra fazer, sei lá… outro jeito.
- Eu estou bem, Ron. Eu consigo. – A garota respondeu tentando passar algo que evidentemente não sentia.
- Está bem nada! – O ruivo gritou exasperado. – Já está tão pálida e fraca que dá pra perceber de longe.
Harry notou que realmente Hermione parecia extremamente cansada, seus lábios já se encontravam esbranquiçados e ressecados, sua pele até a pouco corada agora se apresentava bastante pálida e seu corpo começava a tremer ligeiramente. Imaginou que se Rony estivesse sentindo o mesmo pânico que ele ao vê-la – e ele achava que o amigo estava sentindo pelo menos dez vezes mais – este não via a hora de poder tirá-la dali.
- Talvez se tentássemos alguns feitiços, conseguíssemos chegar até ela. – O moreno falou para o amigo que concordou.
Miraram a barreira protetora e disseram simultaneamente:
- Bombarda!
Contudo os feitiços apenas fizeram a barreira vibrar e Hermione reter a respiração como se sentisse ainda mais dor.
- Parem vocês dois. – Falou fraca. – Por favor.
- Mas Mione, você… – Rony aproximou-se o mais que pôde, desesperado.
- Me deixe apenas terminar isso, Ron. – Ela lançou uma tentativa de sorriso. – Até porque acho que não tenho mais nenhuma alternativa, não é mesmo?
- Mi… – Rony murmurou. A dor de ver a pessoa amada sofrendo sem poder fazer nada para ajudá-la corroendo-o cada vez mais. – Eu sei que você vai conseguir.
Hermione sorriu levemente antes de sentir que suas pernas cediam ao súbito cansaço e ela se deixava ajoelhar no chão, sentando em seguida sobre elas. Rony sentiu lágrimas quentes arderem em seus olhos, mas impediu-as de cair. Tinha que passar força para Hermione, não desespero. Acomodou-se de frente para ela e procurou colocar em seu rosto um sorriso confiante.
- Vai acabar tudo bem, você vai ver.
Como que para discordar abertamente das palavras do ruivo, Lupin e McGonagall retornaram à sala com expressões ainda mais preocupadas, informando que a poção ainda demoraria algum tempo para ficar pronta. Hermione pareceu ainda mais exausta e Harry receou que estivesse chegando o momento da garota desistir de lutar contra o torpor que evidentemente a tomava. Sentou-se ao lado de Rony e tentou passar apoio abraçando-o pelos ombros.
- Ei, cadê a garota corajosa que eu conheço? – Harry tentou gracejar, fazendo a amiga olhá-lo com carinho.
- Mi, você não pode desistir. Falta pouco agora. – Rony falava com carinho olhando-a nos olhos e não se importando com uma lágrima que escorreu por sua face. – Eu preciso de você aqui.
Hermione se esforçou para sorrir a despeito de toda a dor que sentia e disse num fio de voz:
- Seu trasgo egoísta.
- Merlin! – A diretora exclamou apreensiva.
A taça agora quase completa de sangue, emitia um brilho que a cada segundo se tornava mais forte fazendo com que ficasse extremamente difícil olhá-la diretamente. Mas mesmo assim Rony e Hermione ainda se olhavam nos olhos, como se a forte luz não os incomodasse.
Quando o volume de sangue atingiu a borda do pequeno cálice e começou a transbordá-lo, a luz se intensificou de tal forma que nem mesmo o casal conseguiu manter os olhos abertos e então a taça de Hufflepuff explodiu fazendo com que a barreira se desfizesse.
Rony imediatamente se aproximou de Hermione que parecia ainda mais fraca, pois além de ter perdido muito sangue havia sido atingida diretamente pela explosão e agora seu corpo estava repleto de pequenos cortes devido aos estilhaços. Segurou-a pelos braços e aconchegou-a em seu peito com o rosto agora coberto de lágrimas que ele não mais impedia.
- Hermione, fala comigo. – Murmurou desesperado. – Eu não disse que você conseguiria? – Beijou-lhe os cabelos castanhos. – Você é a bruxa mais corajosa que eu conheço. Fala comigo.
Harry parecia paralisado de choque ao ver o estado de sua amiga, mas sentiu um certo alívio quando a viu abrir um pouco os olhos na direção de Rony.
- Ron… – A voz de Hermione era praticamente inaudível.
- Graças a Merlin! – Beijou-lhe os lábios suavemente e completou num sussurro. – Eu te amo, Hermione.
A garota tentou sorrir nos braços do amado, fez um grande esforço para tocar em seu rosto e secou algumas lágrimas antes de completar ainda num fio de voz.
- Eu… também… te… a…
- HERMIONE!
Rony sentiu seu coração apertar ainda mais ao perceber o corpo de Hermione amolecer em seus braços quando ela desfaleceu. Num desespero cada vez maior não conseguia perceber sua respiração. O sacrifício fora grande demais.

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